Como muitas histórias do nosso
imaginário, as histórias que hoje se vivem e constroem e delas se contam em
folhas de papel, a história comemorativa de um final de ano pode bem começar por, era
uma vez…
Os anos sucedem-se, uns após os outros
deixando a perceção de que cada um de nós cumpriu o nosso dever enquanto seres habitantes deste planeta. Fazem-se os balanços do que se fez, do muito que
gostaria de se ter feito e fica em perspectiva e a surpresa do que nos espera no
futuro. Cada ano que passa representa uma marca na vida de cada um de nós. As
experiências que vivemos são avaliadas pela sua duração, numero e intensidade e escrutinadas para delas se extraírem as boas sensações, as
recordações e por ventura os skills que nos enriquecem e nos deixam mais bem
preparados para os novos dias das nossas vidas. Como data marcante pelo seu
simbolismo e forte representatividade na vida de todos os habitantes do
planeta, o final de um ano é comemorado por todo o mundo com múltiplas facetas
de acordo com a imaginação e as crenças desenvolvidas pela riqueza
antropológica
e cultural dos habitantes da terra. Fazem-se desejos, vestem-se
trajes de gala, preparam-se ementas especiais e brinda-se à paz, à saúde, ao
amor e à prosperidade. As comemorações são preparadas com requinte, alegria e
imaginação. Cada um com o seu contributo constrói cenários, prepara discursos e
delicia-se com a presença dos familiares e amigos. Tudo isto é acompanhado com
música a gosto, confettis, chapéus, apitos e tudo o que possa contribuir para
incrementar a alegria de fazer parte desta noite memorável. Nada disto fica
completo sem o memorável, estrondoso, contagiante e colorido fogo-de-artifício.
Este desenha nos céus imaginários que constroem figuras e ornamentos para lá
do que é possível prever. Por cada projéctil os céus iluminam-se e fazem-se
expressões admiráveis de alegria e espanto e pensa-se no valor e na beleza da
vida e desejam-se promessas de esperança no
futuro. Desta forma, o mundo
prepara-se para deixar inscrito nos registos da história o ano que finda e recebe
com expressões de vivacidade o novo ano que está para chegar. A nossa história,
este ano, inscreveu-se ela também em mais uma experiência marcante nas nossas
vidas e que permitiu alimentar de forma grandiosa o banco das nossas memórias.
Após algum tempo de pesquisa onde se relacionaram factores como a distância,
organização, menu e programa de réveillon, a decisão emanou com facilidade pelo
Convento do Espinheiro que, felizmente já fazia parte do nosso espólio das boas
experiências da vida. E na tarde de dia 31 de dezembro rumámos, debaixo de um forte
temporal, ao nosso templo (Convento) do requinte e do glamour que esperávamos
para receber o ano de 2014. À chegada esperavam-nos dois
colaboradores com um
sorriso rasgado desejando as boas vindas com o auxílio de chapéus
e de todos os
esforços para minimizar as consequências da forte chuva que se fazia sentir.
Protegidos do temporal, fomos calorosamente recebidos na receção enquanto os
colaboradores cuidavam das bagagens e do estacionamento do nosso carro. Um delicioso licor de poejo e frutos secos faziam as honras de abertura enquanto trocávamos alguns apontamento de conversa e eu reparava no desfibrilhador estrategicamente colocado na parede. Para quem não anda ao corrente destas coisas que fazem parte do meu dia a dia, este é um equipamento de fácil utilização que incrementa a taxa de sobrevivência em mais de 60%, de uma vítima em paragem cardíaca. Apesar de não ter dificuldades na sua utilização é necessária uma
formação própria para, em caso de necessidade, o reanimador saiba executar os procedimentos de acordo com a leges artis. Na maioria dos países da Europa, estes equipamentos encontram-se em locais públicos, para serem utilizados por leigos treinados em suporte básico de vida. Em Portugal a desfibrilhação deu os primeiros passos em agosto de 2009 com a publicação do decreto-Lei 188/2009. Fiquei feliz por perceber que também o grupo de hoteis da cadeia Starwood Hotels, leva a segurança dos seus clientes muito a sério. Atribuídos os alojamentos, foi tempo de pequenas organizações que se prendiam
basicamente com os trajes para o cenário da noite. Como chegámos relativamente
tarde houve apenas tempo para uma visita guiada pelo Convento que fez as
delicias de todos e principalmente do nosso filho André, que apesar dos seus 11 anos é grande apreciador e
conhecedor de história. Enriquecemos os nossos conhecimentos com o magnífico
