Saturday, December 26, 2009

AO NORTE DE PORTUGAL. Douro Palaciano e Porto Cosmopolita.

Por estes dias e já com as férias de Verão tão longe, apetece descansar. A época que se avizinha é de festa e de comemoração. Sendo assim, junta-se o útil ao agradável e descansa-se e comemora-se a quadra natalícia. Com pouco tempo para pensar ou organizar qualquer viagem mais elaborada e depois de uma navegação rápida pelos sites das companhias aéreas e pelas tarifas hoteleiras das cidades da Europa, a decisão foi rapidamente tomada. Ficar por cá e fazer mais uma incursão ao norte de Portugal. Por esta altura do Natal, o norte apruma-se e mostra aos seus visitantes o que de melhor existe nas suas tradições natalícias. Eu costumo dizer que no norte cheira a Natal, pois das casas saem os aromas das melhores iguarias que por estas terras ainda são genuínas. Aqui o cabrito é criado na montanha e a carne da vaca segue as normas da região demarcada a que pertence. O capão (vulgo galo) é criado à mão e constitui por isso um produto de enorme valor e qualidade gastronómica. A complementar este património gastronómico único e não menos valioso, a região norte do país goza de privilégios que lhe confere projecção além fronteiras. Fomos directos ao conselho de Baião, pois por lá, bem na encosta do Douro, ansiávamos conhecer o novíssimo Douro Palace Hotel. E porque a viagem era longa projectámos o almoço do primeiro dia na nossa muito conhecida catedral dos leitões logo ali à saída de Coimbra. Vale a pena descrever alguns pormenores sobre esta zona, Para lá chegar, vindo do sul ou do norte, a melhor saída pela A1 é em Coimbra norte. Depois de percorrer cerca de 9 km que separam o acesso à auto-estrada na estrada nacional, a direcção a seguir é Coimbra e logo à frente encontramos as placas com as localidades de Fornos e Vilela. É só seguir e contornar a rotunda. O restaurante o Rui dos Leitões vê-se logo no início da rua. O espaço foi todo renovado à algum tempo e agora oferece aos ses comensais uma decoração moderna com mobiliário confortável e instalações que mais fazem lembrar uma sala de hotel. Bem, para comer não há dúvidas: leitão. É delicioso. Vem assado no ponto e é servido com rodelas de laranja, salada e batatas fritas. É uma paragem obrigatória e um prato que já não dispensamos quando viajamos para norte. A bebida obrigatória que deve acompanhar este pitéus dos Deuses, mas que deverá ser consumida com consciência e de forma moderada é o vinho frisante produzido e engarrafado pelas Caves Messias, para este restaurante. Trata-se de um vinho branco de rótulo humilde que lhe confere o nome, Viadores, discretamente gaseificado e de travo algo doce. É divinal!
Voltando ao Douro, e depois da preciosa ajuda do GPS, com relativa facilidade chegámos à freguesia de Santa Cruz do Douro. Logo a partir do nó dos Carvalhos é só seguir a indicação A3/A4 Braga/Viana. Depois de passar a ponto do Freixo e o estádio do Dragão à esquerda, temos que nos incorporar na A3 para depois entrarmos na A4. Depois é só percorrer cerca de 100km, 50 do quais em estrada decente e outros 50 por curvas e contra-curvas, mas com uma paisagem deslumbrante. Finalmente e sem se deixar anunciar, pois as primeiras indicações que nos surgem sobre o hotel, são apenas em Baião, encontramos ali, sobranceiro ao Douro, no Lugar de Carrapatelo, o Douro Palace Hotel Resort & SPA. Visto do exterior é um edifício de linhas direitas e sóbrias, constituído por longos rectângulos debruçados sobre a encosta e virados ao rio. Ao entrar percebe-se que o hotel é muito mais do que isso. Dentro do edifício encontra-se outro de traça antiga que representa a antiga casa da família. A história é simples mas merecedora de projecção e até registo em brochuras para divulgação. Esta unidade nasceu da vontade de uma família, proprietária de várias quintas nesta região que decidiu, depois de encontrar mais um conjunto de sócios e formar a empresa JASE -Empreendimentos turísticos Lda, aventurar-se pelo munda da hotelaria. Abençoada aventura! E já a pensar no futuro há um projecto para uma unidade de 5 estrelas na freguesia de Ribadouro, mesmo junto às margens do Douro, será o Grande Douro Hotel. A antiga quinta de São João deu lugar, com um aproveitamento da antiga casa de habitação da família a um hotel que se projectou a partir deste edifício central para um e outro lado. A riqueza do ponto de vista arquitectónico é impar. No módulo central funcionam os serviços de bar e restauração. A recepção e o lobby estão ao nível do 5ºandar e os pisos dos quartos projectam-se encosta abaixo pelo que, em vez da tradicional subida para os quartos, aqui temos de descer. De facto, logo a partir do piso térreo, fica-se com a impressão que tudo o resto se há-de passar numa quota inferior, pois daqui projectam-se vários conjuntos de escadas para baixo e ao olhar pelos vidros, o Douro cumprimenta-nos lá em baixo, onde deambula calmo na sua infinita serenidade. A paisagem principal e que acompanha sempre o resort, é o Douro. Os quartos são muito confortáveis, forrados com alcatifa negra que faz a ponte a partir da cobertura de ardósia que decora todo o chão do hotel. Para as cabeceiras de cama foram escolhidas paisagens do Douro projectada nas traseiras dos