Wednesday, March 20, 2013

Alentejo Marmóris Hotel & SPA (Vila Viçosa)

A crise já vai longa como longa e penosa vai a adaptação a esta nova realidade que obrigou a maioria dos residentes da velha Europa, do sul, a um volte-face para enfrentar uma nova e real dimensão da vida projetada e agora pensada ao dia e ao cêntimo.
Esta nova dinâmica baseada numa economia que passou da esfera macro para a micro economia das famílias obrigou a um repensar sobre toda a estrutura da vida diária e a pensar no futuro, agora incerto e sem esperança. Esta dança da economia, qual verdadeira montanha-russa, obriga necessariamente a novas formas de viver, fazendo emergir, qual seleção natural, grupos que se adaptaram às novas forças do engenho e aqueles que, numa espiral de desadaptação e de desintegração, foram excluídos do jogo ou simplesmente não aceitam a nova condição de viver nos loopings da velha montanha de aço.
Desta forma, são poucos os que ainda mantém a capacidade económica para fazer frente aos pequenos luxos que a vida reserva para fazer deste percurso, uma trajetória menos penosa. Como diz o velho ditado popular, “parece que há males que vêm por bem” e esta degradação do poder político que nos arrastou para o caos económico, obrigou-nos a repensar de novo na importância da economia doméstica, nas poupanças e na importância extrema que constituem hoje o estabelecimento e as tomadas de decisão em relação às prioridades. 
Mesmo assim, no meio de todo este contexto desfavorável assistimos ainda ao nascimento e renascimento de projetos de pessoas de coragem que arriscam neste clima austero e fazem surgir projetos que constituem uma benção e um rasgo de esperança nos dias que estão para vir. O Alentejo Marmóris Hotel & Spa é um desses sonhos, agora tornados realidade pelas mãos e pela coragem dos seus administradores, srª Drª Mariana Alves e sr. António Alves. Este casal de empreendedores, proprietário de pedreiras de exploração de mármores assumiram os riscos fazendo nascer um projeto único no mundo, numa terra única no mundo, diferente de tudo no mundo. Para quem, como nós, aprecia viver a vida com pequenos momentos de encanto, não é difícil encontrar e acompanhar as ideias e os projetos que tornam esses momentos de lazer em momentos únicos que trazem mais encanto à vida.
Com os meios hoje ao dispor a divulgação destas obras torna-se contagiante e acessível aos mais atentos. Foi desta forma que encontrámos o hotel, estabelecendo a prioridade de o visitar logo que se conjugassem numa mesma fórmula a disponibilidade financeira e o tempo. Antes de qualquer reserva é sempre feito um pequeno trabalho de investigação para perceber a caracterização dos espaços e o contacto virtual com as primeiras imagens e pormenores locais. Ultrapassada essa fase, contam-se os dias para viver mais um momento de grande glamour. A chegada a Vila Viçosa fez-se de forma serena com a tranquilidade que uma viagem de lazer merece. Recordamos sempre esta magnífica vila desde a primeira visita há mais de 15 anos. Aquilo que melhor recordamos foi um magnífico repasto com que fomos abençoados num restaurante do qual já nem o nome nos conseguimos lembrar. O pitéu foi uma sopa da panela elaborada com ervas aromáticas e galinha caseira que ficou para sempre na nossa memória.
Chegámos debaixo de chuva mas o calor ambiente e humano com que fomos recebidos fez milagres e depressa esquecemos o tempo frio e cinzento que se fazia sentir. O mote para estabelecermos um diálogo caloroso com os colaboradores foi o nome erro no processo de reserva. Passei de Carlos a Calos Gonçalves. Achei simpático propondo logo o up-grade de um tratamento de podologia no spa (risos gerais). O colaborador José Feijão desfez-se em desculpas referindo que ele próprio também se chamava Calos, daí a gaff. A partir deste momento de boa disposição, tudo, mas absolutamente tudo foi irrepreensível. Fomos convidados a tomar um licor à escolha entre vários. Arrisquei o de geripapo que desconhecia em absoluto mas que me deixou rendido pela sua textura e sabor.
É espesso, adocicado com um fundo de boca macio e delicioso! A seguir a este momento delicioso que foi por nós aproveitado para ir colocando questões ao competentíssimo e muito cordial Artur, sobre a história do hotel, origem dos mármores e tantas outras curiosidades, fomos abençoados com uma visita guiada e muito personalizada podendo visitar as várias tipologias de quartos e suites.
Este primeiro momento de contacto e de verdadeira integração, foi todo ele estabelecido no grande salão contínguo ao lobby, onde, claro, o mármore é rei e para além daquele que é nacional, os pilares são ornamentados com mármore preto Portoro proveniente de Itália. Ficámos maravilhados com tanta beleza e criação artística nunca vistas nas muitas viagens, hotéis e resorts que temos a felicidade de ter no nosso curriculum de viajantes. O grande impacto deu-se logo na entrada do hotel onde o símbolo criado para o hotel “o m” brilha incrustado num mármore preto proveniente da Bélgica. Quando nos foi mostrado o salão rosa percebemos que estávamos num autêntico ambiente de charme, rodeados de história e num museu inteiramente dedicado ao mármore. 
Aqui predomina o mármore rosa El Rei, convenientemente enquadrado com o mármore pele de tigre da Lagoa de origem nacional e o amarelo Siena que desenha uma moldura ao redor do pavimento. Com o auxílio do brilho proveniente dos magníficos candeeiros e a projeção dos espelhos este espaço ganha dimensão e vida própria fazendo antever que ali se podem construir projetos e realizar sonhos dignos de momentos reais. O lobby é uma verdadeira homenagem a esta pedra metamórfica gentilmente construída pela natureza. Aqui predomina o mármore branco El Rei de origem nacional, o rouge Languedoc proveniente de França, o amarelo noche com origens turcas e o verde escuro da longínqua Indía.

