Thursday, June 30, 2011

A Madeira é um jardim…

Corria o ano de 1982 quando visitei a ilha da Madeira pela primeira vez. Era adolescente praí com 17anos e aquela viagem teve para mim um significado muito especial. Para a merecer havia trabalhado afincadamente durante todo o verão no estabelecimento comercial dos meus pais. Chegado ao fim do verão e antes do início das aulas, aquela foi a forma simpática, merecida e exigida, que escolhi, para uns agradáveis dias de descanso. Lembro-me vagamente do prazer que me deu organizar tudo, começando por convencer os pais (o que não foi difícil dada a minha determinação) fazer a mala, a viagem de avião. Sentia que tinha a liberdade nas mãos. Finalmente era adulto e fruto do meu trabalho iria viajar para onde me apetecesse. Havia no entanto a condição de não viajar sozinho e contas feitas lá arrastei mais dois companheiros, o meu irmão Manuel e o meu amigo Eusébio. Mas eu tinha em mim que eles só tiveram aquela oportunidade porque eu havia criado as condições, tinha tido a ideia, tinha-me empenhado e íamos andar de avião. Na altura não havia internet e muito menos voos low coast, portanto nós éramos uns privilegiados. Se viajar do alentejo até Lisboa já era um feito, viajar de mala feita para outros destinos não era seguramente uma oportunidade para muitos jovens da aldeia no início dos anos 80. Hoje recordo com carinho esses momentos de aventura e o que representaram para todos nós em termos de percepção do mundo, de liberdade, de oportunidade e de abertura de horizontes. Alojámo-nos no hotel orquídea, um 3 estrelas simpático muito perto do centro do Funchal. As refeições eram feitas à medida do orçamento aproveitando ao máximo as parcas economias para viajar. Como bons turistas a visita a Porto Santo era obrigatória e lá comprámos bilhete de um dia para visitar a ilha dourada após quase 4 longas horas de viagem no barco de então, o pirata azul. Com a descoberta do Porto Santo e após muitos mergulhos na melhor praia das nossas vidas esperava-nos uma infernal viagem de regresso ao Funchal, pois as correntes do oceano atlântico eram implacáveis e o nosso pirata esforçava-se para vencer a ondulação. Recordo-me dos muitos enjoos a bordo e de me ter deitado nos bancos do bar para acalmar o estômago. Do Funchal ficaram as imagens das flores, do sumo de maracujá, do jantar no Casino, do folclore e do bolo de requeijão. Passados perto de 30 anos e após ter revisitado o Porto Santo acerca de 4 anos, voltei ao Funchal. Esta seria uma viagem especial por variadas razões. Para recordar e revisitar uma ilha transformada pelo tempo e pela mão do homem, mas preservada pela força da natureza e por se tratar da viagem inaugural de duas pessoas já martirizadas pelo tempo mas cujo percurso de vida nunca lhes permitiu sequer entrar a bordo de um avião. O alojamento escolhido não poderia ter sido melhor escolha. Tratou-se de um magnífico resort, o Palheiro Village, localizado na encosta para os lados de S. Gonçalo. O empreendimento coordenado pelo sr. Amr Ashour, um simpático e eficiente Egípcio, oferece acomodações luxuosas com apartamentos e villas sumptuosamente decoradas e localizadas sobre a encosta permitindo uma estonteante vista sobre a cidade do Funchal. A arquitetura é simples, harmoniosa e senhorial. Nas villas tudo foi pensado ao pormenor para o conforto absoluto dos clientes. Não foi possível encontrar qualquer falha em relação aos equipamentos fornecidos. A piscina do resort é ampla, cuidadosamente tratada, emoldurada por uma zona de apoio e um deco levantado com espreguiçadeiras onde a vista alcança 180º. Os espaços exteriores estão imaculadamente tratados confundindo-se a sua geométrica organização com as arestas e perfil das diversas villas cuja disposição permite observações pormenorizadas por entre elas, de pequenos recantos de mar azul da cor do céu ou de céu azul da cor do mar, cortados aqui e ali pelo verde da vegetação que cobre toda a encosta. As cores quentes utilizadas na pintura das casas quase permite antever uma disposição melodiosa como se de um teclado se tratasse. Este é de facto o local ideal para se estar e apreciar a Madeira. Chega a ser difícil optar entre sair para um passeio e a tentação de ficar a usufruir daquele precioso luxo. Na propriedade espalhada por vastos hectares pode-se ainda encontrar jardins com espécies exuberantes, um hotel, um spa e um campo de golf de 18 buracos. Nos passeios pela ilha recorremos à ajuda e orientação do guia do american express para não cairmos na tentação de falharmos algum dos top 10 assinalados e imperdíveis. Desta forma decidimo-nos pelo percurso mais longo para o primeiro dia para depois encurtarmos distâncias e aproveitar o conforto do resort. Assim, no primeiro dia, o destino seria Porto Moniz situado no extremo oeste da ilha. A primeira paragem impunha-se em Câmara de Lobos dona da mais fotogénica praia da ilha. O seu nome deve-se aos lobos-marinhos que se estendiam na praia de seixos, hoje utilizada como estaleiro ao ar livre. Depois das fotos e da contemplação das encostas em redor onde predomina a plantação de bananeiras, era tempo de continuar pela estrada regional, de traçado sinuoso, até à Ribeira Brava uma das mais antigas cidades da ilha, hoje produtora de açúcar. A orla marítima está em transformação e junto da praia de seixos nasceu um complexo balnear com piscinas e restaurantes onde miúdos e graúdos se deliciam nos dias quentes de sol. A igreja local é muito bonita e bem cuidada. Nela decorria uma cerimónia de primeira comunhão onde crianças, familiares e turistas partilhavam aquele espaço religioso, com a mesma dedicação com que as suas esculturas de 1440 ornamentavam as paredes daquele local sagrado. Atravessando a ilha no sentido este-oeste pela boca da encumeda que separa a ilha entre norte e sul, chegámos a S. Vicente. O caminho pela encumeada é belo e verde e a paisagem em redor é constituída por majestosos picos de rochedo coberto de verde. S. Vicente é uma localidade costeira no lado norte da encumeada. A paragem aqui é obrigatória pois a beleza da linha de costa a isso obrigado. Daqui alcança-se toda a costa norte quase até Porto Moniz. Aqui e ali avistam-se pequenas formações rochosas solitárias como se fossem filhas da ilha mãe. Virando à esquerda em S .Vicente toma-se a estrada para Porto Moniz situados a pouco mais de 15 km à frente. O percurso é belo, sempre à beira-mar apenas ofuscado pelos inúmeros túneis que agora substituem a antiga estrada regional.
