Monday, July 27, 2015

Porque viajamos? Porto (reanimação avançada e vinho verde wine fest)

Viajamos porque é necessário, porque é divertido, simplesmente porque queremos, porque combinamos, porque é divertido, porque é diferente e porque tantas outras razões. Quando viajamos de um lado para o outro,  somos provocados com estímulos diferentes daqueles 
que conhecemos e a que já nos habituamos quando nos movemos na nossa zona de conhecimento e de conforto. Quando viajamos necessitamos de activar outras áreas do nosso cérebro que implicam necessariamente a focagem numa observação mais atenta, na preparação para a assimilação e processamento de estímulos diversificados e na gestão dessa informação. As viagens podem ser diferentes em função das razões que levaram a sua realização, tal como é diferente a forma como encaramos o meio escolhido para as concretizar, o seu tempo de duração e a expectativa que quase sempre fazemos quando 
tomamos a decisão de nos mudarmos para outros destinos. Viajar pode ser um privilégio para uns e uma tarefa muito aborrecida para outros no entanto, temos todos a garantia de que quando percorremos outros caminho algo em nós fica diferente. Esse incremento motivado pela activação e experimentação de estímulos diversos pode ser sentido e processado com mais ou menos intensidade em função da modus como sentimos estes novos impulsos e a forma como processamos os novos resultados. Muitos de nós encaram uma viagem como uma experiência aborrecida porque obriga à ativação de estados de alerta e à necessária mudança de estado cerebral. Uma deslocação é sempre acompanhada de uma mudança e este novo estado pode mesmo tornar-se ameaçador. Vivemos num mundo de mudanças vertiginosas e onde a globalidade das coisas assumiu um tal patamar que é difícil permanecer indiferente. Vivemos acelerados na vida familiar, na atividade profissional, no convívio com os amigos. Tudo é programado com timings e objetivos muitas vezes 
traçados apenas mentalmente, mas traçados. Educamos os nosso filhos a correr, dormimos a correr, alimentamo-nos depressa, os nossos filhos crescem à mesma velocidade acelerada a que envelhecemos. A informação viaja depressa, a ciência produz resultados rápidos, embora em muitas situações desejássemos que fosse ainda mais célere. Nunca se viajou tanto no mundo como hoje. O mundo longínquo e distante de algumas décadas atrás, tornou-se agora próximo e al alcance de muitos. Pelo fluxo de deslocações diárias no planeta para que muito de nós têm muita vontade de nos deslocarmos para conhecer cada vez mais aquilo que o mundo tem para nos mostrar e 
que, como habitantes da terra, sentimos como um dever de conhecer. No entanto viajar tem algumas implicações, que começam pelas razões apontadas acima mas também pela necessidade de disponibilizar tempo útil, recursos financeiros e algum material essencial. 
Com a enorme e diversificada oferta que temos ao dispor é fácil planear uma viajem à medida de cada vontade e do nível de exigência. A forma como hoje olhamos para o mundo globalizado fá-lo parecer pequeno e alcançável e ele é tangível. Mas não podemos esquecer que temos enormes continentes e massas de águas ainda maiores. O mundo é atingível, alcançável mas é grande. Se assim é parece não fazer muito sentido, a não ser que já sejamos detentores do record de visita do mundo integral, viajarmos várias vezes 
para o mesmo local. Esta opção poderá parecer desperdício de recursos a não ser, claro está, que tenhamos obrigações periódicas em locais diferentes e distanciados dos lugares onde nos movimentamos habitualmente. No entanto visitar os mesmos locais por mais que uma vez faz muito sentido não só quando temos obrigações a cumprir mas também, porque cada vez que pisamos terras que já fazem parte do nosso banco de memórias, as podemos sentir e viver de uma forma diferente. Visitar um mesmo local com diferentes disponibilidades de tempo ou com o espírito adaptado ao objetivo que nos leva a um local 
conhecido, permite a aquisição de novas e diferentes formas de sentir aquele mesmo local. Se, numa primeira visita a um local, a nossa deslocação for pouco exigente e por exemplo, escolhermos um alojamento, que apesar de confortável não acrescenta nada ao que já conhecemos ou ficarmos por uma alimentação básica apenas ao estilo low cost, apesar das paisagens permanecerem basicamente imutáveis a forma como as olhamos e sentimos pode ser diferente daquela outra vez em que o alojamento nos permitiu sentir desafios e a ementa nos permitiu activar 
olfacto e o gosto para experiências gastronómicas inesquecíveis. Da mesma forma, viajar sozinho ou acompanhado permite que tomemos opções e exploremos uma região de formas muitos diferentes. Observar uma paisagens, apreciar uma peça de arte ou saborear um bom prato ou vinho provoca-nos estado de alma completamente diferentes. Uma viajem solitária pode ser uma experiência avassaladora 
