Friday, July 27, 2012

Férias Troykianas (Julho de 2012)…pelos caminhos de Portugal

As férias deste ano, à semelhança do clima económico e financeiro que se vive por essa Europa fora, foram projetadas, previstas e calculadas com base em restrições de ordem variada que enviesaram desde logo a curva ascendente que vinha sendo desenhada nos últimos anos. Pelas razões apontadas os preparativos e as projeções não tiveram o mesmo sabor dos anos anteriores. Assim foram passando os dias e os meses em torno de algumas propostas com rota e orçamento definido mas que nunca passaram disso mesmo, de projeções. A concordância foi difícil de conseguir, não pelos destinos previstos mas pela contabilização dos custos finais que consumiam numa semana os valores previstos para as 3 semanas de férias. Desta forma abandonaram-se as rotas pelo sul de França via Barcelona com extensão prevista até ao Mónaco, o norte da Europa central e de leste via Berlim, com extensão à longínqua Riga (Letónia), a monumental Polónia ou uma simples ida a Barcelona integrando um parque temático e algumas escapadas aos arredores. Portugal foi o destino final! Assim poupavam-se os custos do avião e do aluguer do carro. Entre profundas e demoradas pesquisas escolhemos uma região, a do Alentejo. Por aqui pisávamos terreno já familiar, tentando traçar uma rota que, permitindo curtas distâncias, aliava o conforto à relação qualidade-preço e a um novo conceito de férias low-coast em que a menor classificação turística em função das estrelas dos alojamentos nem sempre queria dizer qualidade duvidosa. Como a estratégia era aproveitar e poupar ao máximo, incluímos no nosso roteiro unidades de 3 estrelas e turismo rural em montes alentejanos com classificação máxima no booking (soberbos). Alguns dos destinos que integraram a nossa rota já nos eram conhecidos mas fizemos questão de revisita-los pois os preços dos alojamentos eram, apesar de estarmos em Julho, muito convidativos e o conforto, a qualidade e o design não nos deixaram margem para dúvidas. Com 3 semanas de férias foi preciso projetar dias e estadias que preenchessem as semanas de forma a fazer coincidir o dia 22 de Julho (dia do aniversário do André) com o local que escolhemos para realizar um lanche divertido, informal e familiar. O nosso primeiro destino foi Monte Real, pois o  Palace Hotel Monte Real é por demais apetecível por todos os motivos já referidos num anterior post durante a nossa primeira estadia. Para lá chegarmos optámos pela
beira-mar fazendo a primeira paragem em Foz do Arelho para fotografar a bela paisagem do um promontório que permite uma magnífica observação da praia. São Martinho do Porto foi a próxima paragem onde fizemos uma pausa para almoçar. Depois de percorrermos a marginal bem arranjada e de consultarmos uma ou outra ementa, a decisão recaiu sobre um self-service buffet com ofertas variadas a preço de refeitório. Ali estávamos nós no primeiro dia de férias de 2012 a almoçar num bonito restaurante com vista mar mas a preço de cantina. A reviravolta no nivelamento das nossas férias era por demais evidente. Continuando o percurso da linha de costa, voltámos ao sítio da Nazaré para sentir, cheirar e provar uma das mais belas paisagens portuguesas, os pinhões ainda com casca e os pregões das meninas das sete saias. Entrando por Vieira de Leiria, alcançámos o Hotel. Como este ano a fórmula da poupança entrou como nunca no nosso vocabulário, fomos preparados com algumas refeições que tranquila e confortavelmente fizemos nos nossos requintados quartos de hotel. Pela altura que descansávamos em Monte Real realizavam-se as festas comemorativas do fim do ano lectivo das crianças do infantário e do ensino básico, com direito a música e tasquinhas onde nos deliciamos com alguns petiscos e sobremesas caseiras. O destino que se seguia era Montargil. Aproveitando o trajeto visitámos Fátima, como temos feito quase todos os anos. Levámos lá o André quando tinha apenas 30 dias de vida para