Monday, November 16, 2015

Evolutee experience (Evolutee Royal Óbidos Hotel & SPA)

Longe vai o tempo em que quando se pensava no Oeste apenas nos vinha à memória o tempo úmido, o nevoeiro, fruto do microclima que junta na orla marítima de escarpas aguçadas e águas vivas, o 
clima quente da superfície continental. O Oeste era ainda a fruta (do Oeste) e os aviários de galináceas fazendo da região uma das grandes produtoras de galinhas e de ovos. É ainda caracterizado por ser terra de gente trabalhadora, muitos emigrantes e raízes das muitas europas onde os nossos concidadãos procuraram melhores condições de vida. Deste tempo do passado até aos dias de hoje o Oeste soube mudar e impor-se como um destino apetecível que tem para oferecer o que de melhor este país tem. Até o clima parece mais favorável e muitos são os dias de sol e tempo ameno que se podem aproveitar neste magnífica região de tantos contrastes. Muitas vezes fruto do esforço e do empreendedorismo dos investidores 
locais, o Oeste cresceu em qualidade sendo hoje uma região atrativa com caracter próprio capaz de competir com outras regiões do país no que ao turismo diz respeito. Nos últimos anos foram surgindo aqui e ali unidades hoteleiras implementadas em zonas de grande potencial sabendo aproveitar os recursos locais para atrair nichos específicos de consumidores. Esta implementação tem acelerado nos últimos anos com o aparecimento de um parque hoteleiro distinto e de grande qualidade aproveitando não só as potencialidades regionais como ainda a proximidade a Lisboa. Hoje é possível escolher entre hotéis de 4 ou 5 estrelas que distam a menos de 1 hora de Lisboa. Oferecendo serviços de grande 
qualidade e tarifas acessíveis esta oferta torna-se assim muito apetecível quer para quem nos procura vindo de outras partes do mundo quer para os residentes que podem optar por usufruir dos serviços destas unidades aos fins-de-semana ou em períodos de férias. Assim é possível jogar num dos muitos campos de golf que a região tem para oferecer ou relaxar nos múltiplos spas dos vários resorts que oferecem uma variedade de serviços que atraem todos quantos apreciam bons momentos de qualidade de vida.
Como grande apreciador e consumidor de hotéis e resorts tenho tido o privilégio de poder acompanhar e de aproveitar alguns dos vários espaços que têm surgido. São exemplo o atual Dolce Campo Real,  ex Westin Campo Real ou o Hotel  Marriot Golf & Beach Resort na Serra D’el Rei. A mais 
recente visita e a razão deste post é o recente Evolutee hotel inaugurado em junho de 2014. Está integrado no complexo de golf Royal Obidos Spa & Golf Resort e constitui a mais recente oferta de grande prestígio da região. É pertença da empresa de construção portuguesa MSF e integra um grande parque de construção que teve início pelo campo de golf e pelo clubhouse. O hotel encontra-se na parte mais elevada da propriedade e constitui-se com um marco do resort que se afirma como elemento de ligação entre o golf, o mar e o complexo de villas que irá surgir. Utilizando breves palavras dos próprios arquitetos o hotel também respeita “a riqueza do contexto e o local onde está implantado o
resort”. Chegando um pouco mais longe no diálogo com a natureza envolvente “pelo facto do local ser marcado por “uma serena natureza, onde a presença do Atlântico e da Lagoa de Óbidos potenciam uma fruição contemplativa e paradisíaca do local”, estes elementos assumiram um papel preponderante “perante o qual o edifício do hotel estabelece uma posição dialogante (Arqto. Miguel Saraiva)”. Pelas breves palavras que mostram o feliz casamento da natureza com os elementos da construção percebemos que a inspiração dos arquitectos se baseou grandemente nesta dualidade de critérios entre o respeito pela zona envolvente e o enquadramento da construção que se deve continuar com o que ali é natural. Este 