roupeiros que separa o quarto das casas de banho. Ideia idêntica encontrámos no hotel Kenzi Menara Palace em Marraquexe. Dormir neste pedaço de paraíso permite acordar com o Douro aos nossos pés, pois todos os quartos gozam de uma magnífica vista para o rio. No restaurante, onde predominam os tons castanhos e onde o tecto forrado com folhas de fibra ondulantes, traz a energia do rio para dentro do edifício, servem-se iguarias preparadas pelas mãos do Chefe Rocha que deixam os comensais presos pela boca e ainda mais apaixonados por tão belo lugar. Provámos como entradas creme de alho francês com gambas souté e azeite de crustáceos e presunto transmontano laminado, com pêra bêbeda, espargos grelhados e redução de LBV. A escolha do prato principal recaiu sobre o polvo grelhado em azeite de orégãos com batata de pele recheada, espinafres e maionese de alho. Para a sobremesa convencemos a simpática colaboradora do restaurante a desafiar o Chefe Rocha para no servir de novo a soberba pêra bêbeda que compunha o prato da entrada de presunto, uma tinta e outra, por sua sugestão, branca. Divinal a branca pois era em tudo diferente da pêra tinta a que estamos habituados mas mesmo a tinta aqui é preparada em Vinho do Porto das castas da região. Da pêra branca sobressaem uma fusão de sabores a mel e canela numa mistura que deixa marca na nossa memória.
AXIS PORTO HOTEL - Finda a visita à esta região voltámos ao Porto onde reservámos o novíssimo Axis Porto Hotel, com inauguração em Março deste ano. Trata-se de um edifício de 9 andares de ar sofisticado com direito a monograma numa parede exterior do edifício. Vindo da A4 e saindo para Matosinhos a localização é facilitada pela constante orientação das placas estrategicamente colocadas. Fomos recebidos com um caloroso sorriso da recepcionista Marta que nos alegrou logo à chegada com um ug-grade para uma suite. O lobby do hotel é sofisticado e muito bem decorado. É fantástico apreciar as novas linhas de tendência decorativa dos decoradores modernos. Aquilo que julgávamos impossível de conjugar agora predomina no mesmo espaço com uma harmonia que nos permite cultivar a imaginação e inclusive dar largas às nossas ideias na tentativa de interpretar as relações entre as cores os padrões e a simplicidade das formas dos objectos e do mobiliário. As paredes de mármore castanho raiado convivem no mesmo espaço com um chão preto e apontamentos dourados dos ladrilhos das colunas do edifício. Carpetes e tapetes há-os desde vermelho vivo a cinzas e castanhos, encimados com cadeirões e sofás com riscados brancos e pretos e padrões cinzas, numa harmoniosa conjugação de beleza. A sala de restaurante dá-nos a noção da continuidade do lobby, pois foi projectada em open-space. A separá-los dos outros espaços encontram-se elementos decorativos multifuncionais que dão vida ao local, permitindo múltiplas facetas decorativas. A suite é fabulosa. Tudo ainda cheira a novo. A surpresa começa logo à saída do elevador com motivos da cidade impressos nas paredes dos corredores e nas portas de cada quarto. Assim, mesmo dentro do hotel, a cidade cumprimenta-nos a cada passo, aguçando o apetite para a visitar e até para descobrir edifícios e monumentos que por vezes não estão incluídos nas nossas visitas programadas. O alinhamento do mobiliário mostra uma projecção programada, pois tudo está no local correcto e com a funcionalidade prevista. A cama é o elemento atractivo da suite, pois a sua cabeceira em almofadas de pele creme e preta marcam a sua presença convidando a experimentar a colchão que tem o dobro da altura dos nossos lá de casa e a maciez das almofadas e do edredon, constituem motivos suficientes para noites de repouso em absoluto silêncio e máximo conforto. O SPA do hotel é pequeno mas funcional pois em nada fica a dever a locais de maior dimensão. Está equipado com piscina dinâmica, sauna e banho turco para momentos de relaxamento sempre apetecíveis. Os nossos dias no Porto foram passados a visitar a tradicional baixa da cidade (Stª Catarina), na sua irrequieta atitude desta quadra festiva, o velhinho mercado do Bulhão, a provar as deliciosas rabanadas e a procura de sabores que marcam as nossas visitas quase anuais a esta magnífica capital do norte de Portugal. A merecer um apontamento final não posso deixar de descrever o jantar de aniversário da Micá que foi comemorado na cervejaria Gambamar na Rua do Campo Alegre. É um espaço que já conhecíamos graças à ajuda da preciosa recomendação do Lifecooler. As novidades deste ano foram a companhia do meu irmão, cunhada e sobrinhas que nos deram o prazer da sua companhia e nos acompanharam sempre na visita à cidade e nas refeições. Não podíamos de deixar de lhes recomendar da ementa do Gambamar, o arroz de Lavagante, que já havia sido banido da ementa, mas que a competentíssima funcionária tão habilmente fez recuperar. Uma outra prova que nos deixou de água na boca e que ainda não conhecíamos foi a deliciosa sopa de santola. Trata-se de um caldo de marisco mas com sabor a santola e servida na concha da mesma. Simplesmente divinal. E assim se cumpriu mais um passeio pré época festiva que nos encheu a alma com mais uma mão cheia de novas experiências que a vida felizmente nos tem proporcionado viver.

