Tuesday, July 5, 2016

Annecy, Megéve e Chamonix - o lado encantado dos Alpes

Uma conversa pela manhã, uma troca de palavras entre colegas de trabalho. Ideias de sítios, experiências pessoais e umas fotografias para alimentar a alma e a vontade de continuar viagem. Foi assim que surgiu a ideias de conhecer Annecy, que nunca tinha ouvido falar. Aquelas fotos
mostrada pelo colega eram demasiado belas, cheias de cor e de flores e tinham silhueta e perfil de quem convida a visitar e a deixar-se apaixonar por um lugar. Os voos para Genebra estavam em oferta o que tornou a decisão de ir, um processo quase obrigatório. Os nossos maravilhosos feriados de junho compunham o resto do plano da viagem que poderia ser realizada sem consumir dias de férias. Uma escolha ocasional e não planeada fez o menu tornar-se ainda mais apetecível. Chegamos a Annecy a meio da tarde, com voo via Géneve. Esta bela localidade nos flancos dos Alpes suíços dista cerca de 40 km de Géneve, alcançando-se de forma tranquila por uma via rápida ou por estrada secundária. Foi esta a escolha que fizemos para ir apreciando a paisagem verde e bucólica desta
zona da Europa. Quando já se tem muitos anos de trabalho e a idade já nos trouxe alguma serenidade, parece que apreciamos tudo com maior intensidade. Parece que trabalhamos cada vez mais e mais horas e os momentos de lazer sentem-se como formas de gratidão intensa e sem preço. A natureza verde, a organização da sociedade Suíça e os meses intensos de trabalho sem tempos de descanso, tornaram aqueles dias, apetecível, intensos e gratificantes. O alojamento criteriosamente selecionado no Airbnb, correspondeu totalmente às imagens mostradas e aos comentários dos outros utilizadores. Esperava-nos na estação de Annecy a Jeanine e o Alain, o casal responsável pelo apartamento. Com uma cordialidade e simplicidade extremas conduziram-nos até ao alojamento
que ficava logo ao lado da estação. A casa era num prédio antigo com charme. À entrada fomos convidados a tirar os sapatos porque o soalho, antigo de madeira, merecia um tratamento privilegiado. Adorei a ideia pois já na Alemanha, minha segunda terra Natal, não era hábito andarmos em casa calçados com os sapatos que utilizamos na rua. É uma questão de higiene e de hábito perante a nossa forma de estar e de encarar a vida. A casa era excecional, decorada com bom gosto, pormenor e carinho. Aguardava-nos a mesa posta com uma garrafa de vinho com um cartão a desejar as boas vindas. Delicioso. Depois de ficarmos a par dos funcionamentos básicos, o Alain convidou-nos para visitar o aeródromo local onde tinha a sua avioneta, a Lima, pois era piloto de aviões de recreio. Não
prometemos e combinados contactá-lo em função da organização dos nossos passeios diários. O primeiro contacto com Annecy encheu-nos de satisfação pois as características arquitetónicas e paisagistas daquela localidade são intensas e permitem alimentar os espíritos inquietos e ávidos de conhecimento. O centro histórico é todo medieval e recortado por canais de água alimentados por um rio. A água é verde, limpa e translúcida. As ruas delimitadas pelas paredes das casas, permitem explorar toda a zona centro com se estivéssemos dentro de um capítulo da história. O comércio, pincela as ruas com cores e diversidade conferindo à paisagem um perfil de pintura artística. As lojas perfilam-se debaixo das ruas com arcadas pesadas de pedra, mostrando montras arrumadas e coloridas convidando a entrar para sentir e apreciar a originalidade de alguns produtos ou somente o aroma dos queijos ou a ordenação das vegetais e legumes para além da forma artística da decoração das
montras dos talhos. Aqui e ali somos contaminados com o aroma de crepes, preparados ao momento e confrontados com a irresistível capacidade de resistir à provocadora massa de gelados que proliferam por todas as esquinas. O canal Thiou recorta a cidade velha transformando o local numa Veneza soberba a trazer as mágicas imagens dos gondoleiros à nossa memória. Um pequeno forte construído no séc. XII, designado de Palais de L’islle recorta o canal principal em 2 trajetos permitindo ângulos fotográficos únicos. Todas estas ruas vão desaguar na frente de um magnífico lago que tem como parede de fundo um planalto dos Alpes franceses. O passeio em redor do lago é tranquilo e belo, convidando ao relaxamento para aqueles que como nós estavam de visita e servindo de ginásio natural para os que aproveitam a envolvência da paisagem para correr ou andar de bicicleta.