agradecer a Nossa Senhora de Fátima pela dádiva que foi a sua vinda e para que cresça saudável e se torne um homem de fé, digno e responsável. Momentos de silêncio e oração, naquele lugar cheio de significado e de esperança, dão-nos força para agradecermos e acreditarmos que esta vida não depende apenas do nosso esforço e empenhamento. Ao avistarmos o grande lago em Montargil, estávamos ansiosos para conhecer finalmente o Hotel do Lago CS Montargil. Um 5 estrelas requintado que à muito estava nos nossos planos e que agora foi perfeitamente encaixado no roteiro destas férias em Portugal e à portuguesa. O resort vale todas as críticas que dele fazem: requintado, de luxo com designs moderno e funcional. Tem várias piscinas com diferentes paisagens e exposições solares e uma infinidade de palmeiras. Apesar de estarmos em pleno verão os turistas não abundavam pelo que o silêncio era de ouro. Da luxuosidade, conforto e decoração do quarto já nos habituámos pois não é a primeira vez que escolhemos esta cadeia. Os materiais, as texturas e os padrões são da mais elevada qualidade culminando num conforto absoluto. Os padrões que predominam são os dourados e os castanhos. Uma das paredes do quarto é emoldurada por uma tela em preto-branco de antigos trabalhadores da terra carregando a palha na carreta puxada por vacas, soberbo! A projeção do WC e zona de banhos foi fortemente apreciada por todos pois a cabine de duche é uma assoalhada individual onde cabe toda a família tornando os duches em momento de muita diversão e puro conforto. A piscina de frente para a barragem é um dos ex-libris do resort permitindo aos hóspedes momento de relax numa piscina panorâmica imaculadamente límpida que olha para a barragem qual oceano num oásis campestre. Como o tempo é de poupança percorremos os arredores em busca de restaurantes típicos e a preços acessíveis para saciar o estômago e as carteiras. Queijos, salada de polvo ou fritada de peixe do rio, encontram-se no restaurante Canha aos preços de antigamente. A chegada a Montemor-o-Novo, nossa próxima paragem, foi rápida pois esta calma cidade alentejana dista apenas 60km de Montargil. Pelo caminho visitámos a Golegã onde no restaurante o Barrigas pausamos para o repasto do almoço. O restaurante abriu à 19 anos no Entroncamento e desde a consolidação da Golegã como destino turístico, e a convite do Presidente da Câmara, foram motivos para em 2008 o Barrigas se instalar na Golegã. As pataniscas de bacalhau com arroz malandrino e o entrecosto grelhado fizeram as delícias destes turistas de gostos requintados mas formatados para low coast. O nosso hotel em Montemor foi o hotel da Ameira, uma unidade de 3 estrelas no meio do campo na estrada que liga Montemor a Évora. Apesar da sua construção de apenas uma década, revelava algum grau de “desleixo” mais do que degradação. Este aspeto era notório essencialmente nas zonas de lazer. A tranquilidade era absoluta e aqui era permitido aproveitar o sol e mesmo fazer “siestas” à sombra dos eucaliptos ouvindo ao longe os chocalhos das vacas e o balir das ovelhas. Foram momentos únicos para quem procura silêncio e a paisagem campestre. Nesta região realizámos algumas atividades pois era necessário dar folga à pele do André que passava horas dentro de água. Visitámos o Monte Selvagem situado na estrada de acesso a Santarém, a caminho de Lavre. Trata-se de uma grande propriedade, não muito diferente do Badoca Park no Alentejo onde macacos, cangurus, camelos e crocodilos fazem as delícias das crianças. Aqui também se podem encontrar escorregas, casas nas árvores e zonas de contactos com aninais domesticados. No nosso destino estava também prevista a visita a um local até então desconhecido mas descoberto através de uma reportagem de televisão. Do Monte Selvagem até lá distavam apenas alguns quilómetros pois a Aldeia da Terra, assim se chama esta nova atração no Alentejo, está situada próximo de Arraiolos. Para se encontrar esta que já é considerada a jóia da coroa do artesanato português, basta percorrer a estrada em