Na continuação da visita os sentidos ocupavam-se com as cores, a arquitetura e os estilos. Nos quartos predominam os tons cinza, as cabeceiras de cama clássicas e de estilo contemporâneo. Os pormenores e as características diferenciadoras dos vários espaços foram-nos sendo apresentados pelo Artur que dominava os detalhes e as curiosidades. Ficámos a saber que não existem duas salas de banho iguais, entre as 45 que integram cada um dos quartos e suites, as designações dadas às várias suites, as nomenclaturas e proveniências dos vários mármores que se diferenciam pelas cores e disposição dos seus minerais que, em locais próprios e distintos ornamentam colunas, pavimentos, projetam flores de inspiração original ou formam rosáceas sobranceiras às portas ou colunas. 
Em todos estes locais podem ser observadas sempre em notável harmonia as várias tonalidades de mármore quer seja o Onyx Nacre ou Onyx Gialio provenientes do Irão ou o Languedoc francês. A suite Royal é um espaço único onde a grande atração é a sala de banho onde a zona de banho foi esculpida a partir de uma peça única em mármore com 4 toneladas. O desenho, a arquitetura, as cores e os estilos transporta-nos para ambientes quentes de inspiração muçulmana.
Como o desígnio deste hotel é a diferença não pudemos deixar de nos encantar com a originalidade dos candeeiros dos quartos que logo nos fizeram lembrar a arte muçulmana que encontramos em países como Marrocos ou Tunísia. 
Trata-se de uma peça em “latão” trabalhada com orifícios que desenham um padrão e que deixam passar a luz por entre as minúsculas aberturas. Outra peça única e exclusiva é um espelho com uma moldura clássica que serve não só para refletir mas também integra a TV em formato LCD.
A visita terminou no Stone SPA, uma verdadeira obra que a natureza construiu e o Homem projetou trazendo das profundezas de uma jazida de mármore o brilho e o conforto dos banhos quentes em tanques esculpidos na pedra de onde borbulham sensações de leveza e saúde sempre com as paredes originais com as suas escorrências a enquadrarem o ambiente e a mostrarem o poder dominador da natureza.