HOTEL VILA SOL Algarve, A Renaissance Spa & Golf Resort

No lugar de Morgadinhos, situado na grande e distinta mancha verde de pinhal entre Quarteira e Vilamoura, encontra-se o hotel Vila Sol Algarve, Renaissance Spa&Golf Resort, uma unidade de 5 estrelas que actualmente integra o grande grupo hoteleiro Marriot Hotels na sua classe Renaissance. O desejo de conhecer este hotel já vinha de outros tempos, altura em que os apartamentos do mesmo complexo eram apelativos, quer pela sua distinta localização, quer pela qualidade dos serviços que oferecem e constituem motivo de escolha quando se tem crianças pequenas. A decisão aliada à enorme vontade de conhecer o hotel, fizeram recair a escolha atendendo às tarifas e aos pacotes de programas diversificados e ambiciosos. Acabámos por optar por um programa que incluía meia-pensão permitindo fazer a refeição do jantar no restaurante Green Pines. A chegada a um hotel, nomeadamente a um onde a estadia constitui a primeira vez, é sempre de expectativa e de aglomerados de ideias e ideais pelo que vamos encontrar, que constitui diferença em relação ao que já tivemos o privilégio de conhecer. Habitualmente esse impacto e o toque esperado realiza-se logo na recepção e no lobby. Ou é absolutamente arrasador ou apenas normal e vulgar. Foi o que sentimos, sem deixar de ter presente que o hotel já tem alguns anos. O quarto era espaçoso e muito confortável, cama de dimensão “king size” com um autêntico menu de almofadas, apanágio dos hotéis do grupo Marriot. No entanto via-se que era um quarto já consumido pelo tempo quer no que diz respeito às cores predominantes quer aos apontamentos da decoração. Ficámos num quarto no edifício principal do hotel, pois o enorme parque que constitui esta unidade tem também dispersos por entre jardins e lagos quartos em formato de Bungalows que tivemos oportunidade de visitar. A vista da varanda é magnífica pois vislumbram-se pinheiros, Campos de Golf, lagos e repuxos de água. Um passeio pelo exterior permitiu-nos perceber que aqueles espaços foram cuidadosamente dimensionados permitindo a criação de um ambiente de harmonia entre o Homem e a natureza. No entanto, a presença de inúmeros lagos e sistemas de rega, estão a danificar as paredes e a pintura dos bungalows que mostram que o tempo já fez o seu trabalho e que, para um complexo com o enquadramento paisagístico e a distinção que as 5 estrelas o exigem, necessitam de recuperação urgente. No topo do lago mais próximo ao edifício principal encontra-se dentro de um espaço todo em madeira e vidro, a piscina interior e o jacuzzi, com uma magnífica vista para o exterior. Pena foi que a temperatura da água da piscina impedia a sua utilização conveniente. Estava fria, apesar dos seus 25 graus, pois lá fora estava frio e chovia. Mesmo depois de ter reclamado e chamado a atenção para a situação ninguém teve qualquer preocupação em ser agradável e tentar resolver. Ao jantar fomos prendados com um serviço distinto e com iguarias magníficas constituídas por entradas de queijo St.Marcallini de cabra gratinado com tomate aromatizado com bazilico ou creme de alho francês com amêndoas torradas. Os pratos principais que tínhamos à escolha eram uma tentação e esse facto constituía dificuldade ao escolher. Optamos por tentar provar optando por escolhas diferentes mas alguns impediam-nos tal era o apelo. Falo-vos de bife de novilho grelhado com molho de tomilho (com batata assada e salada), ou filete de salmão escalfado em caldo aromatizado acompanhado de batata e brócolos a vapor, ou tiras de lombo de novilho salteados com cogumelos selvagens servidos com arroz basmati. As sobremesas eram delícias para os olhos e para o paladar, desde a mousse de dois chocolates com molho de frutos silvestres ao cheesecake de morangos. De facto, a experiência gastronómica foi rica e enriquecedora, marcando um dos aspectos positivos da nossa estadia.
O serviço de quartos deixa muito a desejar, pois desde a inexistência de produtos de higiene suficientes para todos e o serviço de abertura de camas com alguém a bater à porta do quarto e despejar-nos dois mini chocolates para as mãos, aconteceu-nos de tudo. Mesmo depois de reclamar e chamar a atenção mais de uma vez, sobre estes aspectos, a resolução dos mesmos não se efectivava sem vária tentativas de queixas na recepção. Achei indecente e mesmo arriscado para um hotel deste grupo, este tipo de comportamento, pois parece que haveria por ali alguma política de contenção, que aceito, desde que me tivessem sido dadas as devidas explicações.
Pelo lobby do hotel encontravam-se exposições permanentes de pintura e escultura e dinâmicos workshops, que animavam e coloriam aquele espaço do edifício. Na frente e na lateral do hotel, que tem uma estrutura arquitectónica em meia lua, encontra-se um enorme campo de golf que é sem dúvida o ex-libris daquela unidade. Nichos de moradias em banda constituem autênticos santuários de luxo e silêncio que permitem aos seus habitantes usufruir de total privacidade e dos serviços disponíveis no grande complexo que constitui este parque hoteleiro.

Saturday, December 12, 2009

Restaurante a Escola

(Almoço convívio de colegas do IPA, num ambiente de reconhecido mérito onde o passado relacional entre amigos se funde com a moderna cozinha portuguesa).