direção à localidade de Ilha e aí estar atento às placas que referem a aldeia mais caricata de Portugal. A ideia nasceu da cabeça de um casal, o Tiago Cabeças e a Magda que estavam longe de imaginar que as suas vidas e os seus destinos iriam passar por se dedicarem a tempo inteiro ao projeto que mudou para sempre as suas vidas. Ela queria ser professora de física-química, ele um apaixonado pela informática. Depois de muitas andanças as suas vidas cruzaram-se e o Tiago com jeito para criar bonecos em plasticina e a Magda atenta aos talentos do Tiago logo juntou, com a sensibilidade que só as mulheres têm, a visão do jeito do Tiago com a sua grande paixão pela pintura e desafiou o Tiago a construir os seus bonecos mas em barro, esses sim, ficavam. A ideia ganhou forma e daí à abertura de uma loja em Évora - Oficina da Terra - foi um abrir e fechar de 
olhos. O grupo de barrísticos de Évora é especializado em fazer caricaturas em barro. A ideia da aldeia, já com um ano de existência e mais de 6 mil visitantes, é reproduzir muitos dos bonecos caricaturados que foram pedidos pelos clientes e executados e pintados pelos talentos do Tiago e da Magda. Segundo as palavras da Magda: - gostámos tanto de muitas das caricaturas que fizemos que quisemos reproduzi-las outra vez. Pela boca do Tiago a Aldeia da Terra é uma banda desenhada em 3 dimensões e reúne os trabalhos dos últimos 14 anos. Este projeto já ganhou o primeiro prémio do melhor trabalho em artesanato contemporâneo. Pelas mãos do Tiago e da Magda continuam a nascer caricaturas e peças que já ultrapassam as 3 mil em exposição mas cujo objetivo é chegar às 10 mil, portanto esta aldeia vai continuar a crescer mas sem se transformar em vila ou cidade. O percurso pela Aldeia permite observar em pormenor, casas e prédios em diversos formatos, casamentos, bandas de música,
 gentes na casa de banho, o sapateiro, a farmácia, o centro de saúde, os bombeiros, a polícia entre outros. É um trabalho digno, perfeito, criativo e que nos transporta, durante o tempo em que ocupamos os olhos e a mente em busca da perfeição, para a perplexidade do talento destes génios criadores. Aqui não se nota o passar do tempo e depois de se percorrer o mesmo trajeto duas vezes, encontra-se sempre um pormenor, uma cor, ou uma forma que se contempla com outros olhos. Depois de conhecermos as obras miniaturizadas que reproduzem as cidades de diversos locais da Europa, elegemos esta Aldeia junto a Arraiolos com o melhor projeto de miniatura alguma vez visto. E porque a visita terminou na hora do almoço e com a cabeça cheia de pura arte e louvável imaginação, seguimos a sugestão da Magda e almoçámos no restaurante o Fidalgo onde nos esperava um delicioso frango frito e queijadas de requeijão para acompanhar com o café. Após dois dias de pura tranquilidade na Herdade da Ameira, rumámos ao litoral alentejano para complementarmos com o sol do campo, o ar do mar e o sol da praia. Na Comporta elegemos o Aparhotel Comporta Village para pernoitarmos 3 dias. Trata-se de um resort relativamente recente mas com algumas falhas quase inaceitáveis nos dias de hoje. Uma receção insipiente com palavras simpáticas mas curtas com significativos nãos a quase todos os pedidos do cliente. Não à utilização da internet que só existia mediante o pagamento de 5 euros /hora utilizando o portátil do cliente, não à entrada antes da hora prevista sem a abertura de qualquer exceção, não ao guardar alguns bens alimentares num qualquer frigorífico o do apartamento o outro. Um péssimo cartão-de-visita. O apartamento não é nada de especial, está bem cuidado mas tem algumas carências e a zona de laser necessita de cuidados de manutenção. A comporta é uma vila simpática hoje bem equipada com grande oferta de restauração. As praias são paradisíacas podendo-se optar por zonas de praia praticamente desertas acessíveis por caminhos dunares feitos por trilhos de aventureiros