pois permite a cada um de nós explorar ao máximo os sentidos e aguçar a reflexão. Se tivemos companhia, as opções devem ser partilhadas e esta transmissão de sensações 
processam no nosso cérebro outros estados alma e de espírito que contribuem para sentirmos perante as mesmas experiências sensações de bem-estar muito diferentes. Ambas as formas são ricas e contribuem para aumentar os nossos conhecimentos. Nesta perspetiva transmitida regressei ao Porto, minha terra Natal, já muitas vezes visitado. Como para mim viajar sempre foi o gesto natural, quase que tenho dificuldade em entender as 
razões que levam muitas pessoas a não quererem alargar os seus horizontes e diplomarem-se em novas e tentadoras experiências. Mas certamente estas diferenças 
estarão, acredito eu, inscritas no nosso código genético e depois, tal como no resta das (dis) funções orgânicas ou psicológicas o meio ambiente e o processo educativo moldarão o resto dos traços, das razões, das vontades e das motivações. Desde pequeno me recordo de sonhar com o mundo. Sabia o que queria e onde desejaria ir. Como mais ou menos dificuldades e alguns atropelos na escolha dos caminhos tentei traçar o meu destino pessoal e profissional sempre com uma força interna que me impelia para o mundo. Sou filho de pais que no final do século passado, quando o mundo ainda era distante, 
atravessaram a Europa para procurar conforto além das fronteiras lusas. Como certamente o código dos meus genes, inscrito durante a conceção e a diferenciação celular, já lá tinha as orientações básicas, este contacto desde muito jovem com destinos, na altura quase inatingíveis, há-de ter feito o resto do trabalho. Nunca me lembro de ter achado as viagens um aborrecimento. O sentimento que me tem acompanhado ao longo da vida tem sido sempre uma força, por vezes difícil de dominar, de um sentimento de impotência e de 
incapacidade de me libertar para planear e partir pelo mundo. Posso tipificar-me como um ser irrequieto, com uma força de motivação alimentada por uma chama que emite labaredas dispersas e heterogéneas que procuram alcançar, tal como u fogo que nunca se apaga, o maior número de experiências e conhecimentos possíveis. Esta adjectivação da minha forma de ser, analisado à luz das neurociências modernas certamente culminaria em 
algum diagnóstico conhecido e publicado em revistas da especialidade, como por exemplo a hiperatividade e agora, uma da minha autos sugestão, hiperconcentração ao invés do moderno défice de atenção. Voltando à viajem ao Porto, não tem conta o numero de vezes 
que já vim ao Porto. Será porque tenho uma relação pseudo-umbilical com esta cidade? Sim, porque o cordão umbilical foi cortado para me separar da minha mãe mas esta vontade que nunca cessa de visitar esta pérola do norte, nunca me cansa. Desta vez a razão da viagem foi a conclusão de uma formação para terminar mais um ciclo de estudos uma nova certificação académica. A deslocação escolhida foi o  comboio que é uma opção económica, tranquila e relativamente rápida. Viajei sozinho e escolhi, apenas pensando no conforto mínimo e na localização para deslocações a pé e por estratégias de proximidade com transportes públicos, uma acomodação de conforto mínimo que já conhecia. A formação onde se exploraram durante longas horas conteúdos relacionados com a reanimação avançada de vítimas adultas, decorreu como era esperado com o nível de qualidade técnica e pedagógica que já conhecia. No final, apesar do interesse do tema, 
não deixou de persistir o cansaço e a saturação. Como o sol ainda ia alto e estava uma tarde que mais aprecia de um verão algarvio, munido do meu andante, rumei ao centro da cidade e fui lavar os olhos à ribeira e cumprimentar o rio e dizer olá a Gaia. Depois de disparar umas quantos fotografias e de contribuir para as recordações de um jovem casal que me solicitou ajuda para um enquadramento para memória futura, rumei ao edifício da alfândega o vinho verde wine fest. Trata-se de um evento onde as companhias produtoras de vinho expõe os sues produtos dando a conhecer num sentido de oportunidade fantástico as suas produções e afamadas castas. O evento era ao ar livre à beira rio num cenário algo chique e mas descontraído. O ingresso de entrada permitia 8 provas de vinho e um copo. Para complementar as provas o espaço muniu-se de quiosques com petiscos diversos para gostos diferentes e experiências gastronómicas enriquecedoras. Optei por uma espetada de 
batatas fritas com casca que se podiam aromatizar com sal e orégãos ou com sal e tomate. Depois de procurar um verde rosé dos muitos que por lá havia acedi porque achei diferente e tentador, provar um cocktail elaborado a partir do vinho que tinha escolhido. A Esta obra que mistura cores a aromas numa experiência sensorial única foi um deleite para que arriscou aceder a esta experiência. A produtora dos cocktails escolhia os ingredientes sólidos e líquidos em, função do tipo de vinho numa mistura que eu diria sagrada e secreta. A única exigência que fiz, completamente “sem rede” por não saber se a combinação resultaria, foi pedir a mistura de sumo de maracujá que adoro. A cientista que habilmente construía a minha experiência acrescentou morango, gelo e um licor que por se encontrar dentro de uma bota de vidro se designava de licor do sapatinho e cuja composição naturalmente estava no segredo dos 