Concretizou-se, no passado dia 21 de Novembro, com a vontade de muitos e a audácia de alguns, mais um encontro-convívio, entre os colegas que, num momento das suas vidas se encontraram no curso de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria, da Instituição Particular de ensino designada de Instituto Politécnico Autónomo, vulgo IPA. Durante os anos do curso, como na maioria das relações de convívio de média duração, desenvolveram-se interacções que foram desde a simples amizade, ao companheirismo para a vida, até ao envolvimento amoroso, que, em alguns casos, resultou em laços matrimoniais. Após o términus do curso e o início da actividade profissional, muitas coisas mudaram. Para a maioria veio o início da vida adulta, da responsabilidade familiar e laboral, mas os laços com o passado, apesar de mais distantes, permaneceram acesos, permitindo vários encontros de actualização. É assim na maioria dos convívios dos que decidem partilhar as suas vidas com um grupo de amigos com quem viveram muitos momentos de alegria e outros de maior tensão, mas sempre com a mesma cumplicidade. Entretanto passam alguns anos e as famílias vão-se compondo. A aposta nesta nova etapa da vida é absorvente. São os desafios profissionais, os novos projectos, a engenharia financeira, os filhos e a busca incessante da fórmula mágica para os educar. Os encontros com os “velhos”amigos da faculdade passa a ser menos prioritários e cada vez mais disperso no tempo. Existem uns que nunca falham aos almoços de convívio, outros simplesmente deixam de aparecer. Explicações para este fenómeno, aparentemente não existem. Tratam-se de decisões e prioridades pessoais. Existem pessoas que simplesmente não dão valor aos reencontros, ao convívio, aos abraços e à troca de experiências que constituem estes encontros. Os que comparecem, esses estão sempre presentes, não só nos convívios mas também em momentos particulares das vidas de alguns colegas do antigo grupo. Será atracção química? Olfacto? Simplesmente prazer? Não é de certeza uma atracção fatal!
Nesta base e passados alguns anos de afastamento um grupo especial de colegas do IPA, reuniu-se para confraternizar num local especial que em muito apela aos tempos antigos. O restaurante “Escola” nos Cachoupos, entre Alcácer do Sál e a Comporta. Trata-se de uma antiga escola primária, ainda do tempo do antigo regime, agora transformada num restaurante de grande qualidade. O cenário é bucólico, pois por entre vegetação rasteira e pinheiros pode-se sentir o sabor dos velhos tempos numa fusão de aromas e gostos muito actuais. As mãos responsáveis por este novo conceito são as do Sr. Henriques, homem de pequena estatura, face morena e enrrugada e de palavras simples. Este homem, de fenótipo tipicamente português e de habilidades culinárias invulgares, percorre o mundo para levar os seus segredos e elaboradas composições gstronómicas, a concursos internacionais, de onde normalmente traz galardões que o enchem e nos enchem de orgulho. Em pequena troca de palavras com ele, eu dizia-lhe, apenas com a experiência de mero viajante que aprecia as gastronomias locais, que a nossa cozinha era a melhor do mundo, ao que ele concordou em pleno.
No momento e na hora marcada começam a chegar os que se inscreveram para este novo encontro de convívio. Como já haviam passados alguns anos, os primeiros a chegar faziam esforços para se recordarem dos nomes dos filhos e dos cônjuges dos muitos colegas que começavam a aparecer, pois pareceria muito mal uma falha assim destas. E os carros? Já não eram os mesmos dos tempos da vida de estudantes nem do início da vida adulta. Entre cumprimentos, alegrias e muitos abraços, iam-se exclamando palavras de agrado e simpatia pelos que chegavam. Avaliavam-se sem sentido crítico as dimensões e espessuras das cinturas e do abdómen. Palavras como: “Tás mais gordinho (a)” ou “Tás na mesma, os anos não passam por ti”, são frases feitas mas que expressam carinho e sentido de fraternidade. As crianças estavam crescidas e diferentes dos rostos que conhecíamos. Foi uma alegria rever todos estes amigos agora mais reproduzidos e todos tão felizes. O almoço não poderia ter corrido melhor. Os organizadores foram exímios na preparação de todos os pormenores. Até as crianças tiveram direito a enterteiners com umas meninas de folhinhos a olharem pelas suas diabruras. Uns optaram por não trazer os filhos ou por estes já serem crescidos ou porque lhe apetecia ter um almoço diferente e mais descansado, “despidos” das suas responsabilidades parentais.
A ementa era composta por vários pratos, todos especialidades da casa: arroz de choco e arroz de peixe seguidos de batatas de rebolão (uma espécie de carne do alguidar com batatas assadas) e finalmente a empada de coelho que constituiu sem dúvida o ex-libris do rol de especialidade e já com um conjunto de galardões internacionais arrecadados. Bom vinho alentejano, muita alegria e doces sobremesas constituiram motivo para uma tarde de chuva muito bem passada, num convívio onde de tudo se falou: desde as viagens aos decotes, à educação dos filhos e à complexidade dos tempos modernos para os quais nos achávamos preparados, mas que agora nos faz reflectir para onde corremos, que partido tiramos da vida e se esta será a melhor forma de educação e exemplo que passamos aos nossos filhos. Só o tempo o dirá. Venham mais convívios destes, que permitem equilíbrio e alguma terapia de grupo, pois viver é partilhar, é troca de experiências, é um processo de aprendizagem permanente que não deverá jamais ser interrompido.

Monday, October 12, 2009

Köln, Colónia, Cologne (Simpósio intercalar do Conselho Europeu de Ressuscitação)