resistentes às altas temperaturas e aos bandos de melgas que literalmente atacam quem por lá passa, a sofisticadas praias onde não faltam restaurantes e espaços lounge com direito a camas, poufs, frutas e champagne por quantias avultadas para estes tempos de crise. Na Comporta contemplámos ainda a beleza do bailado que é o voar das cegonhas e despedimo-nos dos dias com o por do sol dourado que nos acaricia até se deitar atrás da serra da Arrábida. Depois de sermos fortemente atacados por malditos insetos mas levando na alma o azul daquele mar da comporta, seguimos destino rumo ao interior numa altura em que as temperaturas teimavam em atingir os 40 o C. Na zona da Mina de São Domingos a pouco quilómetros de Mértola, escolhemos o Monte da Galega como alojamento para mais 3 dias das nossas férias em Portugal. Esta escolha foi decidida simplesmente pelas pesquisas na net e pelos comentários e fotos cuidadosamente analisadas nos diversos sites de vendas online. Não poderíamos ter escolhido melhor. Antes de chegar à localidade de Minas de S.Domingos e
 após alguns quilómetros percorridos por estradas quase desertas e tendo como companhia paisagens que mais parecem pinturas visionárias de um ser de alma superior, encontrámos o local que nos haveria de proporcionar 3 dias de magnífico e merecido descanso. O monte da Galega insere-se numa propriedade de vários hectares sendo a casa principal cuidadosamente edificada e de decoração tradicional alentejana a tocar o requinte, o conforto e o bom gosto. A D. Carmen, o sr. Helder e os filhos Miguel e Inês são os anfitriões deste belo espaço onde reina o calor humano e a simpatia. Fomos recebidos como se fôssemos da família. Tudo é calmo e natural à medida dos desejos dos hóspedes que aqui são amigos e bem-vindos a núcleo desta genuína família. Arrumados os objetos era tempo de explorar a região. Como eram horas de almoçar, aproveitámos para conhecer mais um restaurante, o Alentejano em Moreanes, que se encontra facilmente depois de atravessar a localidade de Mina de S. Domingos. É uma referência no Lifecooler e permitiu-nos uma bela experiência gastronómica! Entre o gaspacho com carapauzinhos fritos e a grelhada mista de porco preto, não sei o que estava melhor. O restaurante tem traça típica com gente muito simpática e um serviço digno que recebe bem quem vem de fora. Após o repasto era tempo de tirar partido do espetacular oásis que encontrámos junto à estrada dentro da Mina de S.Domingos. Tratava-se de uma praia fluvial tão bem enquadrada na natureza que mais parecia uma pintura. Os nossos olhos não queriam acreditar em tamanha beleza. O lago é uma barragem designada de Tapada Grande e a praia tem areia fina igual à das praias marítimas, com direito a vigilância e a bandeira azul. Aqui e ali a paisagem é enquadrada por ilhotas que se alcançam a pé permitindo fotos e ângulos ao gosto de todos. Depois de uma tarde inteira neste paraíso era tempo de regressar à herdade que se projeta à nossa volta como que a convidar-nos para descobrir cada canto, as cores, os aromas e os sons. O difícil é escolher entre dar um refrescante mergulho ou ir à procura do contato com os muitos animais que aqui co-habitam. O ideal acabou por ser mergulhar e depois deixar que o corpo seque pelo ar quente que teima em atingir os 40oC. O entardecer neste local traz-nos à memória recordações de outros tempos, os da infância também ela passada em locais como este. Pelos caminhos da herdade descobrimos galinhas, pintos, porcos anões, perus, pavões, bodes, burros e vacas. O André provou palha e desabafava pela tristeza de não ter como companhia a sua amiga Maria presença já tão habitual nas nossas férias. Quando já estávamos bem afastados do monte surgiu-nos ao longo um motard em moto 4. Era o Miguel que gentilmente nos vinha dar as boas-vindas. Pretexto melhor para o André iniciar ali intensas horas de convívio, não haveria. À boleia do Miguel lá foram explorar todos os cantos daquele magnífico