Monday, July 6, 2009

Cortesia em Avis… pela rota dos sabores. (Herdade da Cortesia Hotel)

“Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança…”

Este podia ser o mote para o início de qualquer texto. Parece uma frase, ou melhor um poema feito, e é. Quem não conhece a Pedra Filosofal do grande poeta António Gedeão? Mas sonhar é filosofar? Ou será o sonho a filosofia da mente? E como o sonho comanda a vida quando muito um Homem quer, neste caso um conjunto de Homens e uma Mulher, do sonho nasceu o projecto e o país avançou e ficou mais rico, pois passou a contar com mais um hotel. Não é mais um hotel qualquer, é um espaço pensado e estruturado desde o sonho para bem receber, bem tratar e mimar quantos têm o privilégio de o conhecer. A ideia, ao que parece, nasceu, talvez ainda sem ser pensada, na cabeça de um menino que desde cedo encontrou no remo a sua paixão. Ali, pelas águas do Maranhão, numa paisagem que mais parece saída de uma tela, dedicou-se a treinar e a remar lago a fora de modo a que, cada metro percorrido lhe desse projecção para um dia mostrar ao mundo que aquele seu cantinho, que a natureza encantou, era um local muito bom para a prática daquela modalidade e o mundo tinha que saber disso. E assim foi, a dedicação do Luis levou-o a percorrer o mundo e o mundo veio conhecer Avis e o Maranhão. Quando ainda não havia hotel, os amigos da modalidade que visitavam o local eram hospedados em casas particulares na bela vila de Avis, nas casas de um povo que sabe ser hospitaleiro e receber com humildade. Conhecedor de cada canto e recanto daquele belo lago, logo surgiu a ideia de construir um alojamento com a dignidade e o requinte que a modalidade e os amigos estrangeiros tanto mereciam. O espaço de implantação do hotel, foi escolhido de dentro de água, imaginem. Quatro sócios decidiram então erguer na bela Herdade da Cortesia, nome daquela terra e do monte cujas ruínas ainda por lá estão, um hotel. Foi então necessário saber a quem pertenciam aquelas terras que a natureza presenteou com tanta beleza e que de algum modo já pertenciam aos sonhos daqueles amigos. Contactada a autarquia local, o verdadeiro proprietário foi encontrado em Madrid e depois de conhecer o projecto, aprovou a ideia de vender a terra, mas com uma condição, fazer parte da sociedade do projecto. De quatro passaram a cinco sócios. Estavam encontrados os alicerces para fazer renascer em frente às antigas ruínas, um alojamento de grande qualidade a fazer jus à altíssima qualidade daquele lugar. O arquitecto, jovem e irreverente, mandou chamar cada um dos sócios e perguntou-lhes o que não gostariam e o que mais gostariam de encontrar no futuro hotel e, projectou uma árvore. Sim, uma árvore! A ideia tomou corpo e foi aprovada. Naquele local só existiam árvores e aquela seria mais uma em homenagem àquela terra. Da harmoniosa fusão entre a madeira, o betão e o aço nasceu ali um magnífico hotel que projecta na paisagem uma silhueta exótica mas com uma simbiose tão bem conseguida que parece lá sempre ter estado sem nunca ninguém ter reparado. Por entre duas rampas de madeira, escolhida nos tons das muralhas de Avis, entramos no lobby, não sem antes, uma das sócias, a Aurora, nos receber logo no estacionamento, com um caloroso e simpático sorriso de boas vindas. Este contacto, faz antever, que ali naquele local o tempo não sabe que tempo tem. Vai-nos sendo explicado que o edifício tem o formato de uma árvore e que estamos a entrar no seu tronco. O check-in e a apresentação do quarto são feitos de forma tão tranquila e intimista, que parece que aquele lugar já nos pertence um pouco. O quarto, de generosas dimensões, é previamente climatizado para que tudo esteja perfeito e a gosto. Na decoração prevalecem os tons castanhos e o confortável branco dos edredons. Aqui e ali foram colocados apontamentos decorativos com homenagem ao Alentejo: as espigas, uma oliveira e uma tela retro-iluminada. O quarto abre-se directamente para os jardins criando total liberdade de circulação. Todos os alojamentos são construídos em forma de cubos, pintados de branco, a partir do tronco da árvore, derivando em três ramos. A ideia que nos foi explicada pela gentil e calorosa Aurora, é de que ao longe se vêm duas localidades. Avis, a localidade maior, em tons de branco e castanho e a Herdade da Cortesia, um aglomerado menor, nos mesmos tons da vila maior. Por cima dos alojamentos, cuja placa está coberta de pequenas pedras (gravilha), encontram-se vários terraços com mesas, sofás e chapéus-de-sol, que comunicam directamente com a sala envidraçada do restaurante e do bar. Foi-nos dito que o pequeno-almoço não tem hora para ser tomado. Aos madrugadores cabe o direito de, se assim o entenderem, participarem na composição da mesa central e irem degustando, envolvidos por uma paisagem sem fim à vista, os paladares dos enchidos do Alentejo, do pão acabado de fazer, das compotas caseiras e dos batidos de fruta natural. Aqui e ali encontram-se pequenas/grandes homenagens ao mote que levou à construção daquele local, o remo. Como o tempo aqui não tem fim, há sempre lugar para um bom banho de piscina com perfil panorâmico e a passeios pela herdade, com a certeza de que o burro ou os cavalos virão ao nosso encontro para serem acarinhados. A herdade tem ainda um picadeiro aberto, galinhas e pavões. O ginásio está apetrechado com equipamentos adaptados ao treino da modalidade do remo. O ar é puro, a paisagem serena e tranquila enchendo-nos de paz e fazendo-nos desejar que a vida seja apenas assim.

Da incursão ao Alto Alentejo, fazia parte a visita por convite, a uns amigos ali nascidos e por ali criados, em terras de Seda. A Tomásia e o Fabião preparam-nos um repasto digno dos deuses. Alentejanos puros, são profundos conhecedores dos segredos da cozinha destas paragens. Para eles só faz sentido levar à mesa o mais puro dos sabores que a natureza habilidosamente prepara. Tudo aqui é biológico, puro e natural. Os poejos são da terra, o peixe da ribeira, o cabrito do pasto e os espargos, ainda selvagens. A sopa de peixe aprimorada pelas mãos do amigo Fabião, foi confeccionada com azeite, alhos e um mólho de poejos, preparado ao qual se acrescentou um pouco de farinha para engrossar o molho. Seguiu-se o caldo e o peixe e um pouco de colorau para dar cor à sopa. No prato é servida com “sopas de pão”. Depois, é deixar o paladar extrair da mistura o exotismo de cada nota daquela magnífica mistura. Seguiu-se um cabrito assado no forno que estava delicioso, acompanhado de espargos preparados pela Tomásia, numa mistura de mestria inigualável.