Saturday, December 12, 2009

Restaurante a Escola

(Almoço convívio de colegas do IPA, num ambiente de reconhecido mérito onde o passado relacional entre amigos se funde com a moderna cozinha portuguesa).

Concretizou-se, no passado dia 21 de Novembro, com a vontade de muitos e a audácia de alguns, mais um encontro-convívio, entre os colegas que, num momento das suas vidas se encontraram no curso de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria, da Instituição Particular de ensino designada de Instituto Politécnico Autónomo, vulgo IPA. Durante os anos do curso, como na maioria das relações de convívio de média duração, desenvolveram-se interacções que foram desde a simples amizade, ao companheirismo para a vida, até ao envolvimento amoroso, que, em alguns casos, resultou em laços matrimoniais. Após o términus do curso e o início da actividade profissional, muitas coisas mudaram. Para a maioria veio o início da vida adulta, da responsabilidade familiar e laboral, mas os laços com o passado, apesar de mais distantes, permaneceram acesos, permitindo vários encontros de actualização. É assim na maioria dos convívios dos que decidem partilhar as suas vidas com um grupo de amigos com quem viveram muitos momentos de alegria e outros de maior tensão, mas sempre com a mesma cumplicidade. Entretanto passam alguns anos e as famílias vão-se compondo. A aposta nesta nova etapa da vida é absorvente. São os desafios profissionais, os novos projectos, a engenharia financeira, os filhos e a busca incessante da fórmula mágica para os educar. Os encontros com os “velhos”amigos da faculdade passa a ser menos prioritários e cada vez mais disperso no tempo. Existem uns que nunca falham aos almoços de convívio, outros simplesmente deixam de aparecer. Explicações para este fenómeno, aparentemente não existem. Tratam-se de decisões e prioridades pessoais. Existem pessoas que simplesmente não dão valor aos reencontros, ao convívio, aos abraços e à troca de experiências que constituem estes encontros. Os que comparecem, esses estão sempre presentes, não só nos convívios mas também em momentos particulares das vidas de alguns colegas do antigo grupo. Será atracção química? Olfacto? Simplesmente prazer? Não é de certeza uma atracção fatal!
Nesta base e passados alguns anos de afastamento um grupo especial de colegas do IPA, reuniu-se para confraternizar num local especial que em muito apela aos tempos antigos. O restaurante “Escola” nos Cachoupos, entre Alcácer do Sál e a Comporta. Trata-se de uma antiga escola primária, ainda do tempo do antigo regime, agora transformada num restaurante de grande qualidade. O cenário é bucólico, pois por entre vegetação rasteira e pinheiros pode-se sentir o sabor dos velhos tempos numa fusão de aromas e gostos muito actuais. As mãos responsáveis por este novo conceito são as do Sr. Henriques, homem de pequena estatura, face morena e enrrugada e de palavras simples. Este homem, de fenótipo tipicamente português e de habilidades culinárias invulgares, percorre o mundo para levar os seus segredos e elaboradas composições gstronómicas, a concursos internacionais, de onde normalmente traz galardões que o enchem e nos enchem de orgulho. Em pequena troca de palavras com ele, eu dizia-lhe, apenas com a experiência de mero viajante que aprecia as gastronomias locais, que a nossa cozinha era a melhor do mundo, ao que ele concordou em pleno.
No momento e na hora marcada começam a chegar os que se inscreveram para este novo encontro de convívio. Como já haviam passados alguns anos, os primeiros a chegar faziam esforços para se recordarem dos nomes dos filhos e dos cônjuges dos muitos colegas que começavam a aparecer, pois pareceria muito mal uma falha assim destas. E os carros? Já não eram os mesmos dos tempos da vida de estudantes nem do início da vida adulta. Entre cumprimentos, alegrias e muitos abraços, iam-se exclamando palavras de agrado e simpatia pelos que chegavam. Avaliavam-se sem sentido crítico as dimensões e espessuras das cinturas e do abdómen. Palavras como: “Tás mais gordinho (a)” ou “Tás na mesma, os anos não passam por ti”, são frases feitas mas que expressam carinho e sentido de fraternidade. As crianças estavam crescidas e diferentes dos rostos que conhecíamos. Foi uma alegria rever todos estes amigos agora mais reproduzidos e todos tão felizes. O almoço não poderia ter corrido melhor. Os organizadores foram exímios na preparação de todos os pormenores. Até as crianças tiveram direito a enterteiners com umas meninas de folhinhos a olharem pelas suas diabruras. Uns optaram por não trazer os filhos ou por estes já serem crescidos ou porque lhe apetecia ter um almoço diferente e mais descansado, “despidos” das suas responsabilidades parentais.
A ementa era composta por vários pratos, todos especialidades da casa: arroz de choco e arroz de peixe seguidos de batatas de rebolão (uma espécie de carne do alguidar com batatas assadas) e finalmente a empada de coelho que constituiu sem dúvida o ex-libris do rol de especialidade e já com um conjunto de galardões internacionais arrecadados. Bom vinho alentejano, muita alegria e doces sobremesas constituiram motivo para uma tarde de chuva muito bem passada, num convívio onde de tudo se falou: desde as viagens aos decotes, à educação dos filhos e à complexidade dos tempos modernos para os quais nos achávamos preparados, mas que agora nos faz reflectir para onde corremos, que partido tiramos da vida e se esta será a melhor forma de educação e exemplo que passamos aos nossos filhos. Só o tempo o dirá. Venham mais convívios destes, que permitem equilíbrio e alguma terapia de grupo, pois viver é partilhar, é troca de experiências, é um processo de aprendizagem permanente que não deverá jamais ser interrompido.

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