local. Perdi-os de vista e dediquei-me a captar paisagens e momento únicos que o entardecer trazia com as cores de um por do sol que só existe em locais como este. Encontrei camas de rede, um lago e um instrumento musical feito com chocalhos de vaca. Este reconhecimento terminou perto das 21h30min e algumas dezenas de fotos depois. De vez em quando encontrava o Miguel e o André que se tornaram amigos inseparáveis. A noite caia ao abrigo da elevada temperatura que só me fazia lembrar as caraíbas de outros tempos. Aqui conversa-se pela noite dentro com os outros hóspedes e com os anfitriões. Ouvem-se as histórias que deram origem ao nome da herdade, trocam-se impressões sobre os locais a visitar e sobre os melhores locais para apreciar a verdadeira e genuína comida alentejana. Aqui observam-se as estrelas como em nenhum outro local. O pequeno-almoço é servido a uma mesa em madeira de castanho maciço numa sala cuidadosamente decorada e onde se encontram as melhores iguarias da região. Leite, café, sumos, compotas, mel (água mel e espuma) queijos, enchidos, bolos tradicionais e um pão que nos obriga a repetir para além da conta. Eu diria que este é o melhor pequeno-almoço do mundo. O resto dos dias foram passados entre mergulhos na piscina, idas à praia, passeio pela herdade, a andar de burros e a descobrir novos restaurantes. Aos proprietários deste local encantado que segundo reza a lenda trás do passado a designação atribuída a uma pobre mulher que aqui trabalhava que nem uma galega para alimentar os seus muitos filhos atribuímos pela forma como nos receberam, pelos sons do silêncio, pelo chilrear dos pássaros, pelo mugir das vacas, pelo cacarejar das galinhas, pelas cores do céu e da terra, pelo cintilar das estrelas, por nos ensinarem a observar a estradinha de S.Tiago (nebulosa que se observa no céu) pelos aromas que se entranham em nós, por simplesmente se poder estar sem nada fazer, pelo melhor pequeno-almoço do mundo, nota máxima, ficando o enorme desejo de voltar. Terminados os dias nesta estância de prazer era hora de rumar ao próximo destino, desta vez mais ao sul em plena região do interior algarvio. Alcoutim era o próximo destino por nós agendado e que ansiávamos visitar e conhecer com alguma expetativa. O caminho até lá mantinha as caraterísticas da paisagem alentejana e permitiu-nos revisitar a bela Mértola que se debruça sobre o Guadiana protegendo a parte antiga da vila com a sua muralha onde se encerram séculos de história. O Guerreiros do Rio River Hotel alcança-se percorrendo a partir de Alcoutim cerca de 12 km de estrada paredes meias com o rio. Trata-se de uma unidade hoteleira de 3 estrelas relativamente recente, com um fantástica vista sobre o rio e o discreto relevo que protege as suas águas. O hotel encontra-se encrustado na encosta e não fosse o índice de degradação visível, nomeadamente no que se refere aos aspetos exteriores, a grande varanda no piso da piscina transporta-nos para uma paisagem que em quase tudo nos recorda a harmoniosa relação da paisagem da distante e requintada Áustria. A piscina de grandes dimensões permitiu fantásticos mergulhos e o aproveitamento do belo e melancólico entardecer algarvio. Alcoutim é uma bela e verdejante vila que convive com gosto com as águas calmas do Guadiana e com a vizinha localidade espanhola de Saluncar que se alcança de barco por 1 euro. A praia fluvial detentora de bandeira azul recebe os visitantes com todas as infraestruturas e cuidados de qualidade que fazem desta terra um verdadeiro oásis de beleza e frescura. E, era chegada a hora de chegarmos ao nosso último destino de férias, o Monte dos Poços, um agroturismo recém-inaugurado na estrada que liga Castro Verde a Aljustrel, muito próximo da localidade de Carregueiro. Chegámos cedo, pois tal como combinado telefonicamente, era necessário fazer um early check-in para ter tudo pronto para receber os nossos convidados. Neste local estava prevista a festa de comemoração do nosso filho André.