O Simpósio intercalar do Conselho Europeu de Ressuscitação (ERC), constituiu o motivo para visitar a magnífica cidade alemã de Colónia. Os companheiros de viagem, já habituais nestas andanças do Conselho Europeu, para além da minha mulher, foram o colega Carlos Pinto e sua mulher Elsa Guimarães, a Catariana Cruz e a Elisabete (vidé foto neste post). Koln, Colónia ou Cologne, de acordo com a língua em que se pronuncia, é a maior cidade do estado de Renânia do Norte-Westfália, situa-se a cerca de 1 hora de comboio de Frankfurt e a menos de 30 min de distância de Bonna. Esta distância é encurtada no espaço e no tempo pelo comboio de alta velocidade ICE, que percorre a distância a uma velocidade que atinge os 300 km/hora. Quando partilhei esta viagem com alguns amigos que já conhecem a cidade, referiram-me que Köln tinha apenas a Catedral para visitar, no entanto não constituiu motivo suficiente para resfriar o meu entusiasmo. Afinal ia visitar a Alemanha, país que me acolheu quando era criança e desde então povoa o meu espírito e de algum modo influenciou e marcou de forma que considero notável, a minha vida. Portanto, para mim, qualquer pretexto serve para visitar a Alemanha, quer sejam cidades com mais ou menos aspectos para visitar. A lingua não constitui barreira ou problema, embora já tenha esvasiado da memória alguns termos de vocabolário e regras gramaticais, o essencial permanece no seu estado basal, Falar alemão é-me sempre agradável e hoje, percebo a importância de se dominares algumas linguas, pois permite-me circular no espaço europeu e no resto do mundo sem grandes problemas de comunicação. O Hotel escolhido, logo em Abril, (pois sou adepto do bom planeamento e das tarifas económicas da internet) não podia ser melhor. Tratou-se do Azimut Hotel Köln Center, instalado num antigo teatro,e pelo aspecto, recentemente inaugurado. Excelente quartos, novos e confortáveis, um rico pequeno-almoço e a 2 min da estação de comboios (S-Banh) e do metro (U-Bahn ou Tram). Os primeiros 2 dias foram inteiramente consumidos na Conferência que tinha como tema dominante a educação. O local escolhido foi a Departamento de Anatomia da Universidade de Colónia. Tratava-se de um espaço antigo e algo confinado, mas suficiente para que o evento decorresse com absoluta normalidade. Os debates foram muito interessantes. A exposição técnica não trouxe grandes novidades em relação à Conferência do ano passado em Ghent na Bélgica (vide post). Desta vez a grande novidade para mim foi a minha estreia absoluta com um poster num evento científico internacional. Tratou-se de um poster sobre o projecto “Os 5 gestos de Socorro” da autoria de uma grande amiga da Cruz Vermelha Portuguesa, Marinela Velloso com lugar de destaque (Vice-Presidente) na Associação Nacional dos Alistados das Formações Sanitárias (ANAFS). O único desapontamento ocorrido é que ia com a ideia fixa de que o iria discutir o poster para os key-people do ERC, como me haviam informado por e-mail, mas depois percebi que seria impossível discutirem todos os 96 poster que estavam afixados. Mas no fundo o que interessou foi termos sido aceites pela comissão científica do evento e termos levado à Alemanha e ao Conselho Europeu de Ressuscitação um projecto português de grande valor educativo e de grande impacto. Fomos vistos por muitas pessoas, desde o Japão à Islândia, Reino Unido e Alemanha. A nossa vizinha de poster ficou tao surpreendida com a ideia de se transmitirem ideia simples mas fundamentais através de um livrinho com o formato de uma mão, que sugeriu entre sorrisos, fazermos um manual para ensino da enfermeiras do seu hospital. Aí está uma ideia muito interessante. A noite de festa da conferência, como já é apanágio do ERC, passou-se numa típica cervejaria alemã, a Brauhaus Sion muito perto da Dom (catedral). Trata-se de um espaço onde cabem mais de 600 pessoas sentadas. O ambiente era de festa e a cerveja típica da cidade, a Kölsch, era servida à descrição e transportada em tabuleiros onde os copos eram encaixados. A comida era servida em mesas corridas (buffet self-service) onde cada um se servia a gosto. Foi uma noite agradável com um serviço rico em excelência e muita simpatia. Uma típica noite alemã onde me senti muito feliz por estar de novo no “meu” país de infância. Quis o destino que o Sr. Tor, presidente da Laerdal (gigante da indústria hospitalar) estivesse na mesa ao lado da nossa. Conversa puxa conversa e daí até conhecermos a Heide, representante comercial para a Europa, foi um pulinho. Gente extraordinariamente simples e muito competente e simpática. Na conferência prendámo-los com um livrinho dos “5 Gestos”. Oferecemos um à nossa vizinha de poster do UK e claro que não podia perder a oportunidade de entregar uma mão na mão do mais velho elemento do ERC, o Dr. Chambermain que abordei no intervalo e que me ouviu com muita atenção e agradeceu. O resto dos dias foram passados a conhecer a bela cidade banhada pelo rio Reno. De facto a Catedral constitui a imagem de marca da cidade, trata-se, a seguir à de Milão, da 2 maior catedral gótica da Europa. É imponente por fora e maravilhosa por dentro. Sentámo-nos nos seus bancos e ficámos ali a ouvir o seu silêncio apenas rasgado pelos ténuos sons provenientes dos múltiplos orgãos. Ali apetece apenas parar, descansar e reflectir. Alguns dos colegas tiveram a coragem de subir os mais de 500 degraus que conduzem às torres, mas eu aproveitei para visitar mais um pouco da cidade. Aquele edifico-monumento datado de 1248 (séc XIII) que se vê de qualquer ponto da cidade, icentiva à coragem e ao amor. Toca-nos de alguma forma, como se quizesse passar-nos uma mensagem. Tem algo de carismático e profundo, não fosse dos únicos edificios da cidade a permanecer inteiros e intactos durante a 2ª Guerra Mundial, nenhuma bomba lhe tocou. Aquele pedaço da humanidade da qual é património, fez-nos pensar em juras de amor e até comprar outras alianças, não fossem estes dias coincidir com o 16º aniversário do nosso casamento. Mas, visitar Colónia é também visitar o imenso bairro turco com as suas vicissitudes próprias, o comércio local que nos deixou surpreendidos com os preços, que esperaríamos serem muito inflacionados em relação a Portugal, mas tal não é verdade, nem nos produtos nem na alimentação que com tanta escolha e variedade, permitia fazer refeições abaixo dos 10 euros/pessoa. Os preços só se aproximam dos custos em Portugal, nas típicas cervejarias, mas que valem muito a pena visitar. Aqui podem-se apreciar pratos como o famoso schweinehaxe ou bratwurts, brindar com a cerveja que orgulha a cidade e ouvir músicas típicas deste belo país. Por toda a cidade existem quiosques e roulottes a vender as típicas salsichas alemãs, que variam em nome dimensão e sabor: vão desde a típica Bratwurst, a Krakauer, Curriwurst ou Mettwurst. O cheiro e sabor continuam gravados na minha memória desde os tempos de criança, como se sempre tivesse ali vivido e nunca me separado daqueles aroma. Temos um cérebro prodigioso que tão bem sabe guardar tudo aquilo que experimentamos e tão bem nos faz felizes. Saborear tais petiscos é literalmente regredir aos tempos da minha germânica infância. Outro pitéu que recomendo para os apreciadores dos sabores e aromas a queijo é o não menos fantástico Käsekuchen (a tarde de queijo mais saborosa do mundo). Mas visitar Colónia é também passear ao longo das margens do Reno e visitar os acontecimentos da cidade. A melhor imagem exterior da catedral consegue-se passando a ponte para a outra margem do Reno. Numa das pontes, na metálica (mais próxima da catedral), milhares de cadeados, uns mais originais com lacinhos ou placas descritivas em forma de coração, outros simplesmente cadeados, prometem juras de amor eterno, trancados e unidos contra o gradeamento metálico que separa o passeio pedonal das linhas de caminho de ferro. Nos dias da nossa estadia houve a maratona que envolveu e animou toda a cidade e uma enorme feira de velharias onde o típico espírito alemão reinava por entre as tendas e quiosques. Perdi-me por entre tendas e roulottes de Bratwurst e Bräzel discos, livros, velharias e carrinhos de colecção. Parava aqui e ali para apreciar, fotografar ou simplesmente cheirar. Não queria acreditar quando de repente tinha em mãos cd’s em 2ª mão de cantores que alimentaram o meu imaginário de criança. Ali estava eles como se o tempo tivesse voltado a trás. Não resisti e comprei cd’s do Jürgen Marcus e do Günter Gabriel. As atracções da cidade são muitas para quem aprecia arte pois há museus por todo o lado. Encontramos desde os de arte moderna ao museu do chocolate ou da mostarda. O museu do chocolate é visita obrigatória principalmente se as crianças estiverem presentes. Aqui assiste-se à explicação interactiva da produção do chocolate desde a recolha e produção do cacau pelo mundo até à fabricação “ao vivo” deste magnífico alimento, com direito a provas e tudo. Cá fora espera-nos uma loja deliciosa com tudo o que podemos desejar em matérias de chocolate. É proibido ir embora sem provar as delicias que o café de apoio ao museu serve com uma bela vista para o rio. Desde os batidos de chocolate ao famoso e delicioso Käsekuchen, não faltam motivos para um lanche rico de doçura. Outro passeio agradável é “sobrevoar” o rio Reno a bordo de um teleférico que nos leva de uma margem à outra mostrando, lá de cima, vistas magníficas da cidade e do rio. Lá de cima pode localizar-se o balneário termal da cidade onde os germânicos mesmo em dia de frio apreciam a nudez e banham-se nas quentes e termais águas das piscinas. O sistema de transportes é muito funcional e com o Köln-Welcome-Card, que se pode adquirir no posto de turismo mesmo à beira da catedral, pode-se percorrer toda a cidade em todos os transportes por 9 euros/dia ou 32 euros para 3 dias. Este passe tem várias vantagens como bebidas grátis em cafés e restaurantes e descontos nos museus e no teleférico. As casas de banho públicas são quase todas pagas, mas vale a pena utilizar os serviços pois gozam de uma sofisticação tecnológica com todos os equipamentos e automaticsmos e de uma higiene irrepreensíveis. De volta a Frankfurt, de novo no rápido e confortável transporte proporcionado pelo ICE, a organização dos serviços públicos, as gentes e todo o ambiente social alemão deixa saudades de voltar.

