Viajamos porque é necessário, porque é
divertido, simplesmente porque queremos, porque combinamos, porque é divertido,
porque é diferente e porque tantas outras razões. Quando viajamos de um lado
para o outro, somos provocados com
estímulos diferentes daqueles
que conhecemos e a que já nos habituamos quando
nos movemos na nossa zona de conhecimento e de conforto. Quando viajamos
necessitamos de activar outras áreas do nosso cérebro que implicam
necessariamente a focagem numa observação mais atenta, na preparação para a
assimilação e processamento de estímulos diversificados e na gestão dessa
informação. As viagens podem ser diferentes em função das razões que levaram a
sua realização, tal como é diferente a forma como encaramos o meio escolhido
para as concretizar, o seu tempo de duração e a expectativa que quase sempre
fazemos quando
tomamos a decisão de nos mudarmos para outros destinos. Viajar
pode ser um privilégio para uns e uma tarefa muito aborrecida para outros no
entanto, temos todos a garantia de que quando percorremos outros caminho algo
em nós fica diferente. Esse incremento motivado pela activação e experimentação
de estímulos diversos pode ser sentido e processado com mais ou menos
intensidade em função da modus como sentimos estes novos impulsos e a forma
como processamos os novos resultados. Muitos de nós encaram uma viagem como uma
experiência aborrecida porque obriga à ativação de estados de alerta e à
necessária mudança de estado cerebral. Uma deslocação é sempre acompanhada de
uma mudança e este novo estado pode mesmo tornar-se ameaçador. Vivemos num
mundo de mudanças vertiginosas e onde a globalidade das coisas assumiu um tal
patamar que é difícil permanecer indiferente. Vivemos acelerados na vida
familiar, na atividade profissional, no convívio com os amigos. Tudo é
programado com timings e objetivos muitas vezes
traçados apenas mentalmente,
mas traçados. Educamos os nosso filhos a correr, dormimos a correr,
alimentamo-nos depressa, os nossos filhos crescem à mesma velocidade acelerada
a que envelhecemos. A informação viaja depressa, a ciência produz resultados
rápidos, embora em muitas situações desejássemos que fosse ainda mais célere.
Nunca se viajou tanto no mundo como hoje. O mundo longínquo e distante de
algumas décadas atrás, tornou-se agora próximo e al alcance de muitos. Pelo
fluxo de deslocações diárias no planeta para que muito de nós têm muita vontade
de nos deslocarmos para conhecer cada vez mais aquilo que o mundo tem para nos
mostrar e
que, como habitantes da terra, sentimos como um dever de conhecer. No
entanto viajar tem algumas implicações, que começam pelas razões apontadas
acima mas também pela necessidade de disponibilizar tempo útil, recursos
financeiros e algum material essencial.
Com a enorme e diversificada oferta que
temos ao dispor é fácil planear uma viajem à medida de cada vontade e do nível
de exigência. A forma como hoje olhamos para o mundo globalizado fá-lo parecer
pequeno e alcançável e ele é tangível. Mas não podemos esquecer que temos
enormes continentes e massas de águas ainda maiores. O mundo é atingível,
alcançável mas é grande. Se assim é parece não fazer muito sentido, a não ser
que já sejamos detentores do record de visita do mundo integral, viajarmos
várias vezes
para o mesmo local. Esta opção poderá parecer desperdício de
recursos a não ser, claro está, que tenhamos obrigações periódicas em locais
diferentes e distanciados dos lugares onde nos movimentamos habitualmente. No
entanto visitar os mesmos locais por mais que uma vez faz muito sentido não só
quando temos obrigações a cumprir mas também, porque cada vez que pisamos
terras que já fazem parte do nosso banco de memórias, as podemos sentir e viver
de uma forma diferente. Visitar um mesmo local com diferentes disponibilidades
de tempo ou com o espírito adaptado ao objetivo que nos leva a um local
conhecido, permite a aquisição de novas e diferentes formas de sentir aquele
mesmo local. Se, numa primeira visita a um local, a nossa deslocação for pouco
exigente e por exemplo, escolhermos um alojamento, que apesar de confortável
não acrescenta nada ao que já conhecemos ou ficarmos por uma alimentação básica
apenas ao estilo low cost, apesar das paisagens permanecerem basicamente
imutáveis a forma como as olhamos e sentimos pode ser diferente daquela outra
vez em que o alojamento nos permitiu sentir desafios e a ementa nos permitiu activar
o olfacto e o gosto para experiências gastronómicas inesquecíveis. Da
mesma forma, viajar sozinho ou acompanhado permite que tomemos opções e
exploremos uma região de formas muitos diferentes. Observar uma paisagens,
apreciar uma peça de arte ou saborear um bom prato ou vinho provoca-nos estado
de alma completamente diferentes. Uma viajem solitária pode ser uma experiência
avassaladora