 Sem estarmos a prever a chegada foi atribulada pois com a ausência do responsável e da colaboradora da receção com quem havíamos trocado e-mails com acerto de pormenores ninguém nos sabia dar informações precisas sobre o desenrolar dos preparativos. Sem o alojamento preparado e sem informações a tensão tomou conta de nós, mas como a idade também é portadora de coisas boas, mantivemos o espírito positivo e confiámos no que estava combinado. A competente e muito simpática Bárbara deixou-nos palavras de alento à boa maneira alentejana referindo que tudo se haveria de resolver. E assim foi! Após o almoço o proprietário Rui, um jovem alentejano com formação em turismo recebeu-nos como só nestes locais se sabe receber. Simpatia, competência e espírito de proximidade familiar. O lanche decorreu com alegria e muitos sabores, entre mergulhos de piscina, fatias de presunto, queijos, torresmos ou ovos com linguiça, entre outras iguarias. O convívio durou até à noite cumprindo-se assim o 10º aniversário do nosso André, longe da pérola do mar adriático onde estivemos no ano passado, mas igualmente saboroso e muito divertido. O salão de dimensões generosas tem apontamentos decorativos que valem a pena referir. Junto a uma janela que nos permite contato visual com a propriedade, estão os sofás em pele cinza ornamentados com coloridas almofadas brancas cujas manchas foram extraídas de um trabalho de curso do Rui a propósito do tema relacionado com as esculturas em madeira fabricadas a canivenete pelos antigos pastores. Por toda a área de construção estão estrategicamente colocadas telas de grandes dimensões em formato retangular em cor preto e branco, umas alusivas à paisagem e locais da região, outras trazendo à atualidade acontecimentos do passado da família como sejam o trabalho do avô que como veterinário se deslocava de terra em terra com a sua carroça ou aquela tela que mostra o trabalho de forcado de um dos elementos da família. A propriedade nasceu a partir da existência de monte antigo onde do ouvil (local onde se guardavam as ovelhas e a palha) se fez, com a mesma área de construção, 6 quartos e um salão. A decoração ficou a cargo de uma arquiteta pertencente à família que transformou este local de uma forma magnífica, num requintado agroturismo de grande qualidade. Cada quarto, com áreas generosas tem  nome das aves preservadas na região que é considerada reserva de caça (Cortiçol de barriga negra, Rolieiro, Calhandra real, Tartaranhão caçador, Peneireiro das torres e Sisão). Apenas com alguns apontamentos ainda por completar o alojamento oferece muito conforto e silêncio que apenas é interrompido pela orquestração dos grilos. A zona de lazer tem uma piscina e algumas sombras de oliveiras, toldos e chapéus-de-sol, onde se passam magníficas horas de descanso contemplando a paisagem cor de seara pontilhada apenas por cegonhas e pequenos aglomerados de eucaliptos, sobreiros, oliveiras e pinheiros. O pequeno-almoço é regional sem hora para iniciar
ou terminar. A colaboradora Bárbara e a srª D. Armanda (mãe do Rui) tudo fazem para agradar e atender a todos os pedidos, mesmo os dos clientes mais exigentes. O sorriso é uma constante e a disponibilidade quase total. O Rui é um anfitrião muito bem-disposto, paciente e bondoso, ouvindo sempre os seus hópedes e partilhando com eles facetas e pormenores da vida do monte e do campo. Aqui provámos as melhores migas do mundo elaboradas pela D. Armanda a partir de uma receita ancestral cujo segredo naturalmente se encontra guardado. Aqui todos os hóspedes são mimados e acarinhados como se fizessem parte desta família. Aqui descansámos da vida cansativa do quotidiano da cidade. Os burros, as cabras e a égua fizeram as delícias dos miúdos. Aqui encontramos paz e tranquilidade que permitiram um descanso absoluto. Aqui convivemos e sentimos o verdadeiro espírito da amizade e do carinho de que tudo tem para oferecer e apenas pede em troca a satisfação de que procura este local. Aqui encontrámos boa disposição e ambiente familiar que deixa muitas saudades de voltar.