alinhamento e fusão com a natureza não devia no entanto beliscar a identidade própria do complexo. Para se chegar a este resort vindo do sul  a viagem de carro será feita pela A8. Depois nesta autoestrada deve-se abandonar a via na saída 13 (A-da-Gorda) e seguir a EN114 até chegar aos sinais de trânsito na Amoreira. Aí encontram-se indicações/setas para o Vau, Lagoa de Óbidos e Royal Óbidos (Spa & Golf Resort). Devem-se seguir estas indicações/setas e sobe-se a estrada até ao Vau, onde se encontra uma rotunda com as indicações para seguir para  o Royal Óbidos Spa & Golf Resort. Continua-se a seguir as indicações para a Lagoa de Óbidos e para o Royal Óbidos. Ao chegar a uma rotunda 
relvada encontra-se o Evolutee Hotel e a entrada para o Royal Óbidos. Para os que vêm do norte em direção ao  Evolutee Hotel, a viagem será feita pela A1 e posteriormente pela A8 (a partir de Leiria), com a duração de cerca 2h45min. Já na A8 depois de se passar a vila de Óbidos, sai-se na autoestrada na saída 13 (A-da-Gorda) e siga a EN114 até chegar aos sinais de trânsito na Amoreira.  A partir daqui as indicações são as mesmas já referidas para o percurso do sul.  A entrada no hotel deixa-nos embriagados com a dimensão e presença estética do lobby. O espaço que rodeia a receção é todo composto por talha dourada sobre uma grande parede vermelha. O tecto em madeira clara contrasta com o chão que em tons de branco e preto joga com as figuras geométricas para nos obrigar 
a olhar e a exclamar. A parede da entrada em vidro continua-se pela parede oposto virada a oeste permitindo uma continuidade de luz e de enquadramento paisagístico que nos permite vislumbrar tudo até ao horizonte marinho. Esta escolha do vidro, que é um marco em todo o edifício permite trazer a natureza verde para dentro do edifício e colocar os espaços interiores em harmoniosa sintonia com o espaço exterior. A decoração de interiores esteve a cargo do Yoo Studio fundado pelos prestigiados Philippe Starck e John Hitchcox, dois nomes incontornáveis do design internacional. Estes dois génios do design inspiraram-se nos elementos locais para trazer para o edifício o que de tradicional e representativo existe na região, desde as liças azuis e brancas que constituem os apontamentos de luz na entrada de cada um dos quartos às pedras da calçada com os seus grafismos próprios, aqui no hotel reinventados de uma forma original e muito contemporânea. Os apontamentos decorativos do lobby constituem-se ainda por dois grandes bancos complementados por pequenos 
suportes de apoio uns em madeira de tronco de árvores outros de latão dourado. À Esquerda do lobby uma loja com peças Vista Alegre e Bordalo Pinheiro. Depois de uma calorosa receção e de uma atrativa bebida de boas vindas, os olhos e todos os sentidos eram poucos para apreciar, absorver e interpretar todos os pormenores. O quarto de dimensões generosas prende-nos com a atrativa cabeceira de cama em tons avermelhados que pendem de uma manta a partir do tecto e que a mim me fez recordar as típicas mantas do Alentejo. Os roupeiros encontram-se discretamente instalados por detrás de magníficos painéis de figuras  de Leda & the Swans. A sala de banho encontra-se para lá de umas portas de correr e 
oferece-nos uma cabine de duche separada por painéis de vidro do WC e ainda, junto da grande janela com acesso para a varanda, uma banheira para banhos de imersão a contemplar os eucaliptais. O grupo de quartos que olham para o campo de golf e para o oceano separam-se do outro conjunto virado para a frente do edifício, por dois corredores em vidro que separados por um jardim. O bar ao lado do lobby é todo ele preenchido por sofás e cadeirões em tons bordeaux e amarelo mostarda com candeeiros tipo solitário dirigido a cada um dos conjuntos. O papel de parede tem um padrão e uma textura que nos leva a duvidar se é de papel que se trata ou alguma forma de tecido preparado para revestir paredes. A 
separar o lobby do piso inferior, encontra-se uma escadaria que mostra logo ao descer os primeiros degraus um bar requintado onde predominam na maioria dos elementos os tons em branco e madeira. O balcão de grande cumprimento encontra-se adornado com bancos altos perfilados como que a convidar para saborear uma bebida. A parede do bar, toda em vidro permite um contacto com toda a zona exterior do resort onde se encontra a piscina exterior cujo fundo é forrado com azulejos portugueses escolhidos, decerto para contar um pouco da história portuguesa. No topo sul da piscina encontra-se um elemento decorativo discreto mas com uma forte presença. Trata-se de uma lareira que faz daquele local um 