A piscina reparte as suas águas entre o ambiente confortável do interior do edifício e o exterior onde a água sempre aquecida permite satisfazer os mais corajosos em banhos ao ar livre mesmo em dias mais frios. O pátio interior onde esta se encontra foi projetado para parecer o interior de uma jazida de mármore com blocos projetados e sobrepostos na mesma disposição e formato com se de uma jazida original se tratasse. Dormir neste conforto é uma experiência única, como único é o pequeno-almoço. Este é servido no restaurante Narcissus onde o ex-libris é uma mesa construída a partir de um bloco de mármore extraído da jazida dos proprietários e onde foram aplicados suportes e um vidro.
É daqui que se escolhem os produtos e se misturam os sabores sempre com o apoio dos funcionários que são exemplares no trato com os clientes e nas sugestões da carta de quentes. Provámos os ovos mexidos com ervas aromáticas e alguns crepes que simplesmente recomendamos. Também aqui esta deliciosa refeição ao arrancar do dia se pode selar com uma taça de champagne que combina com uma deliciosa fatia dourada ou um bolo à escolha num brinde à vida e ao sucesso de projetos como este.
O hotel foi edificado num edifício que outrora foi um lagar de azeite e que hoje propicia momentos memoráveis que merecem ser comemorados nesta pérola do património hoteleiro de Portugal.
Na despedida escutámos o futuro pelas palavras da Cláudia, assistente de direção, que nos aliciou a voltar uma próxima vez e integrar uma das rotas previstas quando estiver ultrapassada a fase de soft-openning da unidade. 

Será então possível reservar programas que poderão passar pela rota dos castelos, rota dos vinhos, rotas das cores do mármore ou assistir a um concerto de música no interior de uma pedreira. Motivos não faltarão para voltar a viver momentos de luxo e felicidade.

Monday, March 11, 2013

A place inside the city (Lx Factory)