Thursday, July 5, 2012

Casa de Cultura e Recreio do Pessoal do IPL (Passeios pelas águas e pelos caminhos da gastronomia)

Com o intuito de promover atividades de natureza cultural e recreativa e desta forma incentivar o convívio e aproximar as relações interpessoais entre todos os colaboradores do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL), nasceu no dia 17 de Dezembro de 2003, a Casa de Cultura e Recreio do Pessoal do IPL (C.C.R.P.I.P.L.). Desde a publicação da sua natureza e princípios em Diário da Republica (III Série nº 76 de 30 de Março de 2004) esta casa tem conseguido, com o louvável esforço de um grupo de pessoas que se dedicam carinhosa e cuidadosamente a esta causa, promover diversas iniciativas que até então eram inexistentes na instituição. Merecem destaque a dedicada e sempre presente Engª Maria da Graça, a doce D. Fátima, a carinhosa e talentosa Vanessa e a  simpática Clara, entre outros. O acesso a esta associação é feito através de inscrição como sócio com uma quota mensal simbólica que é deduzida no vencimento. Desde então passou a comemorar-se o Natal com uma festa muito animada onde crianças e adultos interagem no frenesim próprio da época. Tem havido uma grande colaboração das diversas unidades orgânicas no sentido de facilicar o acesso a espaços, salas e anfiteatros para a comemoração dos diversos eventos. A festa de Natal tem trazido ano após ano colaboradores de todas as escolas com os seus familiares enchendo cada vez mais o grande auditório da Escola Superior de Comunicação Social no Campus de Benfica. Após um caloroso cumprimento da Engª Maria da Graça e habitualmente também do Sr. Presidente do IPL, o Engº. Vicente Ferreira, dá-se início à festa com momentos de magia, teatro e canções. Grandes e pequenos vibram com o espetáculo mas o grande momento para as crianças é sem dúvida aquele em que levantam os presentes de Natal e os lanchinhos (este muitas vezes é entregue logo no início do espetáculo e devorado logo no início da manhã) que têm sido um apanágio  desta associação mesmo nos tempos de dificuldades que vivemos. Juntamente com as prendas é habitual existirem balões e pinturas faciais para que a pequenada se entregue ao espírito da festa. Para além desta iniciativa a Casa do Pessoal tem mantido a tradição de organizar um almoço anual, sem custos para os sócios e que já adquiriu o carinhoso estatuto de encontro anual cada vez mais frequentado e participado. Estes encontros revestem-se sempre de grande expetativa pelo conjunto que em si representam entre o destino, o tipo de passeio, o grupo de participantes e naturalmente a gastronomia que nos espera. Por esta altura e como acontece um pouco com outras associações e grupos, já existe o grupo daqueles que participam sempre, muitas vezes levando consigo um ou outro elemento novo e aqueles que são iniciantes ou que por alguma razão não se fazem sempre representar. Ao longo destes anos de existência a Casa do Pessoal tem sabido manter e promover a agregação de novos sócios que habitualmente têm honras de boas vindas ouvindo a proclamação do seu nome seguido de um caloroso aplauso. As iniciativas e os encontros são sempre divulgado através do site do IPL http://www.ipl.pt/index.php/ccrpipl para que todos possam saber a data e o tema do convívio anual. Todo este trabalho fica a cargo de uma magnífica equipa de designers que contacta, pesquisa e dá forma ao programa e ao grafismo final habitualmente em forma de cartaz, enfatizando os diversos pormenores, para que o produto final seja claro e apelativo. Ao longo destes anos tem-se assistido a uma diversificação, sempre que possível dos locais e da forma como o encontro é organizado de modo a que resulte numa atividade do agrado de todos. Locais como o Badoca Park, a Lezíria Ribatejana e a costa de Sesimbra, já fazem parte do historial dos passeios organizados pela Casa do Pessal. No entanto, nos últimos anos e porque é preciso atender às distâncias e cada vez mais aos custos finais, tem-se mantido a tradição de se fazer o almoço a bordo de uma embarcação. Com este formato já se percorreu a costa da Sesimbra (em Maio de 2010) com um barco com fundo de fibra que encantou os mais curiosos. A paisagem era magnífica quer por baixo quer por cima da água. O almoço acabou por ser num hotel em Sesimbra. Foi uma refeição requintada em jeito de serviço gourmet. Degustámos uma entrada elaborada com fiambre sobre uma cama verde de alface acompanhada por tomate fresco e laranja. O prato era constituido por filete de peixe com puré e legumes. Para quem ia preparado e equipado, após o digníssimo repasto,  havia ainda piscina e sombras para descansar.