Deuses. Foi magnífica a experiência. Percorri mais duas ou três bancas de provas enquanto assistia a alguns show cookings e assimilava o ambiente bonito e descontraído dos meus companheiro de festiva. Fiquei longe de esgotar as minhas oito possibilidades de provas pois o dia tinha sido longo e a viagem de regresso ainda era algo distante. Para além disso era necessário tratar da refeição do jantar já que almoço havia sido cedo embora delicioso com os filetes de polvo a fazerem a terapia necessária e muito adequada para o meu sofisticado paladar. Como havia localizado nas imediações do hotel uma pizzaria que me chamou a atenção, em vez de petiscar pelo centro da cidade que se encontrava cheio de visitantes que apreciavam os diversos menus 

em agradáveis ambientes, decidi arriscar na pizzaria. Depois de me anunciar e comunicar o meu propósito fui convidado a escolher um lugar para sentar. Dentro do espaço fiquei logo impressionado com aquilo com que aquele espaço me contaminou. Até onde os meus olhos alcançavam podia avistar copos onde a luz era projectada fazendo-os cintilar como que a dizer, bem-vindo. Tratavam-se de copos de cerveja de muitas medidas e formas, a maioria com monogramas que faziam parte da sua identidade dando a conhecer de que parte do mundo vieram mas não explicando a razão porque estavam ali. Outro grande motivo de atracção eras as múltiplas garrafas de cerveja também elas estrategicamente colocadas contribuindo para a decoração e o aconchego daquele espaço. Depois de escolher a minha pizza favorita, a quatro estações (em matéria de pizzas sou um pouco conservador embora não seja hermético) apesar de ter sido aconselhado pelo senhor que mais tarde vim a saber chamar-se Vasco. Enquanto aguardava o meu prato italiano deambulei pelo espaço na procura de locais para fotografar e tentando encontrar algo que me explicasse como 
se relaciona o tema das cervejas com um restaurante puramente italiano. Não encontrei. Os meus olhos cruzaram-se com algumas marcas de cerveja que conhecia, ou porque já as havia provado ou simplesmente porque já havia processado visualmente um ou outro rótulo, algures pelo mundo. Não tenho por hábito fotografar espaços sem pedir autorização prévia mas confesso que neste restaurante a minha curiosidade fotográfica teve início logo no wc. A meio da minha refeição não resisti e a minha perseverança foi superior à minha curiosidade e abordei o 
senhor que servia aquele espaço perguntando de forma direta a resposta à minha pergunta. Ali iniciei uns momentos de conversa com um homem adorável que partilhou comigo um pouco da sua grande e magnífica experiência de vida. O Vasco, como fez questão que o tratasse, era um homem do mundo.  Revelou-me que viveu muitos anos em Moçambique e depois na África do Sul e que toda aquela paixão pelo mundo da restauração tinha sido adquirida pela influência do seu pai. Depois da vida para além do equador retornou a Portugal onde estudou Gestão de empresas mas este resultado não o satisfez tendo-o impulsionado para outras paragens, desta feita na Europa no sentido de procurar 
experiências que o conduzissem ao mundo e a vocação que tanto procurava. Já com o restaurante aberto rumou a Itália para aí se cultivar em diversas áreas deste mundo da restauração, como cursos e formações em restaurantes, escolas e hotéis. A Dinamarca também integrou a lista dos mais de 45 países que já conhece. No restaurante do Vasco podem-se provar 85 marcas de cerveja, o que faz daquele espaço o restaurante do país com mais marcas de cerveja. Não deixa de ser curioso e não devemos esquecer que estamos dentro de um restaurante italiano. Apesar de eu ser um grande apreciador de cerveja, acho que nunca desgostei de nenhuma, pelo que não hesitei em pedir ajuda ao Vasco na escolha da cerveja para acompanhar a minha deliciosa pizza. Recomendou-me uma Paulaner de pressão, alemã e servida numa fabulosa caneca que me transportou de imediato para a bela e única festa da cerveja em Munique que o Vasco também já tinha visitado algumas vezes. Fiquei extasiado com a simpatia e partilha do Vasco que me confessou que todo o ambiente que se respira no restaurante foi pensado e projetado por 
ele que sempre sonhou com um espaço onde os sues clientes pudessem sentir a diferença e pudessem sentir, saborear e beber um pouco das experiências que o Vasco trouxe das diversas parte do mundo por onde andou. Quero voltar à Trattoria Romana quando voltar ao Porto. Quero trazer a família para que possam ter, tal como eu, mais uma experiência gastronómica enriquecida com um ingrediente único e especial que é a companhia do Vasco. 

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