Lx factory, uma designação carregada de estrangeirismo porque soa bem, porque traduz tudo o que lá tem, porque é preciso mostrar ao mundo o que se faz por cá, já agora numa linguagem que (quase) todos entendam.
Alvo de inúmeras reportagens, o espaço mostra que dentro de portas há, como sempre houve, muita imaginação e adaptação a novas e muito diferentes realidades. O local escolhido para tal experiência situa-se em Alcântara ali para os lados do largo do Calvário, na rua Rodrigues Faria número 103. Sabe-se por aqueles que conheceram e pelos que nada sabem mas que têm curiosidade em saber, que o espaço foi outrora o coração de uma grande indústria topográfica. Prédios altos, extensos armazéns paredes direitas e nuas. Tudo está por embelezar e modernizar. As paredes exteriores são antigas como antigas são as construções que lhe dão forma, os passeios, as ruas e toda envolvência. Ao entrar para lá do portão, depois de uma prova de paciência para tentar estacionar, o passeante fica verdadeiramente surpreendido. Em cada esquina, em cada rua, por cada sítio para onde se olha, o sentido é de espanto. No meio dos velhos armazéns onde se produziram os cartazes e os panfletos de antigamente, hoje pomposamente designados de outdoor, folhetos ou flyers, reina a diversidade, a imaginação e a adaptação de espaços absolutamente espantosos.
Quem aqui “vive” ou, os que lá “moram”, designados de residentes, disponibilizam para quem os quiser visitar, áreas tão distintas que vão desde a arquitectura ao design, passando pela restauração, comércio, publicidade, moda, artes plásticas e performativas, música, novas tecnologias, comunicação e marketing, entre outras. Mais informações em http://www.lxfactory.com/PT/residentes/. Quando se entra neste local é-se invadido por uma mistura de sentimentos que nos transportam além-fronteiras para locais tão próximos mas tão distantes e peculiares como são os velhos mercados londrinos, por exemplo. Cada esquina é um mundo a descobrir, recantos e paredes para explorar. O conceito, à luz da linguagem moderna é marcadamente alternativo. Não existe uma disposição por áreas, pelo que, na mesma rua convivem side by side restaurantes, lojas de comércio ou livrarias.
O propósito da visita a esta aldeia do futuro dentro da velha e magnífica Lisboa, era naturalmente conhecer o espaço que há muito era acompanhado pelas notícias e reportagens do media mas também para alimentar as saudades de um bom repasto à tradicional moda italiana. O restaurante referenciado pela amiga habitual destes bons momentos da vida, a Susana, era a mesa (www.amesadolx.pt). Eu diria que outro nome adequado ao espaço e compreenderão pela descrição que se segue seria “à mesa”. De um chefe seu conhecido, que se tornou amigo, o local não poderia ter sido mais bem escolhido. A primeira impressão quando se entra e que marca é o requinte inovador criado pela união do passado com o presente. Logo à entrada, a peça que se apodera de nós é uma velha cadeira de barbeiro.
Sim, uma cadeira que certamente já serviu para cortar muitos cabelos e barbas, daqueles verdes com manípulos cromados, ali na entrada virada para os visitantes. Na parede próxima da cadeira um cartaz original com frases e números conta a história do 1º ano do restaurante. Depois deste impacto aprecia-se o espaço que se encontra discretamente reservado com uma fileira de canas de bambú e sofás antigos instalado de forma a parecerem uma sala vintage onde não falta o telefone de disco que faz as delícias das crianças da era dos smarphones. A partir daqui encontra-se um casamento perfeito entre o vintage e o moderno. O espaço comensal é constituído por uma única mesa, enorme, que ocupa toda a parte central do restaurante com formato rectangular. À voltada mesa e para quem gosta de apreciar podemos deliciar o olhar com uma máquina de café vintage, uma fiambreira do outro século, uma velha batedeira eléctrica, estantes anos 80 com livros e cabides forrados a napa.
Todos estes objectos fazem parte do meu passado e da minha infância pois cresci no mundo da restauração e ainda hoje me recordo o quanto era engraçado e por vezes desajeitado, adaptar o manípulo da máquina para que o café saísse sem borras. As cadeiras à volta da mesa são inúmeras, antigas e quase todas diferentes e cada cliente que chega ocupa um espaço na mesa comum em frente a um pedaço de tecido quadriculado que lhe serve de toalha ou toalhete. No decorrer da noite a mesa vai ficando preenchida de pessoas distintas e de diferentes opções gastronómicas num ambiente que faz lembrar as mesas festivas das famílias portuguesas de gente numerosa. Os menús são apesentados em páginas de livros antigos onde foram coladas as ementas, apontamento muito original. O destaque na ementa é o nome dado às pizzas.
Cada uma designa-se através do nome de um bairro lisboeta. Ficou por saber como se ligaram os ingredientes aos nomes dos bairros. Assim não é de estranhar ver por lá a pizza bairro alto, lapa, campo de ourique ou são bento. O sabor, esse é dos deuses, massa fina, estaladiça, os queijos a derreterem-se na boca. Outro aspeto sui generis é que se pode comer simplesmente à mão, sem talher nem prato, apenas palitando os diversos pedaços das variadas pizzas que pedimos. Uma experiência única que nos preenche o corpo e reconforta a alma. O toque final, olhando para um e outro lado da mesa era a de encetarmos conversa com as pessoas ao nosso lado. Esse aspeto por nós comentado e tão típico da tão tradicional abertura e simpatia portuguesa não foi conseguido transformando aquele jantar de proximidade em múltiplos diálogos pouco direccionais. Uma pena pois transformaria aquela experiência em algo verdadeiramente único. Certamente este comportamento é fruto destes tempos em que pessoas se isolam cada vez mais no meio das gentes transformando o ser humano num ser sozinho e solitário apesar de viver rodeado de gentes. No final tivemos oportunidade de conhecer o chefe que irradiava simpatia e que nada se importou de nos prendar com uma foto para recordar.
Antes da hora reservada para o nosso jantar tivemos oportunidade de visitar um espaço único onde se podem encetar experiências como sejam ler um livro, tomar um copo, ouvir música ou mesmo assistir a um evento científico com um cientista experimentador. Chama-se Ler Devagar! Trata-se de uma livraria única num espaço onde o tecto se encontra a vários metros de altura. Aqui funcionava a antiga gráfica Mirandela e ainda lá se podem observar as máquinas que dedicadamente desempenhavam as suas funções. As estantes ocupam as paredes do chão ao tecto e para que as obras possam ser apreciadas existem diversos caminhos e escadarias desnivelados que permitem passear por entre estantes repletas de obras, expositores com cd e leitores portáteis, cadeiras, sofás e mesas onde simplesmente nos podemos perder entre uma música que escolhemos, um livro que desfolhamos e um copo que complementa a nossa experiência . Um espaço para visitar devagar, apreciarcada detalhe e usufruir de momentos únicos.