mostrada pelo colega eram demasiado belas, cheias
de cor e de flores e tinham silhueta e perfil de quem convida a visitar e a
deixar-se apaixonar por um lugar. Os voos para Genebra estavam em oferta o que tornou
a decisão de ir, um processo quase obrigatório. Os nossos maravilhosos feriados
de junho compunham o resto do plano da viagem que poderia ser realizada sem
consumir dias de férias. Uma escolha ocasional e não planeada fez o menu
tornar-se ainda mais apetecível. Chegamos a Annecy a meio da tarde, com voo via
Géneve. Esta bela localidade nos flancos dos Alpes suíços dista cerca de 40 km
de Géneve, alcançando-se de forma tranquila por uma via rápida ou por estrada
secundária. Foi esta a escolha que fizemos para ir apreciando a paisagem verde
e bucólica desta
zona da Europa. Quando já se tem muitos anos de trabalho e a
idade já nos trouxe alguma serenidade, parece que apreciamos tudo com maior
intensidade. Parece que trabalhamos cada vez mais e mais horas e os momentos de
lazer sentem-se como formas de gratidão intensa e sem preço. A natureza verde, a
organização da sociedade Suíça e os meses intensos de trabalho sem tempos de descanso,
tornaram aqueles dias, apetecível, intensos e gratificantes. O alojamento criteriosamente
selecionado no Airbnb, correspondeu totalmente às imagens mostradas e aos
comentários dos outros utilizadores. Esperava-nos na estação de Annecy a
Jeanine e o Alain, o casal responsável pelo apartamento. Com uma cordialidade e
simplicidade extremas conduziram-nos até ao alojamento
que ficava logo ao lado
da estação. A casa era num prédio antigo com charme. À entrada fomos convidados
a tirar os sapatos porque o soalho, antigo de madeira, merecia um tratamento privilegiado.
Adorei a ideia pois já na Alemanha, minha segunda terra Natal, não era hábito
andarmos em casa calçados com os sapatos que utilizamos na rua. É uma questão
de higiene e de hábito perante a nossa forma de estar e de encarar a vida. A
casa era excecional, decorada com bom gosto, pormenor e carinho. Aguardava-nos
a mesa posta com uma garrafa de vinho com um cartão a desejar as boas vindas.
Delicioso. Depois de ficarmos a par dos funcionamentos básicos, o Alain convidou-nos
para visitar o aeródromo local onde tinha a sua avioneta, a Lima, pois era
piloto de aviões de recreio. Não
prometemos e combinados contactá-lo em função
da organização dos nossos passeios diários. O primeiro contacto com Annecy
encheu-nos de satisfação pois as características arquitetónicas e paisagistas
daquela localidade são intensas e permitem alimentar os espíritos inquietos e ávidos
de conhecimento. O centro histórico é todo medieval e recortado por canais de
água alimentados por um rio. A água é verde, limpa e translúcida. As ruas delimitadas
pelas paredes das casas, permitem explorar toda a zona centro com se estivéssemos
dentro de um capítulo da história. O comércio, pincela as ruas com cores e diversidade
conferindo à paisagem um perfil de pintura artística. As lojas perfilam-se debaixo
das ruas com arcadas pesadas de pedra, mostrando montras arrumadas e coloridas
convidando a entrar para sentir e apreciar a originalidade de alguns produtos ou
somente o aroma dos queijos ou a ordenação das vegetais e legumes para além da
forma artística da decoração das
montras dos talhos. Aqui e ali somos contaminados
com o aroma de crepes, preparados ao momento e confrontados com a irresistível
capacidade de resistir à provocadora massa de gelados que proliferam por todas
as esquinas. O canal Thiou recorta a cidade velha transformando o local numa Veneza
soberba a trazer as mágicas imagens dos gondoleiros à nossa memória. Um pequeno
forte construído no séc. XII, designado de Palais de L’islle recorta o canal
principal em 2 trajetos permitindo ângulos fotográficos únicos. Todas estas
ruas vão desaguar na frente de um magnífico lago que tem como parede de fundo
um planalto dos Alpes franceses. O passeio em redor do lago é tranquilo e belo,
convidando ao relaxamento para aqueles que como nós estavam de visita e servindo
de ginásio natural para os que aproveitam a envolvência da paisagem para correr
ou andar de bicicleta.
