Saturday, July 5, 2008

CHARCAS LAGOON (Luxo e conforto)

Longe vão os tempos em que, para cumprir a tão contemporânea expressão” Vá para fora cá dentro”, implicava horas infindáveis de asfalto e paciência, para, no fim da enésima curva, encontrarmos finalmente o conforto das paisagens paradisíacas. No que diz respeito às condições de alojamento, o país (refiro-me ao início da década de 90) encontrava-se acomodado, sendo difícil encontrar, fora dos grandes centros, alojamentos que dignificassem o meio ambiente envolvente e os seus utilizadores. Montargil, faz parte dessas minhas memórias onde a natureza e o Homem juntaram esforços para pintar uma paisagem natural, bela e muito envolvente. Os caminhos até lá, ao invés de outras belas localidades do país, não eram difíceis, a gastronomia, apesar de amadora era pura e tradicional. Mas, os lugares de acomodação não passavam de pensões, com as condições adaptadas à época, sem nenhum tipo de excessos e nenhuma preocupação em tornar a estadia reconfortante e memorável. Não havia a preocupação em tornar os lugares de repouso em locais sagrados e de culto. Concordarão comigo quando digo que, mesmo no sítio menos agradável, se o local que nos acolhe nos preencher de prazer, até temos liberdade para projectar a imaginação e comparar e lançar ideias para adaptar o meio e fazer dele um lugar encantado. Em Montargil dos dias de hoje nada precisamos fazer para nos sentirmos acarinhados, confortáveis e felizes. No Charcas Lagoon, novíssimo empreendimento recentemente inaugurado, encontramos luxo, distinção e conforto. O meio envolvente é constituído por pinheiros que requerem uma manutenção mínima e, em toda a frente do hotel, vislumbra-se o espelho de água da barragem de Montargil. Em todo este parque verde onde prolifera um ecossistema diversificado, surgiu este resort, devidamente enquadrado na paisagem rodeada de lagos artificiais que permitem jogos de reflexão e ângulos fotográficos de rara beleza. Por eles podem encontrar-se pequenas ilhotas e pontes de madeira que permitem ao visitante chegar à ilha e lá permanecer como se aquele lugar lhe pertencesse. O Hotel é constituído por um agrupamento central onde funciona o lobby, o restaurante e o bar ladeado de dois braços onde se acomodam os quartos com um nível térreo e outros no 1ºandar. O edifício é de cor de tijolo ornamentado com pequenas tijoleiras e pintado no ângulos de pouca visibilidade de amarelo-torrado, fazendo-me lembrar, embora sem nunca ter visitado um, um eco-resort numa fazenda brasileira. O lobby não é grande, as cores brancas dominam o mobiliário e as paredes. Muito dentro das tendências actuais, predomina o minimalismo organizado e muito coerente. As áreas dos quartos não são generosas como todo o espaço envolvente poderia fazer prever, no entanto, estão decorados com simplicidade e bom gosto. A projecção do edifício, de volumetria controlada, permite ao visitante, instalado no seu terraço privado, apreciar uma paisagem que é arrebatadora, pois toda projecção visual deixa observar o verde da relva e dos pinheiros, a reflexão dos lagos, a limpidez das águas da piscinas em linhas de água delimitadas e de diferentes tons e ao fundo, a sempre presente barragem. Tudo o que se vê é harmonioso e tranquilo e o que se ouve ao longe, são as vozes das crianças que não dão conta de tanta excitação que os tantos mergulhos na piscina lhes provocam. Nas zonas sociais predominam os tons claros com as paredes forradas a papel de relevo, mobiliário branco e creme contrastando com alguns elementos de verga, pautados estrategicamente com alguns apontamentos coloridos. Alguns elementos decorativos adornam as salas de estar e o bar. Lembro-me do falso candeeiro com uma fileira de elefantes, por exemplo ou os espelhos redondos decorados com pétalas prata, no lobby, que constituíram para mim, motivo de grande apreciação. Outro dos elementos que não deixa ninguém indiferente é a escadaria em aço e vidro que liga o piso térreo ao primeiro andar. A ideia desta projecção vertical com estes elementos foi tão bem conseguida que, para além de nos convidar a subir e explorar o que a seguir se segue, ela própria funciona como elemento decorativo de grande envergadura e naturalmente, devido à sua dimensão, de grande importância. A esplanada do bar é ornamentada com chapéus que nos transportam para as culturas marroquinas e as mesas, muito originais, fazem lembrar velhos bancos de madeira de faces trabalhadas com motivos florais e tampos simples. Não poderia terminar este apontamento sem deixar umas palavras de apreciação à magnífica gastronomia que por ali se pratica. Tivemos o privilégio de apreciar creme de melão com pepital de presunto, uma verdadeira delicia dos Deuses. Imaginem o que é estar a beber sumo de melão mas numa tigela de sopa e à colher e sentir as pepitas de presunto a romperem o gosto doce-mel do melão. Os pratos que se seguiram foram cherne braseado em cama de batata acerejada, magnificamento preparado e apresentado e de paladar delicioso e magret de pato. Tratava-se de peito de pato no forno encimado com espargos e regado com molho de framboesa. Uma experiência gastronómica a repetir. A sobremesa que atapetou o nosso jantar gourmet era cosntituida por pratos de fruta com sorbet de citrinos e que no caso foi gelado com sabor a tangerina. Acho que nunca tinha sentido o sabor deliciosamente gelado de uma tangerina fresca e suculenta.
A experiência deste lugar encantador provoca ao visitante sensações de evasão, tranquilidade e sofisticação.