Sunday, September 14, 2014

Ruralidades, diversidade, aventura e aromas no final do verão de 2014

O momento de escolher um destino para descansar deve refletir os objetivos a que se propõe no momento. Descansar, relaxar ou quebrar a rotina não significa necessariamente parar totalmente a atividade física e intelectual, deitar a cabeça e deixar o tempo passar. Descansar, na minha perspectiva significa alterar a rotina e alimentar o corpo e a cabeça com experiências menos comuns, 
é descoberta, experienciar momentos únicos e novas aventuras. Para procurar este estado, habitualmente limitado no tempo e transitório entre longos dias de rotina, basta por vezes pensar um pouco e perceber o que se pretende ou muitas vezes deixar o inusitado acontecer e aproveitar o que o inesperado nos pode mostrar. E foi assim que deixamos acontecer estes dias de alteração à rotina por estes dias de setembro de final de verão que mais parece outono declarado. A fuga à rotina nestes dias que antecedem mais um ano de atividades, trazem sempre um sabor especial, desenvolvendo sensações intensas e estados de alma diferentes daqueles que sentimos quando as férias acontecem em períodos mais longos e anteriores a outros períodos de lazer. Parece que sentimos vontade de viver cada momento de uma forma mais intensa mesmo que a experiência, que pode ser um banho de mar, ou de piscina ou uma 
simples experiência gastronómica já sejam para nós atividades conhecidas de outros bons momentos passados. Após dúvidas e diversas pesquisas decidimos misturar os destinos tendo em conta a proximidade e uma adequada gestão do tempo. Rumámos assim a uma quinta inserida numa enorme herdade nos arredores de Évora. Os comentários no booking eram muito favoráveis e a classificação soberba. Logo a seguir ao Escoural nas proximidades de Montemor-o-Novo, encontrámos a Herdade da Serrinha onde fomos recebidos pela Helena com muita simplicidade e simpatia. Na aproximação à herdade a paisagem do montado alentejano inspirava serenidade, beleza e uma calma que certamente só se encontra nesta parte do mundo. Nos arredores da casa estava composto o resto do quadro que me fez regressar ao passado. As ovelhas pastavam tranquilamente por dentro dos fenos, e as vacas ruminavam calmamente as ervas e a palha à disposição. As galinhas e os patos deambulavam
 pelos campos em busca de alimentos. Os aromas dispersos e misturados a cada recanto tiveram o dom de me transportar para um passado que vivi num ambiente rural idêntico nos meus tempos de criança. É muito gratificante poder ter o privilégios de fazer estas incursões ao passado. É como se algo em nós nos relembrasse o quanto importante e bela é esta peregrinação pela vida terrena. Recordar através dos aromas é algo que sempre me preencheu a alma, fazendo-me sentir conforto e gratidão. As horas passadas naquele espaço rural foram intensas, entre mergulhos de piscina, caminhadas e passeias de bicicleta. Numa das caminhadas matinais por entre os trilhos de feno já cortado, encontramos um colaborador atencioso e cordial a quem, sem vergonha e com ousadia pedi dois pequenos pedaços de sobreiro por pensar que ficariam muito bem numa decoração em casa. Como um sincero sim, mesmo sem conhecer o veredicto dos proprietários, ofereceu-nos os dois pequenos pedaços de sobreiro, trouxe-os no tractor até à herdade para os cortar a direito a assim assentarem melhor. A Helena com a sua generosidade confirmou a oferta, deliciando-nos com um sorriso contagiante. Os cães por aqueles lados gozam a tranquilidade do local literalmente "espojados"no chão a aguardar que alguém os acaricie ou simplesmente que lhes passe a preguiça. Cada canto da herdade é um quadro bucólico pintado pela natureza e rascunhado aqui e ali pela intervenção do Homem. As casas são dispostas de forma a desenharem um pátio interno. Cada uma
das casas tem a sua função encontrando-se assinalado nas paredes as funções a que cada uma se destina. Por lá ainda encontramos a casa da matança que hoje serve uma confortável cozinha de apoio. Na casa da comida encontra-se atualmente a cozinha e um belo e elegante salão com tecto em abobadas de onde emanava um aroma contagiante a cabrito assado que perfumava até à casa dos quartos. Ainda estivemos tentados e aceitar o desafio da Helena para provar tão abençoado pitéu mas, o cabrito tratato, temperado e confecionado daquele modo é um desafio gastronómico que temos como certo se voltarmos à herdade ou em outros locais do alentejo. Quando partimos assim à descoberta apetece-nos explorar outras aventuras gastronónicas, nomeadamente procurar cafés ou tascas que se dediquem a servir iguarias fora do convencional. Encontramos o café restaurante Cholinha onde nos aguardava um frango frito igual a um que