Porto Moniz é a localidade mais a Noroeste da ilha. Aqui come-se divinalmente, aconselhando as tradicionais lapas grelhadas que transportam para a boca os sabores do mar, das algas e da maresia, e o peixe-espada de todos os modos; com banana, grelhado ou à moda de cada local.
As piscinas naturais nas rochas foram transformadas num complexo balnear onde apetece estar no conforto das instalações e nas protegidas águas do mar, onde nadar tem um redobrado sabor quando os salpicos das ondas nos borrifam do lado de cá das rochas. A marginal está toda renovada e aqui podemos encontrar um centro de ciência, numerosos restaurantes e um aquário. Junto do restaurante cachalote encontra-se um divertido e natural percurso por entre as rochas e pequenas lagos deixadas pela maré vazia onde ser podem apreciar algumas espécies de peixes. O local serve de enquadramento para os mais belos cenários fotográficos. A estrada para percorrer a restante orla marítima do oeste encontra-se cortada em Arco de S.Jorge, ainda fruto da última intempérie, pelo que o caminho de regresso teve que ser parte dele repetido, mas depois aproveitado para uma incursão ao interior montanhoso no intuito de alcançar o Curral das Freiras, local assim designado por ser local de esconderijo das religiosas quando a ilha era atacada e saqueada pelos piratas. Para chegar a este lugar da ilha deve ser corajoso e utilizar a estrada regional que contorna o relevo e permite vislumbrar paisagens de grande apoteose. Lá no centro da localidade na casa de artesanato que se oferece aos visitantes podem-se comprar recordações locais e provar o melhor bolo de castanha do mundo e experimente acompanhá-lo com um dos muitos licores disponíveis, humm. Para se alcançar a quota mais alta deve deixar-se a localidade, atravessar o túnel e seguir logo à direita para a Eira do Serrado e para a estalagem. Ali espera-nos uma varanda com uma paisagem de cortar a respiração. O segundo dia foi reservado para visitar locais mais próximos do centro e do leste da ilha. Percorremos a costa leste com a primeira paragem no em Santa Cruz, cidade que alberga o aeroporto mas que mantém uma impressionante calma. O próximo local de interesse foi a localidade de Machico, com a sua impressionante praia de águas calmas e areia dourada. Por detrás do pontão surgem os aviões que pouco atrás deixam a pista para se fazerem aos céus. Na continuação da costa aproveitámos para visitar a imperdível Ponta de São Lourenço. Trata-se de uma longa cadeias de pequenos penhascos e ravinas, onde termina a ilha da Madeira. Deste local de verdadeiro encanto avistam-se as ilhas desertas que fazem parte da mesma formação vulcânica e a costa leste e oeste da ilha da madeira. É uma zona ventosa mas de onde não apetece sair pois a paisagem é de uma beleza deslumbrante. Próximo deste local encontra-se a Prainha, a única e verdadeira praia de toda a ilha. É pequena e de areia escura, mas rodeada de uma bela paisagem. No caminho de regresso fomos de novo à costa oeste para visitar Santana com as suas típicas casas de madeira com telhados de colmo. O último dia ficou reservado para visitar um pouco da cidade do Funchal. A primeira dificuldade foi encontrar lugares de estacionamento para o carro. Existem vários parques mas pelo que conseguimos perceber são privados, aparentemente para residentes. Os parques públicos estão habitualmente associados aos Shoppings mas encontram-se afastados da zona mais central. Os nossos pontos de interesse para a última manhã eram a praça do município, a catedral, o mercado dos lavradores e a marginal. Conseguimos cumprir o programa estabelecido percorrendo ruas e avenidas que são autênticas obras de arte constituídas por basalto cinzento e calcário beje, dispostos em padrões ornamentais. Ali pelo bairro da sé encontrámos a famosa pastelaria que fabrica queijadas de requeijão que não se podem perder. O mercado enche-nos com os seus aromas e cores, mostrando a riqueza da ilha que fornece aos seus habitantes desde peixes e mariscos variados de onde se destacam o atum e as lapas, até aos frutos tropicais e às famosas flores da madeira. Numa banca de fruta foi-nos dado a provar maracujás com vários sabores que iam desde o ananás à banana, passando pelo limão ou tomate. Uma verdadeira aventura para o gosto. De regresso ao parque de estacionamento percorremos a marginal até à marina, fazendo o restante trajecto de carro até à região do lido onde se sente o ambiente turístico da madeira de forma mais intensa, pois é nesta zona do Funchal que se situam a grande maioria dos hotéis das grandes cadeias nacionais e internacionais. A Madeira é tudo isto, contrastes, sabores, encontro de culturas, aromas, natureza e tradição. É um lugar encantado pela natureza que o homem tem sabido preservar e onde apetece sempre estar e voltar.

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