pois permite a cada um de nós explorar ao máximo os sentidos e
aguçar a reflexão. Se tivemos companhia, as opções devem ser partilhadas e esta
transmissão de sensações
processam no nosso cérebro outros estados alma e de
espírito que contribuem para sentirmos perante as mesmas experiências sensações
de bem-estar muito diferentes. Ambas as formas são ricas e contribuem para
aumentar os nossos conhecimentos. Nesta perspetiva transmitida regressei ao
Porto, minha terra Natal, já muitas vezes visitado. Como para mim viajar sempre
foi o gesto natural, quase que tenho dificuldade em entender as
razões que
levam muitas pessoas a não quererem alargar os seus horizontes e diplomarem-se
em novas e tentadoras experiências. Mas certamente estas diferenças
estarão,
acredito eu, inscritas no nosso código genético e depois, tal como no resta das (dis) funções orgânicas ou psicológicas o meio ambiente e o processo educativo
moldarão o resto dos traços, das razões, das vontades e das motivações. Desde
pequeno me recordo de sonhar com o mundo. Sabia o que queria e onde desejaria
ir. Como mais ou menos dificuldades e alguns atropelos na escolha dos caminhos
tentei traçar o meu destino pessoal e profissional sempre com uma força interna
que me impelia para o mundo. Sou filho de pais que no final do século passado,
quando o mundo ainda era distante,
atravessaram a Europa para procurar conforto
além das fronteiras lusas. Como certamente o código dos meus genes, inscrito
durante a conceção e a diferenciação celular, já lá tinha as orientações
básicas, este contacto desde muito jovem com destinos, na altura quase
inatingíveis, há-de ter feito o resto do trabalho. Nunca me lembro de ter
achado as viagens um aborrecimento. O sentimento que me tem acompanhado ao longo
da vida tem sido sempre uma força, por vezes difícil de dominar, de um
sentimento de impotência e de
incapacidade de me libertar para planear e partir
pelo mundo. Posso tipificar-me como um ser irrequieto, com uma força de
motivação alimentada por uma chama que emite labaredas dispersas e heterogéneas
que procuram alcançar, tal como u fogo que nunca se apaga, o maior número de experiências
e conhecimentos possíveis. Esta adjectivação da minha forma de ser, analisado à
luz das neurociências modernas certamente culminaria em
algum diagnóstico
conhecido e publicado em revistas da especialidade, como por exemplo a
hiperatividade e agora, uma da minha autos sugestão, hiperconcentração ao invés
do moderno défice de atenção. Voltando à viajem ao Porto, não tem conta o
numero de vezes
que já vim ao Porto. Será porque tenho uma relação
pseudo-umbilical com esta cidade? Sim, porque o cordão umbilical foi cortado
para me separar da minha mãe mas esta vontade que nunca cessa de visitar esta
pérola do norte, nunca me cansa. Desta vez a razão da viagem foi a conclusão de
uma formação para terminar mais um ciclo de estudos e uma nova certificação
académica. A deslocação escolhida foi o comboio que é uma opção económica, tranquila e
relativamente rápida. Viajei sozinho e escolhi, apenas pensando no conforto
mínimo e na localização para deslocações a pé e por estratégias de proximidade
com transportes públicos, uma acomodação de conforto mínimo que já conhecia. A
formação onde se exploraram durante longas horas conteúdos relacionados com a
reanimação avançada de vítimas adultas, decorreu como era esperado com o nível
de qualidade técnica e pedagógica que já conhecia. No final, apesar do
interesse do tema,
não deixou de persistir o cansaço e a saturação. Como o sol
ainda ia alto e estava uma tarde que mais aprecia de um verão algarvio, munido
do meu andante, rumei ao centro da cidade e fui lavar os olhos à ribeira e
cumprimentar o rio e dizer olá a Gaia. Depois de disparar umas quantos
fotografias e de contribuir para as recordações de um jovem casal que me
solicitou ajuda para um enquadramento para memória futura, rumei ao edifício da
alfândega o vinho verde wine fest. Trata-se de um evento onde as companhias
produtoras de vinho expõe os sues produtos dando a conhecer num sentido de
oportunidade fantástico as suas produções e afamadas castas. O evento era ao ar
livre à beira rio num cenário algo chique e mas descontraído. O ingresso de
entrada permitia 8 provas de vinho e um copo. Para complementar as provas o
espaço muniu-se de quiosques com petiscos diversos para gostos diferentes e
experiências gastronómicas enriquecedoras. Optei por uma espetada de
batatas
fritas com casca que se podiam aromatizar com sal e orégãos ou com sal e
tomate. Depois de procurar um verde rosé dos muitos que por lá havia acedi
porque achei diferente e tentador, provar um cocktail elaborado a partir do
vinho que tinha escolhido. A Esta obra que mistura cores a aromas numa
experiência sensorial única foi um deleite para que arriscou aceder a esta experiência.