discurso da nossa guia que nos contagiou com a sua simpatia e conhecimento em
pormenor de cada detalhe daquele magnífico espaço. Soubemos que segundo a
história, a designação do convento foi
atribuída ao aparecimento de Nossa
Senhora que terá surgido a um pastor em cima de um espinheiro em chamas. A
partir desta aparição, o local passou a ser de devoção e o então bispo da Diocese de Évora, D.Vasco Perdigão, terá mandado erguer um convento que entregou aos frades Jerónimos. O
Convento passou então a ser frequentado pelos reis de então sobretudo os da
dinastia de Avis, que tinham muita devoção pela Virgem. A construção data do
séc.XV, no reinado de D.Afonso V. D.João II herdou do seu pai a devoção pela
Senhora do Espinheiro e mandou construir uma hospedaria para que a corte que
estava em Évora lá pudesse pernoitar. Em 1490 D. João II com o auxílio das
cortes de Évora preparou o casamento do seu filho D.Afonso com a Princesa
D.Isabel, filha de reis católicos. Reza a lenda que nas casas do mosteiro, casa
de Nossa Senhora e de
tanta devoção o príncipe fez ajuntamento com ela,
situação que foi muito estranhada para a época. Nessa noite caiu uma grande tempestade e uma
ameia da igreja caiu, o que levou o povo a pensar que se tratou de um castigo
pelo acto pecaminoso cometido. Hoje esse aposento é conhecido como o quarto da
princesa e os actuais noivos são aconselhados a não pernoitar nessa suite para
manter viva a tradição. E resumindo a história, sabe-se que o convento esteve
em abandono mais de 100 anos levando à deterioração e destruição e saque do seu
riquíssimo espólio. Encontra-se aqui sepultado D. Vasco Perdigão bispo da
diocese de Évora, fundador dos conventos de Santa Clara e Nossa Senhora do
Espinheiro, que não querendo receber neste último o título
de padroeiro, foi
sepultado fora da capela-mor, deixando o padroado a quem oferecesse grandes
rendas ao mosteiro. Encontram-se ainda aqui os restos mortais dos condes de
Basto, D. Digo de Castro e sua esposa D. Maria de Távora, (na pedra desta
última o sobrenome Távora encontra-se picado para permanecer dissimulado por
esta família abastada atentar contra o poder do Marquês de Pombal) e ainda D.
Lourenço Pires de Castro e D. Violante de Lencastre, entre outras
personalidades. Com a extinção das ordens
religiosas masculinas (1834), o convento foi desocupado, passando à posse do
Estado Português, até ser vendido a particulares por quantia insignificante.
Nesse período, o conjunto entrou em decadência, até que foi adquirido por
Manuel Gabriel Lopes, que o fez
restaurar na sua quase totalidade, tornando-o
outra vez habitável. A capela de Garcia de Resende também passou a ser
suportada por personalidades locais que ali celebravam festas
religiosas. Atualmente requalificado como um hotel de cinco estrelas, o conjunto
mantém a mesma traça arquitetónica. A antiga adega deu lugar a um restaurante
gourmet, a cozinha dos monges foi transformada em
piano-bar e a cisterna gótica adaptada a espaço para provas de vinhos e
produtos regionais. Após esta viagem na história,
restava-nos tempo para nos equiparmos a rigor pois aproximava-se a hora do
cocktail. Entre vestidos de gala, maquilhagem e fatos tudo tinha que estar
perfeito para os momentos de requinte que nos esperavam. O cocktail servido na
antiga cantina dos monges, hoje transformado em piano bar, é um espaço
inspirador, de tranquilidade e recantos de conforto. Neste espaço, os monges
comiam em bancos voltados para a
parede para não se distraírem durante as
refeições e para dedicarem toda a sua atenção à leitura da bíblia, feito a
partir do púlpito que ainda hoje existem magnificamente restaurado. Do cocktail
faziam parte diversas iguarias cuidadosamente preparadas e de apresentação
exemplar, podendo-se provar pequenas panquecas com queijo de serpa, de sabor
único, espetadinhas de borrego em marinada de ras hanut ou alegoria de bacalhau
com e ouriços-do-mar, entre outros, tudo acompanhado com espumante Ervideira Rose muito fresco e sumo para as crianças. Este pequeno momento de
confraternização serviu para a ambientação dos clientes e para sentir os primeiros
momentos do que viria a ser uma grande noite de reveillon. Chegada a hora do
jantar, fomos conduzidos, para espanto de todos, ao exterior do hotel, através
dos jardins e sobre uma passadeira vermelha, à sala onde iria decorrer a gala de
fim de ano. O
espaço era magnífico e decorado com requinte, com mesas redondas