À volta do lago encontram-se grandes áreas relvadas que
convidam a relaxar aproveitando o sol. Completamente preenchidos com tanta
beleza regressamos aos nossos aposentos para aproveitar o conforto do apartamento
e programar a viagem do dia seguinte. A ideia era aproveitar os dias para
conhecer o máximo possível. Decidimos utilizar a estrada secundário que liga
Annecy a Chamonix para ir apreciando a paisagem calma e bela da região. Tendo
os Alpes por companhia, ao longo do trajeto eramos prendados com paisagens deslumbrantes
de restos de neve que escorria pelas encostas ou a pela tela desenhada pelas
nuvens baixas que enlaçavam as encostas adaptando-se ao relevo. As cascatas e
as flores primaveris eram uma constante oferta para os nossos olhos. Parámos em
Megéve, uma localidade imperdível. Percorrer as ruas de Megéve leva-nos de
volta ao mundo mágico do
Natal e da infância. É uma localidade toda construída em
casas de madeira, cheias de charme e encantadas pelos traços da arquitetura.
Quase todas tinham iluminação de exterior a contornar os perfis ou simplesmente
enormes cascatas de luzes de leds que ao anoitecer criam um ambiente de luz e um
cenário de autêntica magia. A curiosidade deste local foi descobrir em plena
praça central um DAE para utilização de visitantes e moradores. Um cartaz de
apoio explicava em 3 passos, com salvar uma vida e a mensagem para levar para
casa era a de que um desfibrilhador roubado seria igual a uma vida perdida. Magnífico!
Isto revela inteligência, civilização, qualidade e respeito.
Chamonix é
diferente de Megéve. É igualmente envolvente mas Megéve é soberba. Almoçámos numa
das muitas explanadas do centro da vila depois de uma criteriosa escolha dos
menus, pois os preços são pouco atrativos e é preciso perceber a relação do
custo com a oferta. Os menus do dia pareciam ser mais atrativos pois incluíam entrada
e sobremesa. Apesar do preço não podíamos deixar de matar saudades das moulles que
nos transportam sempre para os recantos da memória da nossa amada Paris. Uma
das ideias principais que nos levou a Chamonix era poder subir no teleférico e poder
apreciar a beleza contagiante do Mont Blanc, mas parece que essa paisagem não
nos estava destinada. No
momento da chegada às bilheteiras, foi anunciado o
encerramento do equipamento por se aproximar uma tempestade. Ficamos desolados
mas não havia forma de contornar o poder da meteorologia. Como chegamos a meio
da tarde a Aneccy voltamos a percorrer a zona do lago mas para o lado contrário
do primeiro dia. Lá estava a ponte dos amores, que todos os turistas atravessam
e fotografam para que possam cumprir a tradição e sentirem-se abençoados pelo
amor. O dia seguinte estava destinado a ir um pouco mais longe, visitar Berna a
capital da Suíça. Foi um percurso longo mas que valeu a pena. A estrada é ótima
com piso e sinalética como só a Suíça pode oferecer. Os muitos
túneis, alguns com
quilómetros fazem do percurso um passeio diferente e heterogéneo. A entrada em
Berna foi tranquila não fosse a dificuldade em perceber o parque que ficaria
mais próximo do centro e das atrações principais. Acabamos por atravessar a
cidade que nos encheu com o seu encanto arquitetónico. Escolhido o parque da
estação de comboios, logo na entrada, foi necessário levantar francos suíços da
ATM mais próxima pois os wc’s eram todos pagos. Percorremos as principais artérias
da cidade a pé entrando de novo numa autêntica atmosfera medieval. Decorria na
cidade, nesse dia, um evento desportivo de grande escala pelo que as artérias
encontravam-se
preenchidas com milhares de adeptos trajados com roupas
coloridas e apoiados pelas equipas da organização que ecoava bem alto anunciando
informações e musica. O centro histórico ca cidade é património da Unesco desde
1983. A principal avenida da cidade é composta por prédios magníficos, igrejas
e cúpulas, todos com arcadas por baixo onde se instalou o comércio, fazendo
