Saturday, December 8, 2012

Presépios com sal (Salinas de Rio Maior)


Com a intenção de procurar um pouco do espírito natalício da época que agora se aproxima, ocorreu-nos visitar, após uma informação obtida na net, Rio Maior e a sua tradicional e magnífica “aldeia salina”. 
A deslocação às salinas de Rio Maior ocorreu-nos por altura do aniversário da nossa sobrinha que estuda na Escola Superior de Desporto de Rio Maior. Juntando o útil ao muito agradável cumprimos a visita à muito prometida e aproveitámos para apreciar o artesanato e as construções em sal magnificamente distribuídas por uma aldeia típica com casinhas em madeira e onde a grande atracão são os produtos elaborados à base o sal proveniente das salinas. Nesta época destacam-se os presépios construídos em puro sal e alguns com matérias mistas que passam também pela madeira e alguns elementos verdes da região.  
O resultado é magnífico pois aguardava-nos um conjunto de lojas perfiladas por uma rua ao lado dos talhos das salinas, toda em madeira e decorada com motivos natalícios. Como íamos com muita expectativa apreciámos cada detalhe. Iniciámos o nosso passeio pelo posto de turismo local onde a funcionário nos resumiu de forma muito agradável e simpática a origem geo-morfológica das salinas. Parece haver referências às salinas desde 1177 e que o rei D. Afonso V teria sido proprietário de alguns talhos (pequenos espaços com formato geométrico de quadrados ou rectângulos separados com divisórios em cimento ou pedra, de pouco profundidade, onde a água salgada repousa para a sedimentação dos cristais de sal. 
A separar estes talhos existem pequenos carreiros por onde os marinheiros circulam por entre os compartimentos) e que recebia um quarto de toda a produção tendo o monopólio da sua venda. As origens geológicas das salinas parecem estar relacionadas com a presença de mar, acerca de 200 milhões de anos por aquelas paragens. Ao que parece aquela região foi outrora uma bacia sedimentar marinha cuja transformação originou em grandes quantidades o mineral designado de sal-gema Denomina-se sal-gema ao mineral constituído por cloreto de sódio, cloreto de potássio e cloreto de magnésio que jazidas na superfície terrestre. 
O termo é aplicado ao sal obtido da precipitação química pela evaporação da água de antigas bacias marinhas em ambientes sedimentares. Numa quota superior parece ter havido condições para a formação de calcários, rocha sedimentar friável que, em contacto com condições de temperatura e humidade mais adversas se vai desgastando permitindo a formação de magníficas formações rochosas em ambiente subterrâneo. Estas grutas permitem uma maior permeabilização do sub-solo fazendo com que as águas se infiltrem e cheguem a níveis mais profundos contactando com o sal-gema e fazendo a lavagem deste mineral até um poço central de onde, depois a água é bombeada para os talhos. 
A água que chega a este poço/nascente, é 7 vezes mais salgada que a água do mar. A água que chega a este poço central vem carregada de sal puro numa concentração de 97,94%, que depois é retirada e até há bem pouco tempo era com picotas ou “cegonhas”, engenhos de desenho Árabe, povo que os introduziu na Europa. Posteriormente o sal é recolhido nos talhos pelos marinheiros (designação dada aos salineiros). 
O poço tem 9 metros de profundidade por 3,75 de diâmetro. A distribuição da água pelos talhos obedece a regras ancestrais e todo o trabalho continua artesanal mantendo uma dinâmica sazonal. É na altura do verão que a população das redondezas desce a Serra dos Candeeiros e se prepara para a tarefa milenar do “sal sem mar”.Pela aldeia de madeira podem apreciar-se produtos tão diversos como sal de diferentes granulometrias, flor de sal, sal misturado com ervas aromáticas e muitos outros produtos. Também existem uma diversidade de outro produtos artesanais feitos de madeira e tecido. 

Não faltam por lá cafés e esplanadas onde se podem apreciar as iguarias locais. Não faltam também o mel, o azeite, os pães com chouriço, o rico pão de Rio Maior e os brindeiros (bolos secos) feitos com mistura mel, pinhão e amêndoas. Para  não fugir à tradição almoçámos mesmo na aldeia no restaurante solar do sal onde diziam os locais, se conseguíssemos mesa teríamos oportunidade de provar o melhor frango das redondezas, e não estavam enganados. 

Ilha de São Miguel (Açores)