Tuesday, October 6, 2009

Seguindo o lema “Vá pra fora cá dentro” despedimo-nos do Verão (Monte Real, Costa de Caparica, Santiago do Cacém)

(Monte Real, Costa de Caparica, Santiago do Cacém)
Três semanas passadas após as férias grandes, sabe tão bem descansar de novo. Parece pouco tempo e de facto é, mas haverá tempo para medir o cansaço e o tempo de lazer? Julgo que a estratégia melhor, mais equilibrada e mais saudável é aproveitar todos os momento de lazer e fazer de cada regresso um momento de qualidade e de agradecimento pelo que vivemos e pela oportunidade que tivemos de regressar.
Antevendo mais um ano de intensa actividade profissional e familiar este é o momento para retemperar forças e aproveitar o sol. Ao que parece e ouvindo os sinais do nosso corpo, as férias de maior duração já não chegam para retemperar forças ou então é a complexidade dos dias que nos atira para o mais profundo cansaço e sentido de saturação. Pensando nestes aspectos aproveitam-se agora os últimos e ainda magníficos dias de sol escolhendo itinerários curtos e procurando pequenos oásis de bem-estar e luxo que este nosso pais vai tendo para oferecer, aproveitando para pequenas incursões por locais menos ou nunca dantes visitados. Monte Real (entre Leiria e Figueira da Foz) foi o primeiro destino, porque por aquelas paragens esperava-nos o novíssimo hotel do grupo Lena Hotéis, o Monte Real Palace Hotel.