desta avenida a mais longa avenida comercial coberta da Europa. No centro desta
avenida encontra-se uma torre, a torre da defesa, com um relógio magnífico,
designado de Zytglogge (relógio de ponto) e que aponta as horas com grande
precisão há mais de 600 anos. No centro desta avenida é ainda decorado com
esculturas magníficas e curiosas bem como por fontes e nascentes de água. Todo
este esplendor desemboca no rio que conta a cidade em forma de ferradura. Outra
das atrações é o parque dos ursos inaugurado em 2009. Trata-se de uma encosta
ao lado de uma das muitas pontes da cidade e que tem com atração principal grandes
ursos castanhos. O parque tem lagos e locais para os ursos escalarem e é
atravessado por um elevador panorâmico que permite aos visitantes uma maior
aproximação aos envergonhados ursos que no dia da nossa visita estavam
particularmente preguiçosos. Muitas coisas ficaram para ver nesta magnífica
cidade mas os 200km que nos separavam do nosso local de hospedagem fizeram-se
regressar antes do anoitecer. Como a viagem
de regresso correu bem e chegamos a
Annecy antes da hora prevista decidi contactar o Alain para aceitar o convite
dele para conhecer a sua avioneta Lima. Ele prontificou-se a levar-nos ao aeródromo
pois aproveitava para ajudar um amigo que havia comprado recentemente uma
avioneta de um modelo mais recente. A ideia na minha cabeça era o André poder
contactar com o pequeno avião e ver os comandos mas parece que na cabeça do
Alain estavam outros planos. Depois de retirar a avioneta do hangar apenar com
a força de um dos seus ombros que apoiavam a cauda, convidou-me a sentar e a
voar. Eu prontamente recusei. Seria impensável sentar-me numa coisa daquelas.
Depois e num pensamento
instantâneo olhei para o André e perguntei-lhe se ele
gostaria de viver aquela experiência. O que acham que ele respondeu? Claro que
sim, sem hesitar. Fiquei a vê-lo sentar-se e a colocar os phones e lá partiram
para a pista. Filmei, orei e preocupei-me com o receio de qua algo pudesse
correr mal. Acompanhei o voo pelo ecrã do telemóvel, nunca perdendo de vista a
avioneta Lima amarela cor de canário. Sobrevoaram a cidade, o lago, os Alpes e
finalmente começaram a aproximação à pista. A minha taquicardia só passou
quando o vi de novo em terra firme. Vindo do nada o Alain olhou para mim e
disse: - agora és tu! Acho que fiquei gelado e bloqueado e não aceitei dizendo
que não me
entia confortável. Eu estava era cheio de medo. A ver esta minha
hesitação o Alain falou comigo e fez-me ver que a sua experiência, a segurança
da aeronave, as condições climatéricas e o entusiasmo do André deveriam mostrar
que a experiência era absolutamente segura. Tive que tomar uma decisão no
mento, ou vivia aquela experiência ou não iria ultrapassar aquela minha
limitação. E lá me fui sentado nem sei bem como. O Alain com um cuidado extremo
foi-me explicando tudo com pormenor, convidando-me para relaxar e para simplesmente
apreciar. Tentei concentrar-me mas não em demasiado,
afastando os possíveis
perigos da minha cabeça. Sei que não os varri apenas os arrumei momentaneamente
mas sempre ali estampados na minha mente. Logo que a Lima de afastou do chão o receio
aumentou mas em simultâneo a vontade de viver tudo aquilo sobrepôs-se permitindo-me
apreciar uma das boas experiências da minha vida. A vista aérea do lago é
indescritível, as sensações, os ângulos e as paisagens parecem retiradas de um
filme. Adorei a experiência e agradeci e abracei o Alain por me ter ajudado a
crescer mais um pouco naquele momento. No outro dia de manhã ainda
tivemos tempo
de percorrer toda a extensão do lago de carro, procurando ângulos de visão que
só se conseguem de determinados locais. Vimos castelos e projeções na água que vieram
acrescentar beleza e gratidão à galeria das nossas recordações.
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