espaço singular e único. Não se consegue explicar por palavras o prazer sentido ouvindo os sons da água a correr, o som do crepitar das madeiras a arder na lareira e a os últimos raios solares a pincelarem o céu, a potenciarem a cores das chamas e a toldarem a superfície do espelho de água. Este jogo é animado pela presença de uma pérgola cujas traves fazem jogos de projeção de sombras que se movimentam à medida que o sol de despede. Com o aproximar da noite a temperatura que havia permitido um mergulho na piscina, convidava-nos a procurar o conforto do interior. Com um ginásio bem equipado ainda tivemos tempo de cultivar o corpo antes do jantar que nos fez regressar a Usseira (perto de Óbidos) ao restaurante Poço dos Sabores onde o sr. Joaquim faz as honras da casa tratando cada cliente como se 
fosse um amigo. Este espaço tem que ser experimentado para se sentir o ambiente e a qualidade e o sabor das iguarias que figuram na extensa ementa. A noite no experiência evolutee foi muito relaxando na cama king size entre o conforto dos tecidos e maciez das almofadas. O pequeno-almoço, servido entre as 07h e as 11h permite degustar um sem número de pitéus, numa sala contígua ao bar do piso inferior. Para completar a nossa estadia ainda conseguimos usufruir da piscina interior que se desenha com fundo preto e um tecto em espelhos que projetam a água por cima das nossas cabeças.  Os elementos 
exteriores entram para dentro deste pedaço de beleza pelas enormes paredes de vidro que refletam a paisagem no espelho de água e permitem-nos nadar e relaxar a olhar o mar. A vida nestes momentos de requinte tem outro sabor. Resorts projetados com esta sensibilidade e envolvem-nos em pensamentos únicos que nos permitem construir um pequeno mundo, onde a qualidade e a satisfação estão em lugar de destaque, embriagando-nos de prazer.


Tuesday, November 10, 2015

O luxo entre a planície e as estrelas

No meio de uma herdade, a Herdade do vale das Sobreiras, para os lados de Mosqueirões na zona de Grândola,  ergue-se desde o dia 31 de julho um 
projeto que reflecte a coragem, o sonho e a audácia de um casal de arquitectos. Tudo nasceu um pouco fruto do acaso. A família numerosa e proprietária do terreno, projectava para este local algo para que os descendentes pudessem usufruir.  Na casa de férias do casal, próximo do local onde agora se encontra o Sobreiras Alentejo Country hotel, hoje uma Guesthouse com  partilha de alguns serviços com o hotel, surgiu então a ideia arrojada de se erguer um complexo turístico. Ideia concebida e a 
vontade natural que reina nos espíritos dos arquitectos de deitarem mãos à obra e fazerem nascer criações, o projeto passou rapidamente do plano do pensamento para o esboço elaborado. Neste esboço foram projectadas ideias claras, fazendo respeitar a morfologia do terreno, o enquadramento paisagístico e o respeito absoluto pelos residentes principais deste local, os sobreiros. O projecto desenvolveu-se numa linha idealizada no local onde esta espécie deixou alguma abertura. 
O projecto teria que se encaixar na zona sem ofender ou abater qualquer sobreiro. Este principio foi seguido com respeito absoluto, tal como foi respeitado o terreno de implantação do hotel que se ergueu sem violar as linhas topográficas do terreno. Foi a obra que se adaptou ao terreno e não o contrário. Essa adaptação é visível pelas fundações que estão ao ar livre por baixo das casas que agora albergam os quartos e os espaços comuns. Estas breves explicações das história do complexo e destas características 
