Tuesday, July 2, 2013

Almoço e passeio da Casa de pessoal do IPL (junho de 2013)

Como já vem sendo tradição ano após ano, concretizou-se no passado sábado dia 29 de junho, mais um encontro dos sócios da Casa de Cultura e Recreio do Pessoal do Instituto Politécnico de Lisboa. Este encontro que já faz falta a quem nele participa tem funcionado com a inesgotável dedicação de pessoas que fazem das causas sociais parte integrante das suas vidas e com dedicação e gestos de carinho funcionam como elos catalisadores de encontros, convívio, cultura e confraternização. 
A essas pessoas nos nomes da Engenheira Maria da Graça, a srª D.Fátima, a Vanessa e Conceição, e naturalmente com o estimado e desejado apoio do sr.presidente Prof.Dr.Vicente Ferreira e do sr.administrador António Marques e aos participantes no encontro se presta esta simples homenagem expressa em palavras e imagens. Para além da enorme alegria que é voltar a ver rostos já conhecidas de encontros anteriores, a expectativa está sempre presente pelo cuidado que existe na organização e escolha do evento. O convívio, este ano programado um pouco mais tarde devido à necessidade estatutária de eleição de novos representantes, conduziu-nos até à magnífica península de Tróia. Após a necessária resistência para passar a ponte 25 de abril em dia de temperaturas previsíveis acima dos 30º c, a auto-estrada do sul levou-nos até à saída de Alcácer do Sal. Logo à frente a placa indicava na estrada à direita a direcção para a Comporta e Tróia. Apesar de ser um local já conhecido por alguns, outros havia que não tinham ainda tido a oportunidade de voltar a esta língua de areia dourada após a implementação do novo resort turístico. 
A primeira paragem do roteiro previsto levou-nos às Ruinas Romanas de Tróia e rapidamente fizemos um retrocesso no tempo tendo viajado até ao séc.I. A competente e simpática arqueóloga Inês conduziu-nos pelo complexo retratando de forma empenhada e tão real quantos os vestígios e as datações permitem, a vida dos povos que ali habitaram há cerca de 2000 anos. Em cada paragem foram dadas as explicações necessárias ao entendimento da organização das estruturas escavadas. Neste local existiu um agregado populacional dedicado à pesca e ao fabrico e exportação de conservas de peixe que manteve uma intensa atividade desde o século I até o século VI dC. Estávamos portanto na presença de uma antiga fábrica de salga de peixe com tanques de diversos tamanhos e orientações construídos à volta de um pátio central. Aparentemente existiu um período de intensa actividade económica com a construção de uma área de produção de grandes dimensões (cerca de 1000 m2) distribuída por 19 tanques e que laborou até meados ao séc.III mas depois percebe-se, pela arquitectura aflorada, que parece ter havido uma época de recessão em que o industria foi reduzida (séc.III ao séc.V) com a construção de uma menor área, cerca de 135 m2 distribuída por 9 de tanques de menores dimensões. No topo mais perto do rio e mesmo junto à área dos tanques de salga é visível uma zona de sepulturas, achado que aparentemente estranho pois não era permitido enterrar os mortos mesmo junto à fábrica. Parece que nesta altura já algumas leis “não seriam para cumprir”.
Aparentemente foi na segunda metade do século XVIII que foram realizadas as primeiras escavações arqueológicas nesta região e ao que parece patrocinadas pela infanta (e futura rainha) D. Maria I que com frequência atravessava o rio de barco em direcção ao seu palácio de fim de semana. Nestes trabalhos foram escavadas umas casas romanas (aparentemente tratava-se de uma casa apalaçada com 1º andar) na zona hoje chamada "Rua das Casas da Princesa", em homenagem à infanta.Em 1850 as escavações ganharam novo ímpeto com a criação da Sociedade Arqueológica Lusitana, que realizou trabalhos nas "Casas da Princesa", onde encontraram paredes com pinturas e pisos com mosaicos, entretanto desaparecidos.Mais recentemente foram levadas a cabo várias campanhas entre 1948 e 1967, nas quais foram escavados os banhos, as casas de salga, as necrópoles e a basílica paleocristã.