haviamos encontrado uma vez em Portel. Parece que o segredo daquele frango é a sua origem caseira e o tempero com massa de pimentão feito com os pimentos da horta e preparada pelas mãos da própria proprietária. Aquilo soube-nos deliciosamente como entrada pois por aqueles lados parece que pedaços de frango frito não servem para jantar mas sim apenas para petiscar e beber um vinho! Continuamos o nosso jantar com uns deliciosos grelhados e o belo do borrego assado que já nos tinha aberto o apetite na herdade...até o vinho da casa servido em jarro era delicoso e não carrascão como habitualmente. Voltando à herdade, a casa dos quartos completa a outra “parede” do pátio interno. A encimar os telhados encontram-se ainda as enormes chaminés tão características do alentejo, provavelmente ainda originais. A história desta quinta remonta aos 20/30 quando era propriedade do sr. Manuel Serrinha, homem austero e contido que gostava de trabalhar a terra. Conta a história que a  filha deste se apaixonou pelo médico da terra, profissão que para a época não era vista como um trabalho sério. Desta forma a relação não foi aceite e para impedir que a filha apaixonada saísse de casa mandou fechar a única porta que havia na casa dos quartos com acesso à zona onde hoje se encontra a piscina. Ainda lá está o poial que comprova a existência de uma passagem naquela zona. A filha acabou por fugir de casa e casou com o médico sendo por isso
deserdada. Esta história deliciosa foi-nos contada pela Helena, filha do atual proprietário ao redor de uma mesa recheada de um pequeno-almoço onde não faltavam os produtos regionais e outros confecionados na própria herdade.  No dia da despedida o tempo amanhecera envergonhado com o sol a espreitar timidamente por entre as nuvens. Aqui neste local cheio de encanto e beleza, como refere o fado da grande Amália e Rodrigues e apesar da curta estadia, perdemos a noção do tempo (sem querer pelagiar o slogan da herdade que nos recebe com um desafio que é: venha perder a noção do tempo). Sem rumo certo mas com muita vontade de fazer ainda alguma praia, seguimos em direção à linha de costa. Ao chegar à Comporta virámos à esquerda e ao encontrar a placa dos Brejos da Carregueira fomos “espreitar” em busca de alguma coisa inspiradora para passar a noite. Por entre estrada de terra e pó descortinamos moradias soberbas de arquitetura moderna que nos deixaram atónitos pela beleza e pelo
enquadramento na paisagem. Olhá-las fez-nos sonhar como seria viver naquele local rodeado de
pinheiros numa casa de luxo. Como a estrada não oferecia grandes ou nenhumas condições regressamos à estrada principal para um pouco mais à frente entrarmos no Carvalhal, onde já uma vez havíamos encontrado a praia do Pego que adoramos. Percorrendo tranquilamente a estrada traçada e construída pelo grupo Herdade da Comporta, íamos atentos a qualquer indicação que nos desse informação sobre o aluguer particular de alguma casa. E encontrámos! Mesmo antes da rotunda que permite escolher a acesso
entre a praia do Carvalhal e a praia do Pego. Ligamos e fomos prontamente atendidos pela D. Almerinda que pelo telefone fez as condições do aluguer. A casa era bastante próxima da placa e
após a identificarmos fomos informados que lá estaria a tia da srª para nos mostrar o alojamento para os próximos 2 dias. Ficámos encantados, pois tratava-se de uma casa enorme, nova, pintada de branco com molduras azuis nas janelas e portas e por dentro totalmente equipada e cheia de espaço. Passamos o resto da 
tarde na praia do pego mesmo com um tempo cinzento mas ameno. O dia seguinte foi passado inteirinho na praia com um sol brilhante e um mar transparente. Foi um dos melhores dias de praia deste verão. O areal, a perder de vista, estava praticamente deserto pelo que a paz que sentimos não tem descrição. O jantar desse dia foi feito na churrasqueira do sr. Ilidio, marido da D. Almerinda. Grelhou pimentos que nos ofereceu para a salada, e a D. Almerinda foi-se lembrando de nos presentear com batatas, tomates e uma melancia. O André adorou esta experiência de poder ir ajudar na grelha da carne e ficou fascinado com a simplicidade e bondade destas pessoas. A rodear a casa tínhamos tomateiros e árvores de fruto fazendo o resto da perfeição do cenário. A zona pedonal 
construída ao longo da estrada permitiu-nos caminhadas até ao Carvalhal debaixo do aroma dos pinheiros e acompanhados pela beleza dos arrozais. Foi uma experiência que nos tocou, quer pelo conforto quer pela simplicidade e humildade de gentes que vivem do seu trabalho mas que preenchem o coração dos outros com a sua bondade. Terminados estes dias regressamos a casa para organizar a entrada na escola do André e logo se aproximou o fim-de-semana que foi passado no hotel Golf Mar na praia do Porto Novo na região do Vimeiro. Esta estadia foi-nos proporcionada por um passatempo que ganhamos através de um concurso promovido pelo El Corte Inglês. Choveu 
intensamente durante todo o percurso até à chegada ao hotel mas o fim de tarde proporcionou-nos momentos de rara beleza da varanda virada ao mar do nosso quarto no 6ºandar. O hotel já tem sinais de desgaste mas encontra-se numa posição privilegiada mesmo em cima do mar. O por do sol dessa tarde e o voo das gaivotas compensaram o cansaço e o mau tempo que apanhamos pelo caminho. O dia seguinte prendou-nos com sol e temperaturas agradáveis que proporcionaram longas horas na piscina até que o sol, as nuvens e o vento o permitiram. E assim reequilibramos as forças para enfrentar os dias de actividades e rotinas que integram o quotidiano  dos afortunados que têm saúde e trabalho, objetivos e sonhos e paz para poder caminhar por este percurso infinitamente belo e misterioso que é a vida.