técnicas e ecológicas foram-me transmitidas pelo gerente do hotel, O sr. Pedro Manso, com quem tive o privilégio de estar à conversa logo à chegada. Para se chegar ao hotel, a cerca de 1 hora de Lisboa, percorre-se a estrada nacional que une Lisboa ao Algarve. As pesquisas prévias que fiz no sentido de me perder menos, não deram grande resultado porque a placa com o nome da localidade de Mosqueirões, não cheguei a encontrar. Aqui funciona a procura e o esclarecimento junto dos residentes locais. É o 
que dá prazer a estas nossas curtas escapadinhas cumprido a máxima do turismo nacional do “vá para fora cá dentro”. Depois de avançar um pouco para além de Grândola para provar o património gastronómico de canal Caveira, foi necessário voltar atrás e procurar a 2ª saída de Grândola, com a indicação do hospital e nessa mesma direcção mas na faixa contrária estaria a saída para o hotel. Depois desta saída que está assinalada com a placa de hotel, alguns metros à frente, vira-se à esquerda e segue-se 
uma estrada secundária rodeada de bela vegetação, durante cerca de 7 km. A entrada para o hotel encontra-se de novo assinalada do lado esquerdo. Desta indicação até ao complexo percorre-se uma curta estrada de terra. O alinhamento de casas brancas no topo de um discreto planalto não nos deixa enganar e convida-nos a explorar a ideia que nasceu nas cabeças do casal proprietário. A estrutura central onde são os serviços comuns encontra-se ladeada à esquerda e à direita de casas 
brancas com arquitectura geminada em bolos de 4 ou 5 casas como se de um pequeno aldeamento se tratasse. Não há telhas no topo do telhados nem barras coloridas em volta das portas ou janelas, apenas casas brancas com arquitectura de linhas direitas e tecto em V. Na receção encontrei o Pedro actual director do hotel mas também recepcionista. Para muito este facto pode parecer estranho. Estamos todos, nos dias que correm, habituados, eu diria mais, formatados para condutas e 
comportamentos normativos. Para a maioria de nós seria impensável aceitar que um director de hotel pudesse estar a fazer check-ins. Mas a realidade para a qual temos que estar despertos para interpretar, diz-nos que as normas necessitam de ajustamentos que façam sentido. O hotel que aqui caracterizo é um pequeno paraíso idealizado e tornado realidade pelo esforço dos seus mentores. É uma dádiva de bom gosto e de beleza plantada no meio da natureza. Para que seja viável e sustentável 
precisa de uma política de gestão estruturada à dimensão do projecto sem beliscar a qualidade e o conforto. O Pedro, homem de tracto fácil, educado e bom falante é o exemplo do homem certo no local adequado. Falou-nos do seu percurso profissional e dos muitos desafios a que já respondeu. Este é mais um no seu vasto curriculum. Conseguiu reunir pessoas da região com gosto pelo desafio e com vontade de aprender e de crescer. Ao seu lado estavam a Liliana e o Mário de quem teceu os 
maiores elogios pelo seu esforço e dedicação. Neste ambiente de calor humano sentimo-nos como se estivéssemos em casa entre amigos. O quarto 14 que nos esperava alcançava-se percorrendo um pequeno trilho em tijoleira, traçado junto às casas. Quando contactamos pela primeira vez com algum ambiente que ainda nos é desconhecido, reina em nós a ânsia da descoberta, da apreciação o pormenor, a procura da novidade. Para lá da porta branca estaria um 
aposento, projectado por alguém, de certeza que com a intenção de nos 
surpreender. A surpresa teve inicio logo com a geometria do espaço. Cada casa construída é um quarto, eu diria um quarto com dimensão de uma suite. As mesmas linhas sóbrias do exterior foram conservadas no interior dos alojamentos. Linhas direitas, geometria e neutralidade. O quarto desenha-se com um rectângulo que comporta outro rectângulo de menos dimensão onde está inserida a zona de wc e banho e que é separado do quarto apenas com uma parede. Este compartimento do 
wc tem um tecto que faz com o tecto do quarto um ângulo de 90º de onde sai uma luz diferida que complementa toda a estrutura de iluminação do espaço. A parede adjacente à porta tem portas em vidro de cima a baixo que permitem que a paisagem exterior funcione como uma tela viva dentro do espaço. A varanda que é o prolongamento do rectângulo apenas se diferencia pelo vidro que a separa do espaço interior e é ornamentada na sua parede externa por troncos (barrotes) de madeira a distâncias calculadas 