O convívio do ano passado (Maio de 2011) foi agradavelmente vivido a bordo do barco panorâmico S.Cristóvão que nos levou a descobrir os encantos e as maravilhas da Lagoa Azul na Barragem de Castelo  de Bode. Para lá chegar fomos de autocarro seguindo a auto-estrada A1 até Torres Novas e depois a A23 até à saída de Tomar. De seguida percorremos a estrada IC 3 até Ferreira do Zêzere, encontrando facilmente a partir daqui o local de embarque. Depois de percorrermos uma boa parte do Lago e como apetite é coisa que não falta aos passeantes, foi servido um excelente almoço em forma de buffet. Como até aqui já havíamos percorrido mares e lagos a bordo de embarcações, este ano estava no altura de "provarmos" o sabor de navegar pelo belo Tejo que tem encantado poetas e escritores.  No dia 1 de Julho e com partida de Vila Franca de Xira, partimos Tejo acima a bordo da embarcação Castro Junior. O percurso estava pensado para subirmos até à zona de Valada do Ribatejo, bem acima do Carregado e depois começar a rota descendente. O Castro Junior é um barco antigo, muito típico com um único mastro. Já serviu em tempos para carregar outros produtos, nomeadamente sal a granel das salinas da margem sul do Tejo para Lisboa, na altura em que as margens do Tejo estavam repletas de atividade industrial. Nele também se transportou bacalhau, lenha e caruma. O modelo tem a designação de Varino do Tejo e é muito semelhante a uma fragata e já conta com mais de 70 anos de existência e foi construido em Almada. Grande parte do ferro da ponte Marechal Carmona foi transportada pelo Castro Júnior. É feito de madeira de pinho bravo, manso e mogno, pesa 140 toneladas e terão sido necessárias mil árvores para a sua construção.
Quando o passeio já ia longo começaram por surgir os aperitivos em forma de rodelas chouriço e moscatel. Como o apetite já era muito os marinheiros a bordo depressa fizeram um assalto ao pitéu que voou das travessas. Quando o grelhador começou a funcionar os participantes já tinham o apetite no máximo pelo que esperar pelos grelhados depois de sentir os fortes e saborosos aromas que o vento teimava em espalhar, não foi coisa fácil. Assim que se concluiram os grelhados, diversificados entre feveras, entremeada de porco e uma novidade, uma deliciosa e suculenta entremeada de vaca, iniciou-se a dança das travessas pelas mesas corridas cheias de apreciadores de boa gasgtronomia. Sem ninguém quase se aperceber, o velho Júnior parou no meio das águas do Tejo. Os que perceberam, acharam natural, talvez natural. Porquê pensar o contrário? Mas o que fariamos nós ali parados com tanto Tejo para percorrer. Mas não, algo de estranho aconteceu! Estávamos de facto encalhados num banco de areia e esta era a verdade! Todos mantiveram a compostura, afinal uma das margens não era assim tão longe e ao que parece as águas não eram mito profundas. Lá fomos informados pelos sr. Carlos, o homem que assumiu o comando do microfone que se tratava de um acontecimento pouco habitual mas que por vezes ocorria e que tudo estava controlado havia apenas que esperar pela maré cheia para que o belo Júnior se fizesse de novo ao rio. Depois de sermos abordados por uma lancha e de surgir um helicóptero nas proximidades, alguns de nós pensaram que a coisa poderia ser mais séria. Ninguém entrou em pânico, afinal havia um almoço para apreciar e mesmo encalhados estavamos rodeados de uma paisagem que nos tranquilizava a alma. De súbito o Castro Júnior começou a rodar e fez-se de novo ao caminho que nos contemplava com belas casas escondidas aqui e ali por entre a vegetação. De uma margem à outra havia praias fluviais paradisíacas, pequenas ilhotas e cavalos no seu habitat natural. Uma autêntica dádiva da natureza! Já no regresso cruzamo-nos com outras embarcações de recreio, pequenas lanchas rápidas que desfrutavam do belo dia e da paisagem que está ainda no seu estado muito natural. Pudemos ver numa das margens os ninhos dos Milharocos e Papa-figos que fazem os seus ninhos em pequenos buracos escavados pelos próprios nas pequenas enconsas arenosas do rio.
O passeio terminou mais tarde que o previsto, mas devidamente compensado com a oferta de cafés e licores por parte da tripulação que foi agradável e muito prestável. Apesar dos ventos e marés a maioria ficou muito satisfeito a julgar pelos sorrisos que espelhavam o quão agradável foi o dia. Esperamos que esta tradição se continue a perpetuar cada vez com mais participantes para que não se perca este agradável encontro anual. (Este texto foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)