A produtora dos cocktails escolhia os ingredientes sólidos e líquidos em,
função do tipo de vinho numa mistura que eu diria sagrada e secreta. A única
exigência que fiz, completamente “sem rede” por não saber se a combinação
resultaria, foi pedir a mistura de sumo de maracujá que adoro. A cientista que
habilmente construía a minha experiência acrescentou morango, gelo e um licor
que por se encontrar dentro de uma bota de vidro se designava de licor do
sapatinho e cuja composição naturalmente estava no segredo dos
Deuses. Foi
magnífica a experiência. Percorri mais duas ou três bancas de provas enquanto
assistia a alguns show cookings e assimilava o ambiente bonito e descontraído
dos meus companheiro de festiva. Fiquei longe de esgotar as minhas oito possibilidades
de provas pois o dia tinha sido longo e a viagem de regresso ainda era algo
distante. Para além disso era necessário tratar da refeição do jantar já que
almoço havia sido cedo embora delicioso com os filetes de polvo a fazerem a
terapia necessária e muito adequada para o meu sofisticado paladar. Como havia
localizado nas imediações do hotel uma pizzaria que me chamou a atenção, em vez
de petiscar pelo centro da cidade que se encontrava cheio de visitantes que
apreciavam os diversos menus
em agradáveis ambientes, decidi arriscar na
pizzaria. Depois de me anunciar e comunicar o meu propósito fui convidado a
escolher um lugar para sentar. Dentro do espaço fiquei logo impressionado com
aquilo com que aquele espaço me contaminou. Até onde os meus olhos alcançavam
podia avistar copos onde a luz era projectada fazendo-os cintilar como que a
dizer, bem-vindo. Tratavam-se de copos de cerveja de muitas medidas e formas, a
maioria com monogramas que faziam parte da sua identidade dando a conhecer de
que parte do mundo vieram mas não explicando a razão porque estavam ali. Outro
grande motivo de atracção eras as múltiplas garrafas de cerveja também elas
estrategicamente colocadas contribuindo para a decoração e o aconchego
daquele espaço. Depois de escolher a minha pizza favorita, a quatro estações
(em matéria de pizzas sou um pouco conservador embora não seja hermético)
apesar de ter sido aconselhado pelo senhor que mais tarde vim a saber chamar-se
Vasco. Enquanto aguardava o meu prato italiano deambulei pelo espaço na procura
de locais para fotografar e tentando encontrar algo que me explicasse como
se relaciona o tema das cervejas com um restaurante puramente italiano. Não
encontrei. Os meus olhos cruzaram-se com algumas marcas de cerveja que
conhecia, ou porque já as havia provado ou simplesmente porque já havia
processado visualmente um ou outro rótulo, algures pelo mundo. Não tenho por hábito fotografar
espaços sem pedir autorização prévia mas confesso que neste restaurante a minha
curiosidade fotográfica teve início logo no wc. A meio da minha refeição não
resisti e a minha perseverança foi superior à minha curiosidade e abordei o
senhor que servia aquele espaço perguntando de forma direta a resposta à minha
pergunta. Ali iniciei uns momentos de conversa com um homem adorável que partilhou
comigo um pouco da sua grande e magnífica experiência de vida. O Vasco, como
fez questão que o tratasse, era um homem do mundo. Revelou-me que viveu muitos anos em
Moçambique e depois na África do Sul e que toda aquela paixão pelo mundo da
restauração tinha sido adquirida pela influência do seu pai. Depois da vida
para além do equador retornou a Portugal onde estudou Gestão de empresas mas
este resultado não o satisfez tendo-o impulsionado para outras paragens, desta
feita na Europa no sentido de procurar
experiências que o conduzissem ao mundo
e a vocação que tanto procurava. Já com o restaurante aberto rumou a Itália
para aí se cultivar em diversas áreas deste mundo da restauração, como cursos e
formações em restaurantes, escolas e hotéis. A Dinamarca também integrou a
lista dos mais de 45 países que já conhece. No restaurante do Vasco
podem-se provar 85 marcas de cerveja, o que faz daquele espaço o restaurante do país com mais marcas de cerveja. Não deixa de ser curioso e não devemos esquecer
que estamos dentro de um restaurante italiano. Apesar de eu ser um grande
apreciador de cerveja, acho que nunca desgostei de nenhuma, pelo que não hesitei
em pedir ajuda ao Vasco na escolha da cerveja para acompanhar a minha deliciosa
pizza. Recomendou-me uma Paulaner de pressão, alemã e servida numa fabulosa
caneca que me transportou de imediato para a bela e única festa da cerveja em
Munique que o Vasco também já tinha visitado algumas vezes. Fiquei extasiado
com a simpatia e partilha do Vasco que me confessou que todo o ambiente que se
respira no restaurante foi pensado e projetado por
ele que sempre sonhou com um
espaço onde os sues clientes pudessem sentir a diferença e pudessem sentir, saborear e beber um pouco das experiências que o Vasco trouxe das diversas
parte do mundo por onde andou. Quero voltar à Trattoria Romana quando voltar ao
Porto. Quero trazer a família para que possam ter, tal como eu, mais uma
experiência gastronómica enriquecida com um ingrediente único e especial que é
a companhia do Vasco.
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