MONTE REAL PALACE HOTEL
É a mais recente jóia do parque termal desta região. “No interior do Pinhal de Leiria, as Termas de Monte Real, conjugam as memórias das estâncias termais clássicas, com a dinâmica das tecnologias e tratamentos modernos. Os efeitos terapêuticos desta água eram já conhecidos durante a ocupação romana, datando a sua exploração recente de 1807. Nascida à temperatura de 18 graus, esta água é bacteriologicamente pura, sendo recomendada para o tratamento das doenças do aparelho digestivo, reumático e musculo-esqueléticos e do aparelho digestivo. As termas dispõem de programas de relaxamento e bem-estar. As Termas foram totalmente reconstruídas em 2009 e dotadas com novos equipamentos e serviços.” Aguarda-se a sua re-abertura até ao final do ano. Mais informações em: www.termasdeportugal.pt,www.palacehotel.com. www.lifecooler.com/portugal/actividades/TermasdeMonteReal”
Pelo caminho fomos ao encontro de mais um oásis de bom gosto e muita qualidade, quando se aproximou a hora de almoçar. Mais uma vez, foi o inseparável lifecooler que nos conduziu até ao magnífico restaurante Matilde Naco. Sobranceiro à cidade de Leiria, com uma magnífica vista sobre o castelo e bem integrada na localidade de Marrazes, encontrámos um espaço requintado de decoração sóbria e moderna onde as razões para comer são fáceis de encontrar e se conjugam na mistura harmoniosa que aquele lugar torna possível. Monte Real fica um pouco mais à frente na estrada Nacional que liga Leiria à Figueira da Foz.
O edifício principal do hotel, agora reestruturado, mantém as imponentes fachadas originais. Olhando para a sua grandiosidade e beleza é fácil recuar no tempo e pensar como seria, nos tempos da Dinastia, viver num local assim. O interior é todo ele apaixonante. O resultado para fazer renascer o passado e acrescentar um toque de futuro, foi conseguido pela fusão de elementos físicos onde predomina o aço, a madeira e o vidro. A decoração é bem actual, minimalista e com tendências Art Déco. O hotel cresceu em área graças à construção de uma ala nova que se funde e se prolonga para trás embora sem se afastar do edifício principal designado de palácio. O elemento de transição foi conseguido forrando uma parede de calcário marmoreado em tom beje que se espraia pela fachada do novo bloco. Por entre os vidros podem-se ver em cada canto pensado, mobiliário em pele castanha, dourada e preta. Os apontamentos que mais se destacam são as cómodas pretas de design clássico, os cadeirões em tons escuros e os sofás dourados, confortados por almofadas pretas. O quarto recebe-nos com as suas generosas dimensões, uma magnífica cabeceira de cama em madeira preta riscada ladeada de vidro, e que pretende continuar o soalho revestido com alcatifa do mesmo padrão. A vista pela varanda é para a piscina que nos convida a um mergulho nas águas límpidas e mais tarde comprovadamente mornas. Neste lugar com história, que a natureza privilegiou com tranquilidade e paz, a estadia não ficaria completa sem uma experiência no Monte Real SPA. O edifício de linhas modernas encontra-se a alguma distância do hotel, ao fundo do eucaliptal com a fachada frontal projectada na água do lago. Até lá se chegar, sente-se a leve brisa que agita os eucaliptos e os longos pinheiros por entre trilhos e circuitos de treino, bem identificados e arranjados. Para a satisfação dos mais pequenos, entre o lago e o SPA, encontra-se um parque infantil cuja atracção principal é um barco onde a imaginação voa por entre mares e piratas ao som dos pássaros e brisa do vento. Esse é o mote para continuar com as experiências in SPA. A escolha recaiu sobre o circuito Monte Real, seguido de uma massagem Monte Real. O circuito inicia-se com um duche que recria uma Carribean Storm. Sons de pássaros, luzes e jactos de água de diferentes intensidades, transportam-nos para uma experiência de uma tempestade tropical onde não faltam trovões e relâmpagos. Segue-se o duche Eucalyptal Rain, que reflecte o Inverno em Monte Real. Os balneários são magníficos. Nunca a pedra e a madeira se conjugaram e casaram tão bem. As paredes são forradas com rectângulos de ardósia assentes de forma irregular, o que acentua o relevo já bastante agreste. A piscina interior aquecida a 32 graus e raiada pela luz natural, é muito bem dimensionada, tem camas de água e uma cascata mas parece-me subaproveitada, pois não tem outros jactos. Num patamar superior encontra-se a sauna e o banho turco com aroma à escolha entre o eucalipto e o limão. O duche de contraste permite opções entre a cascata, um verdadeiro e magnífico rain-shower e duche directo da mangueira. Para terminar pode-se optar por subir ao 1 andar e, na zona de relaxação, descansar da boa vida num solário natural. A dar valor e relevo a todos estes momentos e serviços, encontram-se um conjunto de funcionários extremamente afáveis, competentes, profissionais e dedicados que nos fazem sentir em cada momento o prazer da entrega ao dolce fare niente.
O próximo destino destas nossas mini-férias situava-se já mais a sul do Tejo, perto de casa mas longe das preocupações, dos horários e das rotinas do quotidiano. Percorrendo o IC 20, após a magnífica Ponte 25 de Abril, logo a seguir aos semáforos antes da Costa, virando à esquerda e subindo a Via Panorâmica Pablo Neruda. Ao cimo encontra-se o complexo turístico da Aldeia dos Capuchos, cujo elemento dominante é o recente hotel da mundialmente conhecida Cadeia Meliã.

Hotel Méliã Aldeia dos Capuchos.
O edifício é moderno, em vidro e aço e projecta-se em U aberto virado ao sol e com uma magnífica vista para o oceano atlântico. O lobby é imponente pela sua dimensão em altura, mas não é arrebatador do ponto de vista decorativo. Os elevadores em vidro oferecem vista panorâmica e entregam clientes e bagagens aos diversos pisos de apartamentos. Ficámos instalados no apartamento 533, no 5 piso. O primeiro impacto negativo vê-se e sente-se logo ao percorrer o mais estreito corredor de que tenho memória no edifício público. A ladeá-lo estão as muitas portas de acesso aos alojamentos que se dividem em apartamentos T0 e T1. O nosso T0 era mesmo de dimensão à medida e de decoração que não constitui atracção ou conforto. A cama projectava-se no meio do apartamento depois de descer através de molas e amortecedores de uma estrutura que a suportava, permitindo a sua recolha, sempre que o espaço necessitasse de ser reinventado. A pequena cozinha tinha o equipamento essencial mas encontrava-se armário por armário, toda encerrada à chave. Mais tarde esclareci que tal atitude se prendia com o controle dos conteúdos e apetrechos que habitualmente se utilizam para preparar uma refeição. Não achei simpático! As casas de banho também sub-dimensionadas já apresentavam alguns índices de degradação, nomeadamente ao nível do chuveiro, espelhos, etc. A varando era grande e atractiva pois para além de ser banhada pelo sol tinha uma espectacular vista sobre a piscina e para o mar. A nossa tarifa incluía o pequeno-almoço que foi sérvio no piso 2 numa sala onde o mobiliário já não é deste tempo e o chão, em madeira (Wenge?) preta, parece já por ali estar há muitos anos. Não é um soalho adequado a uma sala com tanta utilização. Nada no pequeno-almoço é atractivo. A apresentação dos produtos é conseguida com algum esforço, mas as reposições são demoradas. Os diversos tipos de pão e croissants estão todos amontoados e esmigalhados. Os quentes são apresentados em tabuleiros de barro sem protecção ou aquecimento. Quando caiu a noite para além dos barulhos exteriores dos outros indomáveis hóspedes, que mostraram a deficiente acústica do edifício, fomos prendados com ruídos extras que impediam uma noite calma que procurávamos nestes dias de descanso. Os sons emanados do ar condicionado eram potenciados com as turbinas exteriores do mesmo ar condicionado, numa orquestra sinfónica que nem para embalar servia. Contactada a recepção tudo foi feito com amabilidade e simpatia para resolver a situação que não tinha solução. O resultado foi mudar de apartamento bem lá para o meio do edifício, pois a potência das turbinas fazia-se ouvir em grande parte dos alojamentos daquele piso. Passamos o resto da estadia, numa simpática suite onde perdemos a vista piscina, mas ganhamos espaço e silêncio. Os dias por estas paragens passaram-se nas belas praias da Costa da Caparica. Não fosse a apresentação e o estado desta localidade, agora re-intervencionada com o programa Polis, esta seria uma das mais belas regiões do país. As praias são magníficas, com extensos areais de finos grãos dourados que num infinito vaivém nos convidam a excelentes mergulhos nas águas límpidas do oceano. Ao longo dos km de praias podemos encontrar diversos ambientes que vão desde as praias repletas de pessoas, as ditas praias familiares, até, nas mais distantes, a oásis de calma onde só vai quem não se importa de andar e se afastar um pouco. Todas as praias têm nomes, ex: praia do rei, da Rainha, da Cabana do Pescador, etc, cuja origem eu desconheço, mas provavelmente relacionadas com os bares e esplanadas que as exploram servindo petiscos, refeições ou disponibilizando toldos. Tudo é rústico e algo rudimentar, feito de madeira, colmo e junco, mas funcional. Desde a Costa até à Fonte da Telha, existe, ainda que antiga, uma linha férrea de 2 carris, onde uma pequena máquina a diesel puxa carruagens já gastas pelo tempo mas que ainda rolam e fazem as delícias dos que procuram aquelas paragens em busca do que é exótico e ainda pouco explorado. As paragens de comboio estão numeradas de 1 a 20 e verifiquei, que a partir da paragem 17, as praias são menos frequentadas dando lugar à mudança de hábitos dos que procuram gozar o sol despidos de preconceitos. Aqui é possível fazer naturismo/nudismo em plena comunhão com a natureza.

