Sunday, January 10, 2010

CONSOADA NO ALENTEJO (Natal 2009)

Manda a tradição no mundo cristão, que na quadra natalícia as famílias se reúnam em confraternização ao redor da mesa e dos presentes que enchem de alegria e de esperança, miúdos e graúdos. No nosso caso e desde que constituímos a nossa família, que a festa de Natal é passada de forma alternada entre Lisboa e o Alentejo, dadas as origens geográficas das nossas famílias. Este ano, é ano de Alentejo e é desta consoada que componho este post. O local de comemoração é uma linda aldeia no litoral alentejano, Almograve. A casa fica junto às dunas e a distância à praia não ultrapassa os 300 metros. O Natal em casa dos meus pais segue as linhas e as tradições habituais nas famílias portuguesas. Reúnem-se à mesma mesa os pais, os filhos, cunhados, primos e os netos. Anos à em que alguns vizinhos e pessoas singulares fazem parte desta reunião familiar, pois a noite da consoada é de dupla comemoração. Comemora-se a noite de tradição cristã e o aniversário do meu pai. As crianças aqui dão largas à imaginação pois têm espaço para brincar e podem criar e inventar brincadeiras que nos outros dias do ano são difíceis de reproduzir porque a vida nas grandes cidades as impede de terem tempo para brincar. O ambiente aqui na aldeia continua como à 20 anos atrás. As pessoas todas se conhecem e estabelecem relações em função da afinidade, das histórias de vida comuns ou das proximidades habitacionais. É comum trocarem-se pequenos mimos gastronómicos, com os vizinhos a entrarem pela casa a oferecer filhós ou pasteis que depois serão trocados por arroz doce ou um pudim que fará parte da mesa de Natal. Visitam-se os familiares mais próximos, trocam-se presentes, dando sempre maior atenção às crianças. Quando se fala de tradição e de comidas é preciso frisar que por estas paragens tudo é genuíno desde a couve que vem directamente do quintal, às batatas que foram oferecidas pelo compadre ou pelo vizinho ou conhecido que tem gosto em presentear com o que de melhor tem. As carnes são oriundas de animais criados nos pastos, praticamente isentos de rações. A confecção das iguarias e doces, seguem princípios que são frutos das experiências de cada um, muitas vezes aprendidas recentemente, outras apreciadas em restaurantes pelas mãos de conceituados Chefes de Cozinha. O resultado é uma mesa de consoada rica em menus diversificados e que muitas vezes substituem a tradição pelos gostos pessoais. Para este ano reservaram-se o típico bacalhau confeccionado com natas e tostado com queijo ralado e com broa envolvido em couves da horta. A confecção simplesmente cozido é cada vez menos apreciado e chega à mesa apenas para marcar a sua presença. Aqui as tradições têm que ter um espírito inovador e permitir a introdução de algumas mudanças, pelo que a ceia da noite da consoada é adornada com camarão cozido e muitas vezes frito preparado e reservado com alhos e uma pitada de whisky. Como o Natal deste ano permite umas agradáveis mini-férias, é preciso criar pratos alternativos para as refeições dos outros dias. Aqui o pai vinga-se e elabora pratos que habitualmente só são permitidos quando estão reunidas várias pessoas para darem conta dos tachos. Um desses almoços, o do da véspera de Natal, foi uma magnífica composição de carnes de porco, chouriço preto, couve e feijão castanho caseiro. São sabores e aromas que ficam na nossa memória para a vida. A mesa de doces é composta por pastéis de batata-doce, (também chamados de azevias) fritos de natal (designados de coscorões ou filhós por outras paragens), tarte de pastel de nata, cheesecake com frutos silvestres, arroz doce e peras bêbedas reservadas com vinho do porto. O bolo rei quando surge é normalmente oferecido por uma vizinha ou conhecida pois é pouco apreciado. Os vinhos são trazidos por que vem de fora. Para este ano reservámos dois brancos distintos, um de origem nacional, vindo das Caves Messias da Bairrada. Trata-se de um frisante de denominação Messias, leve e vibrante de sabor refrescante e intenso, com 9% de volume. O outro é um italiano Bianco de Lambrusco, frizzante binaco denominado Cavicchioli, com 7.5% de volume: mais informações em www.cavicchioli.it.
Para o dia de Natal estão reservados o cabrito assado em forno de lenha e o típico peru de Natal é aqui substituído por frango do campo igualmente preparado com temperos simples que vão desde a cebola ao alho, sal normal, vinho branco, azeite e louro. O acompanhamento é feito com batatas previamente cozida e depois alouradas junto com a assadura da carne. A comemoração do aniversário do pai, que verdadeiramente acontece no dia 25 de Dezembro, inicia-se logo na noite de 24. Os presentes acontecem em simultâneo com a chegada do Pai Natal, mas o bolo de aniversário é confeccionado na véspera e são acesas as velas apenas no dia 25. Trata-se de um bolo magnificamente confeccionado pela mãe com ingredientes que poucos conjugam: azeite, maçã e frutos secos (miolo de noz e amêndoa). O produto final revela um bolo de aspecto fortemente denso e sabor inigualável. Quando o tempo o permite é tradicional fazerem-se passeios até à praia para cumprimentar o mar e agradecer por mais um Natal.