Como
já vem sendo tradição ano após ano, concretizou-se no passado sábado dia 29 de
junho, mais um encontro dos sócios da Casa de Cultura e Recreio
do Pessoal do Instituto Politécnico de Lisboa. Este encontro que já faz falta a
quem nele participa tem funcionado com a inesgotável dedicação de pessoas que
fazem das causas sociais parte integrante das suas vidas e com dedicação e
gestos de carinho funcionam como elos catalisadores de encontros, convívio,
cultura e confraternização.
A essas pessoas nos nomes da Engenheira Maria da
Graça, a srª D.Fátima, a Vanessa e Conceição, e naturalmente com o estimado e
desejado apoio do sr.presidente Prof.Dr.Vicente Ferreira e do sr.administrador António
Marques e aos participantes no encontro se presta esta simples homenagem
expressa em palavras e imagens. Para além da enorme alegria que é voltar a ver rostos
já conhecidas de encontros anteriores, a expectativa está sempre presente pelo
cuidado que existe na organização e escolha do evento. O convívio, este ano programado
um pouco mais tarde devido à necessidade estatutária de eleição de novos
representantes, conduziu-nos até à magnífica península de Tróia. Após a
necessária resistência para passar a ponte 25 de abril em dia de temperaturas
previsíveis acima dos 30º c, a auto-estrada do sul levou-nos até à saída de
Alcácer do Sal. Logo à frente a placa indicava na estrada à direita a direcção
para a Comporta e Tróia. Apesar de ser um local já conhecido por alguns, outros
havia que não tinham ainda tido a oportunidade de voltar a esta língua de areia
dourada após a implementação do novo resort turístico.
A primeira paragem do
roteiro previsto levou-nos às Ruinas Romanas de Tróia e rapidamente fizemos um
retrocesso no tempo tendo viajado até ao séc.I. A competente e simpática arqueóloga
Inês conduziu-nos pelo complexo retratando de forma empenhada e tão real
quantos os vestígios e as datações permitem, a vida dos povos que ali habitaram
há cerca de 2000 anos. Em cada paragem foram dadas as explicações necessárias
ao entendimento da organização das estruturas escavadas. Neste local existiu um agregado populacional dedicado à
pesca e ao fabrico e exportação de conservas de peixe que manteve uma intensa atividade
desde o século I até o século VI dC. Estávamos portanto na presença de uma
antiga fábrica de salga de peixe com tanques de diversos tamanhos e orientações
construídos à volta de um pátio central. Aparentemente existiu um período de
intensa actividade económica com a construção de uma área de produção de
grandes dimensões (cerca de 1000 m2) distribuída por 19 tanques e que laborou
até meados ao séc.III mas depois percebe-se, pela arquitectura aflorada, que
parece ter havido uma época de recessão em que o industria foi reduzida
(séc.III ao séc.V) com a construção de uma menor área, cerca de
135 m2 distribuída por 9 de tanques de menores dimensões. No topo mais perto do
rio e mesmo junto à área dos tanques de salga é visível uma zona de sepulturas,
achado que aparentemente estranho pois não era permitido enterrar os mortos
mesmo junto à fábrica. Parece que nesta altura já algumas leis “não seriam para
cumprir”.
Aparentemente
foi na segunda metade do século XVIII que foram realizadas as primeiras
escavações arqueológicas nesta região e ao que parece patrocinadas pela infanta
(e futura rainha) D. Maria I que com frequência atravessava o rio de barco em
direcção ao seu palácio de fim de semana. Nestes trabalhos foram escavadas umas
casas romanas (aparentemente tratava-se de uma casa apalaçada com 1º andar) na
zona hoje chamada "Rua das Casas da Princesa", em homenagem à
infanta.Em 1850 as escavações ganharam novo ímpeto com a criação da Sociedade
Arqueológica Lusitana, que realizou trabalhos nas "Casas da
Princesa", onde encontraram paredes com pinturas e pisos com mosaicos,
entretanto desaparecidos.Mais recentemente foram levadas a cabo várias
campanhas entre 1948 e 1967, nas quais foram escavados os banhos, as casas de
salga, as necrópoles e a basílica paleocristã.