Integrado na dinâmica do processo formativo nas ciências da reanimação, surgiu o convite para voar até à bela ilha de S.Miguel nos Açores. Ali iria decorrer mais um evento agendado pela dinâmica e entusiasta equipa do Pelouro da Juventude do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas. Desta forma cumpria-se a vontade de fazer chegar aos jovens bancários micaelenses mais uma acção de formação, desta vez em suporte básico de vida. Por circunstâncias diversas formadores e equipa organizadora voaram em voos distintos, mas no dia e à hora prevista, mesmo com atrasos e imprevistos lá chegámos todos ao magnífico Hotel the Lince Azores Great Hotel, Conference, Golf&SPA.
Eu fui o último a pisar solo açoreano e à chegada aguardavam-me a Vânia e o Gilberto que me receberam com um sorriso e muita satisfação. Trata-se de uma unidade hoteleira de 4 estrelas recentemente rebatizada com quartos muito confortáveis e Staff prestável e atencioso. A sala de formação tinha ótimas condições e o restaurante, em formato buffet apresentava pratos deliciosos. O grupo de participantes era muito entusiasta e bem-disposto pelo que a formação decorreu num ambiente muito descontraído e cheio de questões e muita vontade de aprender. Os objetivos foram seguramente cumpridos e os comentários finais foram tão intensos que nos deixaram a todos orgulhosos pela empatia estabelecida e gratos por termos tido a oportunidade de participar em mais um projeto dinamizado por uma brilhante equipa de pessoas competentes e dedicadas que valorizam os projetos e humanizam as relações entre as pessoas.
É um gosto conhecer gente que abraça a vida profissional de uma forma tão competente, produzindo resultados e criando sinergias positivas que desenvolvem e reforçam laços pessoais e profissionais. Conheci a ilha acerca de 3 décadas atrás, teria eu cerca de 17 anos. Penso mesmo ter sido a minha primeira viagem de avião. Recordava-me de alguns aspetos da gastronomia e da paisagem mas tinha imensa vontade de voltar a olhar para tanta beleza que a natureza soube brotar do fundo do oceano acerca de 4 milhões de anos. O primeiro contacto lúdico com a cidade aconteceu logo no sábado à noite quando decidimos visitar a nova marina de Ponta Delgada. Trata-se de uma obra de valorização da orla marítima da cidade com lojas e restaurantes com esplanadas e zonas de passeio.
A deslocação até à marina faz-se bem a pé a partir do hotel. No regresso não resistimos e passámos pelo bar do hotel para provar os licores típicos da ilha nomeadamente o de amora e de maracujá, verdadeiros néctares. Apesar da intensidade dos horários e do programa a cumprir, ainda tivemos tempo de visitar mais um pouco da bela ilha de S.Miguel, isto claro porque as gentes da ilha têm uma forma peculiar de receber os convidados e não olham a esforços para proporcionar a quem os visita as mais belas recordações. À hora marcada na manhã de domingo lá estava o Gilberto que nos conduziu em pouco mais de 3 horas à Lagoa do Fogo, à Caldeira Velha e ao ex libris regional que é a Lagoa das Sete Cidades.
A 1ª paragem foi no Miradouro da Bela Vista de onde se observa uma magnífica paisagem verde até ao mar. Entre uma paragem e outra o caminho contornava o relevo que mostrava bem a complexidade e diversidade dos cenários que pudemos observar. Uma chamada de atenção do Gilberto fez-nos observar e conhecer a criptoméria, árvore típica da ilha e muito utilizada nesta época natalícias, como pinheiro de Natal.
A próxima paragem foi na Lagoa do Fogo e apesar do tempo cinzento, não estava nevoeiro e desta forma fomos presenteados com uma das maiores lagoas dos açores e a 2ª maior da Ilha de S.Miguel. Esta lagoa ocupa a grande caldeira do vulcão adormecido do fogo. Quer a caldeira quer o vulcão que a originou são os mais jovens da ilha tendo surgido acerca de 15000 anos. A lagoa do fogo é a mais alta da ilha pelo que se situa no cimo de uma montanha e a sua configuração em forma elíptica é resultado de um colapso ocorrido acerca de 5000 anos. Depois de nos deliciarmos com uma paisagem arrebatadora e porque o tempo era apertado, seguimos caminho em direção à Caldeira Velha.
 
Trata-se de um monumento natural e regional. Apresenta-se como uma reserva da biosfera de grande importância para a botânica e faunas típicas das florestas da Laurisilva, dada a grande diversidade de espécies e a elevada abundância de fetos arbóreos que povoam este Monumento natural, principalmente devido ao clima muito próprio que estimulou o aparecimento de associações de vegetação natural e floresta de espécies exóticas. É uma zona de relevo acidentado com uma ribeira com pequenos açudes e abundantes caudais que alimentam uma cascata de águas quentes e acastanhadas dada a sua riqueza em ferro. É de salientar ainda a abundância de caldeiras, fumarolas e afloramentos rochosos de cores variadas.
Que vontade de mergulhar neste pedaço de paraíso! Após a impregnação em tanta beleza a realidade chamava-nos pois ainda tínhamos pela frente a visita à deslumbrante Lagoa das Sete Cidades. Trata-se de uma caldeira gigante com cerca de 400 metros resultante de sucessivos colapsos. Os seus bordos têm vertentes muito inclinadas. O relevo é soberbo com zonas de montanha com falésias interiores e profundas ravinas e sulcos por onde correm águas torrenciais. A nossa observação foi feita de um ponto alto permitindo avistar toda a extensão da lagoas que se encontra como que dividida em duas lagoas.
Esta lagoa constitui o maior reservatório de água doce dos Açores. A lagoa caracteriza-se pela dupla coloração das suas águas, sendo dividida por um canal pouco profundo, atravessado por uma ponte baixa que separa de um lado um espelho de águas de tom verde e, do outro, um espelho de tom azul. Um deslumbramento para os olhos e uma bênção para a alma. De volta ao aeroporto ficaram muitos e bons momentos que marcaram um fim-de-semana de trabalho envolvido por pessoas absolutamente genuínas e por uma terra que nos faz acreditar que a natureza tem alma e capacidades soberanas que desenham e arquitectam cenários que nos enchem de orgulho por sermos habitantes de um planeta com esta beleza.