uns dos outros, trazendo para o conjunto as características bucólicas do local. A decoração interior é simples mas mostra personalidade pelo bom gosto, pelo design e pelo conforto. Os tons predominantes são as da madeira e da cortiça. Reinas de forma discreta os castanhos claros e nada mais. Tudo é minimalista, claro e clean diria eu. O pavimento é todo ele em cortiça a recordar-nos que estamos no meio de uma herdade de sobreiros. As mesas-de-cabeceira e a mesa de apoio do espaço exterior não 
são mais do que troncos de sobreiros, “descascados”. Apreciada este nossa casa na herdade, era tempo de ir à descoberta dos espaços comuns. A apetecível piscina qual tela desenhada a cortar o verde da paisagem com o seu azul marinho, ali estava convidando a um mergulho na sua água fresca temperada pela humidade da noite. As sobreiras próximas miravam-se no espelho de água refletido pelo sol, ajeitando as suas 
folhas e os seus cachos de bolotas. O som da água a escorrer pela encosta 
da piscina, juntamente com o chilrear dos pássaros e os chocalhos são os únicos sons que nos fazem dispersar deste deslumbramento. As fachadas traseiras dos edifícios são todas forradas com troncos de madeira que acompanham a estrutura e as linhas de todas as estruturas de betão. Os troncos estão separados a distâncias iguais cortando a cor branca do conjunto e reforçando os traços campestres que unem a construção à paisagem do montado que a rodeia. A zona da receção continua-se por uma sala repleta 
de cadeirões todos com padrões e texturas diferentes mas que em conjunto lançam traços de harmonia que se continuam com os padrões dos tapetes e dos elementos decorativos que adornam os móveis. Este espaço encontra-se dividido por uma lareira que se suspende do tecto e dá continuidade a outro espaço onde se pode ver televisão,  consultar a net ou simplesmente ler um livro. A sala de refeições é de dimensões menores e está decorada com mesas de madeira e cadeiras pretas num contraste delicioso que inspira decoradores e projetistas. Neste conjunto de harmonia de padrões, texturas e contrastes vivem-se horas de plena paz onde é possível ouvir o silêncio, cheirar os aromas do campo, ouvir os sons da natureza e 
deixar o tempo passar dando-lhe qualidade e beleza. Como somos uns aficionados da gastronomia local pedimos ao Pedro algumas orientações para provar as iguarias da região em ambiente informal. Foi-nos sugerido o restaurante a talha junto ao largo das Palmeiras, logo numa rua atrás dos bombeiros. No caminho fomos atraídos por um grelhador onde assavam numas brasas incandescentes, enorme pimentos. A 
ementa deste local, a tasca do Zé da Moura era atractiva e muito convidativa. Apenas para cumprir a formalidade, fomos espreitar o restaurante recomendado mas a atração pelo grelhador fez-nos inverter o caminho e jantar num local fantástico, genuino, com gente simples e de uma enorme simpatia. A escolha foi fácil e a apresentação dos pratos surpreendeu. Enquanto esperávamos tive oportunidade de explorar o espaço que mostra paredes pintadas com cores fortes em vermelho e azul, peças de barro características do alentejo e alguns cartazes alusivos a 
grupos desportivos e de ciclistas. Em destaque estava uma foto do grande Zeca Afonso. Como decorria nessa noite a nona edição da festa do chocolate, reservamos a sobremesa para escolher entre as muitas opções deste local de perdição gastronómica. Sem fugir ao ingrediente rei da festa, o chocolate, a escolha era variada. Desde enormes suspiros a queijadas de bata doce, pão de chocolate, pizzas de chocolate com frutas diversas, 
cerveja de chocolate ou espetadas de morango com chocolate acabadas de fazer. o Quiosque do hidromel era uma tentação para os sentidos pois desde licor a trufas com hidromel e gengibre em chocolate de leite ou negro, a escolha era variada e difícil. Depois deste percurso tentador esperava-nos o magnífico descanso no hotel mais simpático e confortável que uma herdade nos pode proporcionar.