À volta do lago encontram-se grandes áreas relvadas que convidam a relaxar aproveitando o sol. Completamente preenchidos com tanta beleza regressamos aos nossos aposentos para aproveitar o conforto do apartamento e programar a viagem do dia seguinte. A ideia era aproveitar os dias para conhecer o máximo possível. Decidimos utilizar a estrada secundário que liga Annecy a Chamonix para ir apreciando a paisagem calma e bela da região. Tendo os Alpes por companhia, ao longo do trajeto eramos prendados com paisagens deslumbrantes de restos de neve que escorria pelas encostas ou a pela tela desenhada pelas nuvens baixas que enlaçavam as encostas adaptando-se ao relevo. As cascatas e as flores primaveris eram uma constante oferta para os nossos olhos. Parámos em Megéve, uma localidade imperdível. Percorrer as ruas de Megéve leva-nos de volta ao mundo mágico do
Natal e da infância. É uma localidade toda construída em casas de madeira, cheias de charme e encantadas pelos traços da arquitetura. Quase todas tinham iluminação de exterior a contornar os perfis ou simplesmente enormes cascatas de luzes de leds que ao anoitecer criam um ambiente de luz e um cenário de autêntica magia. A curiosidade deste local foi descobrir em plena praça central um DAE para utilização de visitantes e moradores. Um cartaz de apoio explicava em 3 passos, com salvar uma vida e a mensagem para levar para casa era a de que um desfibrilhador roubado seria igual a uma vida perdida. Magnífico! Isto revela inteligência, civilização, qualidade e respeito.
Chamonix é diferente de Megéve. É igualmente envolvente mas Megéve é soberba. Almoçámos numa das muitas explanadas do centro da vila depois de uma criteriosa escolha dos menus, pois os preços são pouco atrativos e é preciso perceber a relação do custo com a oferta. Os menus do dia pareciam ser mais atrativos pois incluíam entrada e sobremesa. Apesar do preço não podíamos deixar de matar saudades das moulles que nos transportam sempre para os recantos da memória da nossa amada Paris. Uma das ideias principais que nos levou a Chamonix era poder subir no teleférico e poder apreciar a beleza contagiante do Mont Blanc, mas parece que essa paisagem não nos estava destinada. No
momento da chegada às bilheteiras, foi anunciado o encerramento do equipamento por se aproximar uma tempestade. Ficamos desolados mas não havia forma de contornar o poder da meteorologia. Como chegamos a meio da tarde a Aneccy voltamos a percorrer a zona do lago mas para o lado contrário do primeiro dia. Lá estava a ponte dos amores, que todos os turistas atravessam e fotografam para que possam cumprir a tradição e sentirem-se abençoados pelo amor. O dia seguinte estava destinado a ir um pouco mais longe, visitar Berna a capital da Suíça. Foi um percurso longo mas que valeu a pena. A estrada é ótima com piso e sinalética como só a Suíça pode oferecer. Os muitos
túneis, alguns com quilómetros fazem do percurso um passeio diferente e heterogéneo. A entrada em Berna foi tranquila não fosse a dificuldade em perceber o parque que ficaria mais próximo do centro e das atrações principais. Acabamos por atravessar a cidade que nos encheu com o seu encanto arquitetónico. Escolhido o parque da estação de comboios, logo na entrada, foi necessário levantar francos suíços da ATM mais próxima pois os wc’s eram todos pagos. Percorremos as principais artérias da cidade a pé entrando de novo numa autêntica atmosfera medieval. Decorria na cidade, nesse dia, um evento desportivo de grande escala pelo que as artérias encontravam-se