adornadas com candelabros de velas douradas. Desde a receção que sabíamos o
numero da nossa mesa, pois a informação era disponibilizada num LCD. Tivemos
como companhia na nossa mesa a família Santos que se revelaram excelentes
companheiros de festa. A bebé Gabriela, filha e neta da família Santos, fez as
honras e as graças da noite com os seus 3 anos e vivacidade própria destas
idades. A abertura da sala foi presidida por um agradável cumprimento de boas
vindas do Diretor do Hotel, sr, Dinis Pires, que desejou a todos as boas vindas
e deixou votos de felicidades para o ano de 2014. Seguiu-se o jantar que decorreu
de uma forma extraordinariamente organizada e a abertura do menu iniciou-se com
creme de champignon e vieiras braseadas num souflé de roquefort. Sobre a mesa e
para acompanhar os diversos tipos de
pão podia-se degustar manteiga de ervas
finas e sapateira e abacate numa fragrância de caviar. O prato que se seguiu,amado por uns e detestado por outros, foi texturas de foie-gras e não só, com um
cacau de São Tomé a finalizar. O Late Harvest da Herdade dos Grous constituiu
uma experiência de degustação única e complementou de forma sublime o sabor
forte e macio do foie-gras. Num autêntico ritual que se assemelhava a uma dança
previamente coreografada, os colaboradores fortemente dedicados, retiravam
pratos, preenchiam os copos e faziam chegar a cada mesa os diversos componentes
da ementa. Percebeu-se que tudo foi preparado de forma meticulosa e organizada
para que não se sentisse qualquer tipo de falha. O robalo abafado em água do
mar, com ravioli e redução de hortelã da ribeira foi o prato seguinte no
alinhamento do menu ricamente elaborado para a festa. O vinho esporão Reserva
Branco 2012 que
o acompanhou este prato, é um dos melhores
vinhos brancos produzidos na Herdade do Esporão. Com o seu aroma rico e intenso
com notas frutadas, de tangerina e pêssego, envoltas na subtileza da tosta das
barricas, é cremoso na boca, com o paladar complexo, equilibrado, preenchido
pela fruta, alguma mineralidade e um final longo e fresco, revelou-se
uma experiência com intensidade para recordar e voltar a provar. Como corta
sabores foi servido um sorbet de limão e espuma de tangerina que veio trazer
uma nota fresca e equilibrada para dar seguimento ao clássico Bife Wellington
aos aromas de presunto beloteiro que finalizada os pratos principais. O menu
finalizou-se já muito perto das 23 horas com um tesouro de bolo financier num
jus abaunilhado e pérolas dum caramelo conventual, simplesmente delicioso. Finda
a requintada refeição, o DJ elevou o som e a pista encheu-se de animação com
todos a dançar numa alegria contagiante. Quando faltavam 30 segundos para a
meia-noite foi iniciado o countdown que finalizou
numas zero horas com timing
diferentes em cada uma das mesas com os confettis em explosões sequenciais e os
brindes de alegria a fazerem tilintar os copos numa sinfonia heterogénea de
satisfação plena. Seguiram-se 15 minutos de fogos de artifício nos jardins do
hotel a fazerem deslocar todos para o exterior para assistir ao ritual de
luzes, sons e cor. A partir deste momento a festa continuou com muita
animação ao som de música dos anos 70, 80 e 90 habilmente colocada pelo DJ convidado.
Cerca das 02 horas da manhã era tempo da ceia que foi servida no andar acima do piso onde
decorria a gala. Um rico buffet onde não faltavam os queijos, mariscos, pregos
e o tão nacional caldo verde que fez as delicias dos que haviam dançado horas até esgotarem as energias e as pernas começarem a ceder. Uma noite de sono
retemperador num
quarto luxuoso e magnificamente decorado fez-nos acordar para
o novo ano renovados e cheio de sensações de bem-estar. Na sala que outrora foi
a adega, esperava-nos um conjunto de colaboradores com um sorriso e de uma
prestabilidade contagiantes a desejarem felicidades e bom ano novo a todos. De
uma forma descontraída e sem preocupações com o tempo iniciámos a primeira
refeição do novo ano com um magnífico brunch, completo e diversificado que nos
satisfez em pleno. Recordo o pormenor do aroma e do sabor da açorda, dos ovos
mexidos e dos doces de Natal que complementaram o repasto requintado que foi
brindado com champanhe para dar as boas vinda ao novo ano e à nova vida que
todos vivemos em cada dia da nossa existência. E foi assim a história de (…)
era uma vez, que passou a ser (…) foi desta vez, um dos magnífico reveillons da
nossa vida.
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