Conferência do Conselho Europeu de Ressuscitação - Praga (a devolução da vida)

Ano após ano a reunião magna do Conselho Europeu de Ressuscitação (ERC)  congrega em torno das ciências da ressuscitação, todos os interessados nesta temática. Este evento científico, único do 
género em território europeu, permite uma mega abordagem aos diversos temas da reanimação, quer os mais específicos quer os de natureza mais lata. È uma autêntica mostra de arte científica e 
tecnológica que congrega no mesmo espaço os resultados da investigação, novas formas de abordagem técnica, mostra de equipamentos e resultados de pesquisas. A cidade escolhida este ano foi a bela capital da Republica Checa, Praga. Só por si, o local onde decorre a conferência, já é um motivo bastante que estimula a participação dos interessados. Praga é uma cidade bela, cheia de história, romantismo e glamour. Para receber todos os interessados o board do ERC reservou o centro de congressos da cidade. Este ano chegaram mais de 2900 participantes de 68 países do mundo. A conferência de 2015 revestiu-se de particular 
importância pois tinha com tarefa divulgar as novas recomendações publicadas dais antes. Com os métodos de que hoje dispomos para aceder à informação, é fácil procurar e ler os textos que compõem as guidelines. Mas na conferência podemos ouvir os diversos  palestrantes a proferirem os seus discursos sobre as razões de determinados dados ou o fundamento de determinadas teorias ou procedimentos técnicos.  Estes discursos são complementados com debates que muitas vezes resultam de questões muito práticas trazidas pelos participantes e que reflectem a sua prática diária. O programa é extenso e torna-se difícil escolher os temas quando o vasto leque de assuntos se distribui para 6 ou 7 salas em simultâneo. É preciso ser-se criterioso e objectivar bem as escolhas em função dos interesses individuais que 
podem ir desde a vontade de ouvir as novidades à necessidade de ouvir um tema conhecido mas sobre outro ponto de vista. É fácil perdermo-nos entre tantos temas e o apelo da exposição técnica onde os equipamentos e as demonstrações práticas nos chamam para pormos em prática simulada os nossos skills. Muitos de nós gostam de se por à prova, eu diria mesmo, que necessitam de se por em prova, para perceberem as suas performances em cenários de reanimação cardiorrespiratória. Os temas nas salas são aliciantes e o pouco tempo dos intervalos é passado, por vezes em filas, para nos podermos conectar a um device e mostrar aquilo de que somos capazes e transformar a nossa capacidade de compressão/ventilação em algo mais objectivo e mensurável como é um valor percentual que nos é 
dado por um dispositivo de feed-back. Nesta excitação das práticas simuladas tivemos oportunidade de perceber, no fundo aquilo que ensinamos mas que não temos oportunidade de mostrar em formato numérico. Por exemplo a importância da profundidade das compressões torácicas e a necessária retracção total do tórax ou, a forma como ventilamos com um insuflador manual de balão. Estes dispositivos computorizados têm sensores que avaliam tudo, desde a velocidade da retracção à quantidade e velocidade das insuflações. Eu sou da opinião de que todos os que participam em reanimações deveriam estar conectados a este tipo de dispositivos de simulação com regularidade para puderem adquirir a necessária competência técnica (de elevada qualidade) e a sensibilidade para 
operacionalizarem com rigor os diversos algoritmos. As recomendações de 2015 trouxeram para a prática diária aspetos fundamentais já diagnosticados há algum tempo mas que timidamente ainda não tinham sido incorporados nas guidelines. Sabe-se hoje que a maioria das vítimas de paragem cardíaca morrem antes de chegarem ao hospital. Portanto de nada vale ter hospitais bem equipados e profissionais de saúde competentes quando o resto da cadeia de sobrevivência é posta em causa. Com base nestes pressupostos as recomendações de 2015 trouxeram para para a prática diária a responsabilização das populações e das centrais de emergência, fazendo uma triangulação entre a testemunha que assiste ou está próxima do cenário, a central de emergência e o aceso a um desfibrilhador automático externo. 
Cabe às centrais de emergência um papel fundamental para, via telefone ajudar uma testemunha a reconhecer alguém em paragem cardíaca e a iniciar manobras d suporte básico de vida com uma simples explicação telefónica (sbv telefónico). È para entender estes pormenores e os resultados destas investigações que a conferência  vale a pena. Estuda-se o tempo que se demora a reconhecer uma paragem cardíaca, todos os minutos gastos até à chegada de uma ambulância, as taxas de sobrevivência em função da qualidade das compressões ou o melhor resultado hemodinâmico em função do local das compressões. Mas não só, podemos participar em sessões de hands-on com os brilhantes professores do ERC, perceber as características biomecânicas das crianças e a sua habilidade para salvarem vidas 