Depois de horas bem passadas nas paradisíacas praias da Costa de Caparica, rumámos mais a sul, desta vez para visitar e pernoitar no mítico Hotel Caminhos de Santiago. Percorremos a estrada nacional até Alcácer do Sal e, logo a seguir à ponte, a placa referindo Tróia e Comporta havia-nos de orientar até à aldeia de Cachopos onde o Lifecooler sugeria o restaurante a Escola, que já conhecíamos desde os tempos da sua inauguração. Anos passados e saudades acumuladas, eis-nos sentados no interior daquele espaço que em tempos fazia parte do parque escolar do país. Trata-se de um edifício no seu estado completamente original ainda com as letras a anunciar a escola de instrução primária. Por dentro, as carteiras deram lugar a mesas bem postas e a um ambiente gastronómico de qualidade onde pitéus como empada de coelho com arroz de pinhão ou arroz de choco com camarão são opções para uma refeição rica em sabores e em recordações. Não se pode sair daquele lugar com carisma sem se provar o doce da casa que é uma sublime mistura de pinhão, amêndoa, açúcar e claras em castelo, polvilhado com canela. Todos os comensais são prendados com um licor de bolota para assentar a refeição. Por lá ainda se vê o quadro de giz e a carteira tradicional. Poemas em homenagem aos alunos e aos professores perfilam-se pelas paredes juntamente com diplomas de honrosas menções, títulos e distinções. Depois daquele repasto só umas horas de descanso serviriam para cumprir a vontade dos corpos preguiçosos. A praia do Pego, para os lados do Carvalhal foi o local eleito para repousar. Fomos surpreendidos com uma magnífica praia organizada com parque automóvel pago, com sombras, depósitos de resíduos, balneários e restaurante. A areia, de grão mais grosseiro que na costa, continua aqui imaculada e selvagem. Aquela extensão de areia não é mais que a continuação da língua de areia da tradicional e agora luxuosa Tróia e que só termina muitos kms depois lá para os lados de Sines. Ao fim da tarde esperava-nos os Caminhos de Santiago.

Hotel Caminhos de Santiago (a irreverência do passado)

Chegados à velhinha cidade de Santiago do Cacém, outrora vila, encontrar o hotel é tarefa fácil pois desde a entrada que se encontram placas de sinalização que não deixam enganar nem os mais distraídos. O hotel nasceu, ou melhor renasceu de uma antiga construção dos anos 40 que era a antiga Pousada de Santiago do Cacém, que encerrou em finais de 2001. No local encontram-se agora o edifício clássico totalmente recuperado e pintado em cor de vinho e foi acrescentado um bloco irreverente e estranho, de cor cinza. O projecto, da autoria do Arquitecto Francisco Aires Mateus, mostra um edifício com uma geometria aparentemente inesperada e de estranha compreensão, mas rapidamente se percebe que esta austeridade teima em marcar a diferença quando se entra na estranha escuridão deste rectângulo. Depois de se abrir uma pesada porta surpreendemo-nos com o mesmo tom cinza escuro que pinta o edifício no exterior. Lá dentro tudo é escuro, fresco e silencioso. A logística do check-in é rápida e muito eficiente. Ao percorrermos os espaços até ao alojamento, não conseguimos ficar indiferentes à decoração minimalista que transporta o Alentejo para dentro desta estrutura que ladeia o século XXI, com anos de história do século XX. Aqui e ali os pontos de luz permitem vislumbrar, sempre de forma discreta, estruturas, tapetes, quadros ou mobiliários sempre com um toque tradicional daquela região do país. O quarto é interessantíssimo pois com a sua cor branca rompe com a escuridão que ficou para traz e abre-se com uma grande janela de vidro para um jardim que nos presenteia com fantástica vista para a cidade, avistando-se o castelo e o mar. Apontamentos do Alentejo predominam e constituem funcionalidades tão praticas como a cabeceira de cama, as mesas-de-cabeceira ou, o cantil para beber. A zona da secretária contrasta com o resto do espaço trazendo para dento do quarto a organização e o design de um moderno escritório. Na sala de repouso e leitura podemos encontrar estruturas de parede feitas com chocalhos, mesas de vidro cm pés em madeira ou pufs forrados com mantas alentejanas. Estes elementos convivem lado a lado com sofás de designs moderno e são abrilhantados por pontos de luz que saem de candeeiros na nova geração de designer´s. O exterior do hotel está ocupado com espaços verdes, um jardim de cheiro e um piscina. Quem por aqui passa é presenteado com um dos melhores pequenos-almoços que já tive o privilégio de tomar. Tudo é tradicional e “caseiro”. Recordo-me daquele chourição com um sabor que me deixou saudades ou as fatias douradas que eram uma tentação. Os dias de descanso passam aqui à mesma velocidade dos outros, mas diferem nos cheiros, nos sabores e no silêncio imaculado que a fusão da história nos permite desfrutar.