As
cetárias, assim designados os tanques de salga serviam para a conservação de
peixes, bivalves e crustáceos pescados do rio ou trazidos do mar e daqui
distribuídos por todo o império romano abastecendo os grandes aglomerados
populacionais incluindo Roma. Uma curiosidade é que as vísceras dos peixes eram
devidamente separadas e seleccionadas e misturadas com ervas aromáticas, que após
um tratamento de fermentação e maceração permitiam a obtenção do garum, uma espécie de pasta ou molho que
servia para condimentar os alimentos.
A
visita terminou na zona das termas onde nos foram explicadas as regras dos tão
famosos banhos públicos que eram divididos em três zonas distintas: a zona
fria, a tépida e a quente, com horários de funcionamento e preços distintos
para homens e mulheres.
Debaixo
de um sol intenso e já para lá da hora prevista para o almoço despedimo-nos da
civilização romana pois esperava-nos no magnífico restaurante azimute do Hotel
Aqualuz um belo repasto constituído por um delicioso buffet de feijoada de
chocos e lombo de porco acompanhado de um magníficoe refrescante vinho da
região de Setúbal, (Venâncio Costa Lima). Apesar de todos cobiçarem a
extraordinária piscina do resort o tempo de digestão não permitiu tentadoras
aventuras. No entanto osmais dinâmicos ainda tiveram algum tempo para percorrer
os passadiços de madeira em redor do complexo de hotéis para daí disfrutarem de
uma das mais belas paisagens do país. No regresso ainda estavam previstas as
visitas à Adega da Comporta e ao Museu do Arroz. Na adega esperava-nos o
simpático Tito que iniciou a visita guiada pelo enquadramento da herdade que se
estende por 35 hectares com vinha que cresce num micro clima particular por ser
influenciado pela proximidade do mar que mantém as temperaturas moderadas.
Desta característica resultam óptimas condições de maturação que conduzem à
produção de uvas com excelente concentração e equilíbrio. Após a vindima, que é
feita manualmente, as uvas chegam à adega que é constituída por 3 salas
distintas, sala de provas e uma loja de vendas, em caixas de 20 kg, onde sofrem
o processo de transformação apoiadas por tecnologia moderna. Fermentam em
lagares de inox cerca de 8 dias e depois desta fase o vinho desde para a sala
inferior, apenas por gravidade, para cubas igualmente de inox com capacidade de
15000 litros. Os melhores lotes de vinho passam para uma terceira sala onde
descansam em pipas de carvalho francês e americano, por cerca de 12 meses.
Nesta adega produz-se maioritariamente vinho tinto, cerca de 30 ha e 5ha
destinados à produção de vinho branco.
Os
mais conhecidos no mercado são o Herdade da Comporta Tinto e Branco e já existe
o Herdade da Comporta Rosé.
Outra das marcas produzidas é o Chão das Rolas
(tinto e branco) tendo o tinto uma cor granada intenso, apresentando-se ao
aroma quente com fruta muito madura e ligeira sensação de compota. Ao sabor é
cheio, suave com ligeiro acídulo e final de boca a manter alguma persistência.
Alguns tiveram a possibilidade de provar alguns destes vinhos e na despedida
muitos vieram “equipados” com algumas garrafas e packs
especiais para que as provam pudessem continuar em casa. É de referir que
muitos destes vinhos já obtiveram prémios nacionais e internacionais onde se
destaca o International Wine Competition
- Viena 2012. Na finalização do nosso magnífico dia de convívio esperava-nos
ainda o museu do arroz junto ao edifício onde se encontra o famoso restaurante
com o mesmo nome.
Aqui fomos recebidos por uma colaboradora algo exótica no
trato com os visitantes, impondo regras com determinação e audácia. Acabou por
ser engraçado pelo tom e atitude algo bizarra com que se dirigiu aos presentes
e como apresentou a explicação do museu, no seu lugar de porte atrás do balcão,
referindo que não nos acompanharia por estar sozinha e cansada de falar.
Basicamente a sua explicação resumia-se a descrever o circuito do arroz assemelhando-o
a um carrocel por subir e descer em várias fases do processo de tratamento. O
museu era muito interessante e muito elucidativo pois para além de prestar uma
bela homenagem às gentes que por lá trabalharam, ainda mantem in situ todas as máquinas que laboraram
em tempos e painéis explicativos com textos e fotografias do tempo em que por
ali o arroz era rei e senhor.
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