ou ainda as diferenças entre as assistolias e as fibrilhações ventriculares com compressões organizadas e aquelas em que o trabalho mecânico do miocárdio é ausente ou desorganizado. Qual o papel dos ultrassons na paragem cardíaca ou da circulação extracorporal  Habitualmente vou a estas conferências sozinho, embora tenha tomado o gosto e o hábito de participar desde o ano de 2006 quando me estreei pela primeira vez como participante ativo, acompanhado por um grupo de colegas da Cruz Vermelha Portuguesa. Este grupo manteve-se unido e interessado durante mais algum tempo, julgo que até 2009 na conferência de Ghent na Bélgica mas depois o grupo, por razões variadas, deixou de congregar esforços apagando a chama da vontade. Eu no entanto mantive-me motivado e faço deste evento magno, o meu grande momento científico internacional do ano. Sozinho mas muito motivado tenho tido o privilégio de ter participado e praticamente todas as conferências desde o longínquo ano de 
2006, que me levou até Stavanger na Noruega no rescaldo da publicação das guidelines mais revolucionárias da história da reanimação. A ida a Praga este ano revestiu-se de características especiais. A motivação pessoal que me caracteriza associada a um conjunto de projectos e actividades na escola permitiram a união de esforço para estimular outros colegas a participarem no evento. Tudo começou com a vontade de realizar um trabalho que espelhasse os resultados de um projecto de formação interpares que desenvolvemos na escola desde 2013. Este projeto permitiu por em marcha uma experiência que deveria comprovar que o suporte básico de vida ensinado por estudantes para outros estudantes lhes daria os mesmos skills que a mesma formação transmitida por sábios e experientes professores ou 
formadores. A formação interpares em Portugal tem algum caminho já percorrido nomeadamente entre jovens do ensino secundários no que diz respeito à educação sexual, ou entre a formação de professores e de profissionais de saúde. Entre estudantes do ensino superior, até ao momento em que iniciamos o nosso projeto, não encontramos outra experiência idêntica. Este tipo de formação permite a dissolução de barreiras geracionais e a cultura de valores e de ideias entre gerações próximas, que funcionam como elementos facilitadores de transferência de informação, com o objetivo final, que gostariamos, conduzisse a mudanças comportamentais, tornando os nossos estudantes percursores da iniciatica de inicairem a reanimação cardiorresporatória em locais públicos. Já com algum trabalho de campo realizado, tornou-se necessário avaliar os resultados produzidos. A ideia era provar que a formação em suporte básico de vida realizada através de estudantes para os seus pares também estudantes, mantinha a mesma 
qualidade que a formação ministrada por formadores experientes. Esses resultados foram obtidos mediante um processo de avaliação em três tempos distintos. Obtivemos resultados idênticos aos da literatura, mostrando que a formação inter-pares não só mantém os mesmos critérios de qualidade, como permite aproximação geracional e de valores, permitindo ainda a formação em larga escala e com custos controlados. Este levantamento permitiu a realização de um abstract que foi aceite pelo conselho científico da conferência para ser apresentado em formato de poster. E assim, com mais este elemento 
de motivação, conseguimos reunir um grupo de 5 amantes da reanimação cardiorrespiratória e rumar a Praga. A par com o projeto da escola estimulamos um amigo nosso, professor do 1ª e 2ª ciclo, a 
espelhar a qualidade de um outro projeto, designado de "O Gesto Certo".  Este projeto foi idealizado e criado pelo Professor Luis Pacheco e assenta numa história, já publicada em livro, ao aqual o Luis juntou uma canção que intitulou "o Hino do Suporte Básico de Vida" que ele próprio canta. Com uma paixão e uma energia que lhe são características, vais às escolas transmitir de forma lúdica e aliciante o algoritmo do SBV aos miudos que o recebem de braços abertos, participam com ele nas demonstrações práticas e cantam em coro e de cor os passos fundamentais do sistema de emergência e os gestos para a realização do SBV. Também o abstract dele foi aceite assim com dois trabalhos na manga, lá fomos 
rumo à Eurpora de Leste já muito ocidentalizada. Naturalmente que tivemos obstáculos que nos mostraram a outra face que é a de enfrentar as dificuldades e as adversidades. À cabeça destas dos contratempos esteve sempre a questão financeira pois a inscrição na conferência tem um custo elevado para aqueles de nós que integraram recentemente a vida profissional. Depois é preciso pensar no custo do voo e do alojamento que, a somar ao restante, fazem destes eventos científicos decisões a ponderar com responsabilidade. Vivemos num país que não desenvolve nem dedica esforços à formação científica dos seus cidadãos o que faz com que muito de nós, aqueles que querem mesmo estar presentes, tenham que suportar estes montantes de forma estóica. Mas todos os esforço valem sempre muito a pena. Conseguimos um alojamento muito simpático e acessível no airbnb.com, muito bem localizado e com excelentes condições. Passamos uns serões divertidos a rir, a treinar as apresentações e a projectar o futuro. Os dias na conferência foram passados entre  temas de elevado valor científico, cenários simulados e apresentação  de posters. Nas restantes horas que passamos em Praga após o encerramento do congresso, o sol abriu-se para visitarmos a pérola do leste da Europa com uma luz que reflecte o brilho das obras de arte que são os seus edifícios, praças e pontes.