preenchidas com milhares de adeptos trajados com roupas coloridas e apoiados pelas equipas da organização que ecoava bem alto anunciando informações e musica. O centro histórico ca cidade é património da Unesco desde 1983. A principal avenida da cidade é composta por prédios magníficos, igrejas e cúpulas, todos com arcadas por baixo onde se instalou o comércio, fazendo desta avenida a mais longa avenida comercial coberta da Europa. No centro desta avenida encontra-se uma torre, a torre da defesa, com um relógio magnífico, designado de Zytglogge (relógio de ponto) e que aponta as horas com grande precisão há mais de 600 anos. No centro desta avenida é ainda decorado com esculturas magníficas e curiosas bem como por fontes e nascentes de água. Todo este esplendor desemboca no rio que conta a cidade em forma de ferradura. Outra das atrações é o parque dos ursos inaugurado em 2009. Trata-se de uma encosta ao lado de uma das muitas pontes da cidade e que tem com atração principal grandes ursos castanhos. O parque tem lagos e locais para os ursos escalarem e é atravessado por um elevador panorâmico que permite aos visitantes uma maior aproximação aos envergonhados ursos que no dia da nossa visita estavam particularmente preguiçosos. Muitas coisas ficaram para ver nesta magnífica cidade mas os 200km que nos separavam do nosso local de hospedagem fizeram-se regressar antes do anoitecer. Como a viagem
de regresso correu bem e chegamos a Annecy antes da hora prevista decidi contactar o Alain para aceitar o convite dele para conhecer a sua avioneta Lima. Ele prontificou-se a levar-nos ao aeródromo pois aproveitava para ajudar um amigo que havia comprado recentemente uma avioneta de um modelo mais recente. A ideia na minha cabeça era o André poder contactar com o pequeno avião e ver os comandos mas parece que na cabeça do Alain estavam outros planos. Depois de retirar a avioneta do hangar apenar com a força de um dos seus ombros que apoiavam a cauda, convidou-me a sentar e a voar. Eu prontamente recusei. Seria impensável sentar-me numa coisa daquelas. Depois e num pensamento
instantâneo olhei para o André e perguntei-lhe se ele gostaria de viver aquela experiência. O que acham que ele respondeu? Claro que sim, sem hesitar. Fiquei a vê-lo sentar-se e a colocar os phones e lá partiram para a pista. Filmei, orei e preocupei-me com o receio de qua algo pudesse correr mal. Acompanhei o voo pelo ecrã do telemóvel, nunca perdendo de vista a avioneta Lima amarela cor de canário. Sobrevoaram a cidade, o lago, os Alpes e finalmente começaram a aproximação à pista. A minha taquicardia só passou quando o vi de novo em terra firme. Vindo do nada o Alain olhou para mim e disse: - agora és tu! Acho que fiquei gelado e bloqueado e não aceitei dizendo que não me
entia confortável. Eu estava era cheio de medo. A ver esta minha hesitação o Alain falou comigo e fez-me ver que a sua experiência, a segurança da aeronave, as condições climatéricas e o entusiasmo do André deveriam mostrar que a experiência era absolutamente segura. Tive que tomar uma decisão no mento, ou vivia aquela experiência ou não iria ultrapassar aquela minha limitação. E lá me fui sentado nem sei bem como. O Alain com um cuidado extremo foi-me explicando tudo com pormenor, convidando-me para relaxar e para simplesmente apreciar. Tentei concentrar-me mas não em demasiado,
afastando os possíveis perigos da minha cabeça. Sei que não os varri apenas os arrumei momentaneamente mas sempre ali estampados na minha mente. Logo que a Lima de afastou do chão o receio aumentou mas em simultâneo a vontade de viver tudo aquilo sobrepôs-se permitindo-me apreciar uma das boas experiências da minha vida. A vista aérea do lago é indescritível, as sensações, os ângulos e as paisagens parecem retiradas de um filme. Adorei a experiência e agradeci e abracei o Alain por me ter ajudado a crescer mais um pouco naquele momento. No outro dia de manhã ainda
tivemos tempo de percorrer toda a extensão do lago de carro, procurando ângulos de visão que só se conseguem de determinados locais. Vimos castelos e projeções na água que vieram acrescentar beleza e gratidão à galeria das nossas  recordações.

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