As cetárias, assim designados os tanques de salga serviam para a conservação de peixes, bivalves e crustáceos pescados do rio ou trazidos do mar e daqui distribuídos por todo o império romano abastecendo os grandes aglomerados populacionais incluindo Roma. Uma curiosidade é que as vísceras dos peixes eram devidamente separadas e seleccionadas e misturadas com ervas aromáticas, que após um tratamento de fermentação e maceração permitiam a obtenção do garum, uma espécie de pasta ou molho que servia para condimentar os alimentos.
A visita terminou na zona das termas onde nos foram explicadas as regras dos tão famosos banhos públicos que eram divididos em três zonas distintas: a zona fria, a tépida e a quente, com horários de funcionamento e preços distintos para homens e mulheres.
Debaixo de um sol intenso e já para lá da hora prevista para o almoço despedimo-nos da civilização romana pois esperava-nos no magnífico restaurante azimute do Hotel Aqualuz um belo repasto constituído por um delicioso buffet de feijoada de chocos e lombo de porco acompanhado de um magníficoe refrescante vinho da região de Setúbal, (Venâncio Costa Lima). Apesar de todos cobiçarem a extraordinária piscina do resort o tempo de digestão não permitiu tentadoras aventuras. No entanto osmais dinâmicos ainda tiveram algum tempo para percorrer os passadiços de madeira em redor do complexo de hotéis para daí disfrutarem de uma das mais belas paisagens do país. No regresso ainda estavam previstas as visitas à Adega da Comporta e ao Museu do Arroz. Na adega esperava-nos o simpático Tito que iniciou a visita guiada pelo enquadramento da herdade que se estende por 35 hectares com vinha que cresce num micro clima particular por ser influenciado pela proximidade do mar que mantém as temperaturas moderadas. 
Desta característica resultam óptimas condições de maturação que conduzem à produção de uvas com excelente concentração e equilíbrio. Após a vindima, que é feita manualmente, as uvas chegam à adega que é constituída por 3 salas distintas, sala de provas e uma loja de vendas, em caixas de 20 kg, onde sofrem o processo de transformação apoiadas por tecnologia moderna. Fermentam em lagares de inox cerca de 8 dias e depois desta fase o vinho desde para a sala inferior, apenas por gravidade, para cubas igualmente de inox com capacidade de 15000 litros. Os melhores lotes de vinho passam para uma terceira sala onde descansam em pipas de carvalho francês e americano, por cerca de 12 meses. Nesta adega produz-se maioritariamente vinho tinto, cerca de 30 ha e 5ha destinados à produção de vinho branco.
Os mais conhecidos no mercado são o Herdade da Comporta Tinto e Branco e já existe o Herdade da Comporta Rosé. 
Outra das marcas produzidas é o Chão das Rolas (tinto e branco) tendo o tinto uma cor granada intenso, apresentando-se ao aroma quente com fruta muito madura e ligeira sensação de compota. Ao sabor é cheio, suave com ligeiro acídulo e final de boca a manter alguma persistência. Alguns tiveram a possibilidade de provar alguns destes vinhos e na despedida muitos vieram “equipados” com algumas garrafas e packs especiais para que as provam pudessem continuar em casa. É de referir que muitos destes vinhos já obtiveram prémios nacionais e internacionais onde se destaca o International Wine Competition - Viena 2012. Na finalização do nosso magnífico dia de convívio esperava-nos ainda o museu do arroz junto ao edifício onde se encontra o famoso restaurante com o mesmo nome. 
Aqui fomos recebidos por uma colaboradora algo exótica no trato com os visitantes, impondo regras com determinação e audácia. Acabou por ser engraçado pelo tom e atitude algo bizarra com que se dirigiu aos presentes e como apresentou a explicação do museu, no seu lugar de porte atrás do balcão, referindo que não nos acompanharia por estar sozinha e cansada de falar. Basicamente a sua explicação resumia-se a descrever o circuito do arroz assemelhando-o a um carrocel por subir e descer em várias fases do processo de tratamento. O museu era muito interessante e muito elucidativo pois para além de prestar uma bela homenagem às gentes que por lá trabalharam, ainda mantem in situ todas as máquinas que laboraram em tempos e painéis explicativos com textos e fotografias do tempo em que por ali o arroz era rei e senhor.



No comments: