Monday, October 12, 2009

Köln, Colónia, Cologne (Simpósio intercalar do Conselho Europeu de Ressuscitação)

O Simpósio intercalar do Conselho Europeu de Ressuscitação (ERC), constituiu o motivo para visitar a magnífica cidade alemã de Colónia. Os companheiros de viagem, já habituais nestas andanças do Conselho Europeu, para além da minha mulher, foram o colega Carlos Pinto e sua mulher Elsa Guimarães, a Catariana Cruz e a Elisabete (vidé foto neste post). Koln, Colónia ou Cologne, de acordo com a língua em que se pronuncia, é a maior cidade do estado de Renânia do Norte-Westfália, situa-se a cerca de 1 hora de comboio de Frankfurt e a menos de 30 min de distância de Bonna. Esta distância é encurtada no espaço e no tempo pelo comboio de alta velocidade ICE, que percorre a distância a uma velocidade que atinge os 300 km/hora. Quando partilhei esta viagem com alguns amigos que já conhecem a cidade, referiram-me que Köln tinha apenas a Catedral para visitar, no entanto não constituiu motivo suficiente para resfriar o meu entusiasmo. Afinal ia visitar a Alemanha, país que me acolheu quando era criança e desde então povoa o meu espírito e de algum modo influenciou e marcou de forma que considero notável, a minha vida. Portanto, para mim, qualquer pretexto serve para visitar a Alemanha, quer sejam cidades com mais ou menos aspectos para visitar. A lingua não constitui barreira ou problema, embora já tenha esvasiado da memória alguns termos de vocabolário e regras gramaticais, o essencial permanece no seu estado basal, Falar alemão é-me sempre agradável e hoje, percebo a importância de se dominares algumas linguas, pois permite-me circular no espaço europeu e no resto do mundo sem grandes problemas de comunicação. O Hotel escolhido, logo em Abril, (pois sou adepto do bom planeamento e das tarifas económicas da internet) não podia ser melhor. Tratou-se do Azimut Hotel Köln Center, instalado num antigo teatro,e pelo aspecto, recentemente inaugurado. Excelente quartos, novos e confortáveis, um rico pequeno-almoço e a 2 min da estação de comboios (S-Banh) e do metro (U-Bahn ou Tram). Os primeiros 2 dias foram inteiramente consumidos na Conferência que tinha como tema dominante a educação. O local escolhido foi a Departamento de Anatomia da Universidade de Colónia. Tratava-se de um espaço antigo e algo confinado, mas suficiente para que o evento decorresse com absoluta normalidade. Os debates foram muito interessantes. A exposição técnica não trouxe grandes novidades em relação à Conferência do ano passado em Ghent na Bélgica (vide post). Desta vez a grande novidade para mim foi a minha estreia absoluta com um poster num evento científico internacional. Tratou-se de um poster sobre o projecto “Os 5 gestos de Socorro” da autoria de uma grande amiga da Cruz Vermelha Portuguesa, Marinela Velloso com lugar de destaque (Vice-Presidente) na Associação Nacional dos Alistados das Formações Sanitárias (ANAFS). O único desapontamento ocorrido é que ia com a ideia fixa de que o iria discutir o poster para os key-people do ERC, como me haviam informado por e-mail, mas depois percebi que seria impossível discutirem todos os 96 poster que estavam afixados. Mas no fundo o que interessou foi termos sido aceites pela comissão científica do evento e termos levado à Alemanha e ao Conselho Europeu de Ressuscitação um projecto português de grande valor educativo e de grande impacto. Fomos vistos por muitas pessoas, desde o Japão à Islândia, Reino Unido e Alemanha. A nossa vizinha de poster ficou tao surpreendida com a ideia de se transmitirem ideia simples mas fundamentais através de um livrinho com o formato de uma mão, que sugeriu entre sorrisos, fazermos um manual para ensino da enfermeiras do seu hospital. Aí está uma ideia muito interessante. A noite de festa da conferência, como já é apanágio do ERC, passou-se numa típica cervejaria alemã, a Brauhaus Sion muito perto da Dom (catedral). Trata-se de um espaço onde cabem mais de 600 pessoas sentadas. O ambiente era de festa e a cerveja típica da cidade, a Kölsch, era servida à descrição e transportada em tabuleiros onde os copos eram encaixados. A comida era servida em mesas corridas (buffet self-service) onde cada um se servia a gosto. Foi uma noite agradável com um serviço rico em excelência e muita simpatia. Uma típica noite alemã onde me senti muito feliz por estar de novo no “meu” país de infância. Quis o destino que o Sr. Tor, presidente da Laerdal (gigante da indústria hospitalar) estivesse na mesa ao lado da nossa. Conversa puxa conversa e daí até conhecermos a Heide, representante comercial para a Europa, foi um pulinho. Gente extraordinariamente simples e muito competente e simpática. Na conferência prendámo-los com um livrinho dos “5 Gestos”. Oferecemos um à nossa vizinha de poster do UK e claro que não podia perder a oportunidade de entregar uma mão na mão do mais velho elemento do ERC, o Dr. Chambermain que abordei no intervalo e que me ouviu com muita atenção e agradeceu. O resto dos dias foram passados a conhecer a bela cidade banhada pelo rio Reno. De facto a Catedral constitui a imagem de marca da cidade, trata-se, a seguir à de Milão, da 2 maior catedral gótica da Europa. É imponente por fora e maravilhosa por dentro. Sentámo-nos nos seus bancos e ficámos ali a ouvir o seu silêncio apenas rasgado pelos ténuos sons provenientes dos múltiplos orgãos. Ali apetece apenas parar, descansar e reflectir. Alguns dos colegas tiveram a coragem de subir os mais de 500 degraus que conduzem às torres, mas eu aproveitei para visitar mais um pouco da cidade. Aquele edifico-monumento datado de 1248 (séc XIII) que se vê de qualquer ponto da cidade, icentiva à coragem e ao amor. Toca-nos de alguma forma, como se quizesse passar-nos uma mensagem. Tem algo de carismático e profundo, não fosse dos únicos edificios da cidade a permanecer inteiros e intactos durante a 2ª Guerra Mundial, nenhuma bomba lhe tocou. Aquele pedaço da humanidade da qual é património, fez-nos pensar em juras de amor e até comprar outras alianças, não fossem estes dias coincidir com o 16º aniversário do nosso casamento. Mas, visitar Colónia é também visitar o imenso bairro turco com as suas vicissitudes próprias, o comércio local que nos deixou surpreendidos com os preços, que esperaríamos serem muito inflacionados em relação a Portugal, mas tal não é verdade, nem nos produtos nem na alimentação que com tanta escolha e variedade, permitia fazer refeições abaixo dos 10 euros/pessoa. Os preços só se aproximam dos custos em Portugal, nas típicas cervejarias, mas que valem muito a pena visitar. Aqui podem-se apreciar pratos como o famoso schweinehaxe ou bratwurts, brindar com a cerveja que orgulha a cidade e ouvir músicas típicas deste belo país. Por toda a cidade existem quiosques e roulottes a vender as típicas salsichas alemãs, que variam em nome dimensão e sabor: vão desde a típica Bratwurst, a Krakauer, Curriwurst ou Mettwurst. O cheiro e sabor continuam gravados na minha memória desde os tempos de criança, como se sempre tivesse ali vivido e nunca me separado daqueles aroma. Temos um cérebro prodigioso que tão bem sabe guardar tudo aquilo que experimentamos e tão bem nos faz felizes. Saborear tais petiscos é literalmente regredir aos tempos da minha germânica infância. Outro pitéu que recomendo para os apreciadores dos sabores e aromas a queijo é o não menos fantástico Käsekuchen (a tarde de queijo mais saborosa do mundo). Mas visitar Colónia é também passear ao longo das margens do Reno e visitar os acontecimentos da cidade. A melhor imagem exterior da catedral consegue-se passando a ponte para a outra margem do Reno. Numa das pontes, na metálica (mais próxima da catedral), milhares de cadeados, uns mais originais com lacinhos ou placas descritivas em forma de coração, outros simplesmente cadeados, prometem juras de amor eterno, trancados e unidos contra o gradeamento metálico que separa o passeio pedonal das linhas de caminho de ferro. Nos dias da nossa estadia houve a maratona que envolveu e animou toda a cidade e uma enorme feira de velharias onde o típico espírito alemão reinava por entre as tendas e quiosques. Perdi-me por entre tendas e roulottes de Bratwurst e Bräzel discos, livros, velharias e carrinhos de colecção. Parava aqui e ali para apreciar, fotografar ou simplesmente cheirar. Não queria acreditar quando de repente tinha em mãos cd’s em 2ª mão de cantores que alimentaram o meu imaginário de criança. Ali estava eles como se o tempo tivesse voltado a trás. Não resisti e comprei cd’s do Jürgen Marcus e do Günter Gabriel. As atracções da cidade são muitas para quem aprecia arte pois há museus por todo o lado. Encontramos desde os de arte moderna ao museu do chocolate ou da mostarda. O museu do chocolate é visita obrigatória principalmente se as crianças estiverem presentes. Aqui assiste-se à explicação interactiva da produção do chocolate desde a recolha e produção do cacau pelo mundo até à fabricação “ao vivo” deste magnífico alimento, com direito a provas e tudo. Cá fora espera-nos uma loja deliciosa com tudo o que podemos desejar em matérias de chocolate. É proibido ir embora sem provar as delicias que o café de apoio ao museu serve com uma bela vista para o rio. Desde os batidos de chocolate ao famoso e delicioso Käsekuchen, não faltam motivos para um lanche rico de doçura. Outro passeio agradável é “sobrevoar” o rio Reno a bordo de um teleférico que nos leva de uma margem à outra mostrando, lá de cima, vistas magníficas da cidade e do rio. Lá de cima pode localizar-se o balneário termal da cidade onde os germânicos mesmo em dia de frio apreciam a nudez e banham-se nas quentes e termais águas das piscinas. O sistema de transportes é muito funcional e com o Köln-Welcome-Card, que se pode adquirir no posto de turismo mesmo à beira da catedral, pode-se percorrer toda a cidade em todos os transportes por 9 euros/dia ou 32 euros para 3 dias. Este passe tem várias vantagens como bebidas grátis em cafés e restaurantes e descontos nos museus e no teleférico. As casas de banho públicas são quase todas pagas, mas vale a pena utilizar os serviços pois gozam de uma sofisticação tecnológica com todos os equipamentos e automaticsmos e de uma higiene irrepreensíveis. De volta a Frankfurt, de novo no rápido e confortável transporte proporcionado pelo ICE, a organização dos serviços públicos, as gentes e todo o ambiente social alemão deixa saudades de voltar.

Tuesday, October 6, 2009

Seguindo o lema “Vá pra fora cá dentro” despedimo-nos do Verão (Monte Real, Costa de Caparica, Santiago do Cacém)

(Monte Real, Costa de Caparica, Santiago do Cacém)
Três semanas passadas após as férias grandes, sabe tão bem descansar de novo. Parece pouco tempo e de facto é, mas haverá tempo para medir o cansaço e o tempo de lazer? Julgo que a estratégia melhor, mais equilibrada e mais saudável é aproveitar todos os momento de lazer e fazer de cada regresso um momento de qualidade e de agradecimento pelo que vivemos e pela oportunidade que tivemos de regressar.
Antevendo mais um ano de intensa actividade profissional e familiar este é o momento para retemperar forças e aproveitar o sol. Ao que parece e ouvindo os sinais do nosso corpo, as férias de maior duração já não chegam para retemperar forças ou então é a complexidade dos dias que nos atira para o mais profundo cansaço e sentido de saturação. Pensando nestes aspectos aproveitam-se agora os últimos e ainda magníficos dias de sol escolhendo itinerários curtos e procurando pequenos oásis de bem-estar e luxo que este nosso pais vai tendo para oferecer, aproveitando para pequenas incursões por locais menos ou nunca dantes visitados. Monte Real (entre Leiria e Figueira da Foz) foi o primeiro destino, porque por aquelas paragens esperava-nos o novíssimo hotel do grupo Lena Hotéis, o Monte Real Palace Hotel.

MONTE REAL PALACE HOTEL
É a mais recente jóia do parque termal desta região. “No interior do Pinhal de Leiria, as Termas de Monte Real, conjugam as memórias das estâncias termais clássicas, com a dinâmica das tecnologias e tratamentos modernos. Os efeitos terapêuticos desta água eram já conhecidos durante a ocupação romana, datando a sua exploração recente de 1807. Nascida à temperatura de 18 graus, esta água é bacteriologicamente pura, sendo recomendada para o tratamento das doenças do aparelho digestivo, reumático e musculo-esqueléticos e do aparelho digestivo. As termas dispõem de programas de relaxamento e bem-estar. As Termas foram totalmente reconstruídas em 2009 e dotadas com novos equipamentos e serviços.” Aguarda-se a sua re-abertura até ao final do ano. Mais informações em: www.termasdeportugal.pt,www.palacehotel.com. www.lifecooler.com/portugal/actividades/TermasdeMonteReal”
Pelo caminho fomos ao encontro de mais um oásis de bom gosto e muita qualidade, quando se aproximou a hora de almoçar. Mais uma vez, foi o inseparável lifecooler que nos conduziu até ao magnífico restaurante Matilde Naco. Sobranceiro à cidade de Leiria, com uma magnífica vista sobre o castelo e bem integrada na localidade de Marrazes, encontrámos um espaço requintado de decoração sóbria e moderna onde as razões para comer são fáceis de encontrar e se conjugam na mistura harmoniosa que aquele lugar torna possível. Monte Real fica um pouco mais à frente na estrada Nacional que liga Leiria à Figueira da Foz.
O edifício principal do hotel, agora reestruturado, mantém as imponentes fachadas originais. Olhando para a sua grandiosidade e beleza é fácil recuar no tempo e pensar como seria, nos tempos da Dinastia, viver num local assim. O interior é todo ele apaixonante. O resultado para fazer renascer o passado e acrescentar um toque de futuro, foi conseguido pela fusão de elementos físicos onde predomina o aço, a madeira e o vidro. A decoração é bem actual, minimalista e com tendências Art Déco. O hotel cresceu em área graças à construção de uma ala nova que se funde e se prolonga para trás embora sem se afastar do edifício principal designado de palácio. O elemento de transição foi conseguido forrando uma parede de calcário marmoreado em tom beje que se espraia pela fachada do novo bloco. Por entre os vidros podem-se ver em cada canto pensado, mobiliário em pele castanha, dourada e preta. Os apontamentos que mais se destacam são as cómodas pretas de design clássico, os cadeirões em tons escuros e os sofás dourados, confortados por almofadas pretas. O quarto recebe-nos com as suas generosas dimensões, uma magnífica cabeceira de cama em madeira preta riscada ladeada de vidro, e que pretende continuar o soalho revestido com alcatifa do mesmo padrão. A vista pela varanda é para a piscina que nos convida a um mergulho nas águas límpidas e mais tarde comprovadamente mornas. Neste lugar com história, que a natureza privilegiou com tranquilidade e paz, a estadia não ficaria completa sem uma experiência no Monte Real SPA. O edifício de linhas modernas encontra-se a alguma distância do hotel, ao fundo do eucaliptal com a fachada frontal projectada na água do lago. Até lá se chegar, sente-se a leve brisa que agita os eucaliptos e os longos pinheiros por entre trilhos e circuitos de treino, bem identificados e arranjados. Para a satisfação dos mais pequenos, entre o lago e o SPA, encontra-se um parque infantil cuja atracção principal é um barco onde a imaginação voa por entre mares e piratas ao som dos pássaros e brisa do vento. Esse é o mote para continuar com as experiências in SPA. A escolha recaiu sobre o circuito Monte Real, seguido de uma massagem Monte Real. O circuito inicia-se com um duche que recria uma Carribean Storm. Sons de pássaros, luzes e jactos de água de diferentes intensidades, transportam-nos para uma experiência de uma tempestade tropical onde não faltam trovões e relâmpagos. Segue-se o duche Eucalyptal Rain, que reflecte o Inverno em Monte Real. Os balneários são magníficos. Nunca a pedra e a madeira se conjugaram e casaram tão bem. As paredes são forradas com rectângulos de ardósia assentes de forma irregular, o que acentua o relevo já bastante agreste. A piscina interior aquecida a 32 graus e raiada pela luz natural, é muito bem dimensionada, tem camas de água e uma cascata mas parece-me subaproveitada, pois não tem outros jactos. Num patamar superior encontra-se a sauna e o banho turco com aroma à escolha entre o eucalipto e o limão. O duche de contraste permite opções entre a cascata, um verdadeiro e magnífico rain-shower e duche directo da mangueira. Para terminar pode-se optar por subir ao 1 andar e, na zona de relaxação, descansar da boa vida num solário natural. A dar valor e relevo a todos estes momentos e serviços, encontram-se um conjunto de funcionários extremamente afáveis, competentes, profissionais e dedicados que nos fazem sentir em cada momento o prazer da entrega ao dolce fare niente.
O próximo destino destas nossas mini-férias situava-se já mais a sul do Tejo, perto de casa mas longe das preocupações, dos horários e das rotinas do quotidiano. Percorrendo o IC 20, após a magnífica Ponte 25 de Abril, logo a seguir aos semáforos antes da Costa, virando à esquerda e subindo a Via Panorâmica Pablo Neruda. Ao cimo encontra-se o complexo turístico da Aldeia dos Capuchos, cujo elemento dominante é o recente hotel da mundialmente conhecida Cadeia Meliã.

Hotel Méliã Aldeia dos Capuchos.
O edifício é moderno, em vidro e aço e projecta-se em U aberto virado ao sol e com uma magnífica vista para o oceano atlântico. O lobby é imponente pela sua dimensão em altura, mas não é arrebatador do ponto de vista decorativo. Os elevadores em vidro oferecem vista panorâmica e entregam clientes e bagagens aos diversos pisos de apartamentos. Ficámos instalados no apartamento 533, no 5 piso. O primeiro impacto negativo vê-se e sente-se logo ao percorrer o mais estreito corredor de que tenho memória no edifício público. A ladeá-lo estão as muitas portas de acesso aos alojamentos que se dividem em apartamentos T0 e T1. O nosso T0 era mesmo de dimensão à medida e de decoração que não constitui atracção ou conforto. A cama projectava-se no meio do apartamento depois de descer através de molas e amortecedores de uma estrutura que a suportava, permitindo a sua recolha, sempre que o espaço necessitasse de ser reinventado. A pequena cozinha tinha o equipamento essencial mas encontrava-se armário por armário, toda encerrada à chave. Mais tarde esclareci que tal atitude se prendia com o controle dos conteúdos e apetrechos que habitualmente se utilizam para preparar uma refeição. Não achei simpático! As casas de banho também sub-dimensionadas já apresentavam alguns índices de degradação, nomeadamente ao nível do chuveiro, espelhos, etc. A varando era grande e atractiva pois para além de ser banhada pelo sol tinha uma espectacular vista sobre a piscina e para o mar. A nossa tarifa incluía o pequeno-almoço que foi sérvio no piso 2 numa sala onde o mobiliário já não é deste tempo e o chão, em madeira (Wenge?) preta, parece já por ali estar há muitos anos. Não é um soalho adequado a uma sala com tanta utilização. Nada no pequeno-almoço é atractivo. A apresentação dos produtos é conseguida com algum esforço, mas as reposições são demoradas. Os diversos tipos de pão e croissants estão todos amontoados e esmigalhados. Os quentes são apresentados em tabuleiros de barro sem protecção ou aquecimento. Quando caiu a noite para além dos barulhos exteriores dos outros indomáveis hóspedes, que mostraram a deficiente acústica do edifício, fomos prendados com ruídos extras que impediam uma noite calma que procurávamos nestes dias de descanso. Os sons emanados do ar condicionado eram potenciados com as turbinas exteriores do mesmo ar condicionado, numa orquestra sinfónica que nem para embalar servia. Contactada a recepção tudo foi feito com amabilidade e simpatia para resolver a situação que não tinha solução. O resultado foi mudar de apartamento bem lá para o meio do edifício, pois a potência das turbinas fazia-se ouvir em grande parte dos alojamentos daquele piso. Passamos o resto da estadia, numa simpática suite onde perdemos a vista piscina, mas ganhamos espaço e silêncio. Os dias por estas paragens passaram-se nas belas praias da Costa da Caparica. Não fosse a apresentação e o estado desta localidade, agora re-intervencionada com o programa Polis, esta seria uma das mais belas regiões do país. As praias são magníficas, com extensos areais de finos grãos dourados que num infinito vaivém nos convidam a excelentes mergulhos nas águas límpidas do oceano. Ao longo dos km de praias podemos encontrar diversos ambientes que vão desde as praias repletas de pessoas, as ditas praias familiares, até, nas mais distantes, a oásis de calma onde só vai quem não se importa de andar e se afastar um pouco. Todas as praias têm nomes, ex: praia do rei, da Rainha, da Cabana do Pescador, etc, cuja origem eu desconheço, mas provavelmente relacionadas com os bares e esplanadas que as exploram servindo petiscos, refeições ou disponibilizando toldos. Tudo é rústico e algo rudimentar, feito de madeira, colmo e junco, mas funcional. Desde a Costa até à Fonte da Telha, existe, ainda que antiga, uma linha férrea de 2 carris, onde uma pequena máquina a diesel puxa carruagens já gastas pelo tempo mas que ainda rolam e fazem as delícias dos que procuram aquelas paragens em busca do que é exótico e ainda pouco explorado. As paragens de comboio estão numeradas de 1 a 20 e verifiquei, que a partir da paragem 17, as praias são menos frequentadas dando lugar à mudança de hábitos dos que procuram gozar o sol despidos de preconceitos. Aqui é possível fazer naturismo/nudismo em plena comunhão com a natureza.

Depois de horas bem passadas nas paradisíacas praias da Costa de Caparica, rumámos mais a sul, desta vez para visitar e pernoitar no mítico Hotel Caminhos de Santiago. Percorremos a estrada nacional até Alcácer do Sal e, logo a seguir à ponte, a placa referindo Tróia e Comporta havia-nos de orientar até à aldeia de Cachopos onde o Lifecooler sugeria o restaurante a Escola, que já conhecíamos desde os tempos da sua inauguração. Anos passados e saudades acumuladas, eis-nos sentados no interior daquele espaço que em tempos fazia parte do parque escolar do país. Trata-se de um edifício no seu estado completamente original ainda com as letras a anunciar a escola de instrução primária. Por dentro, as carteiras deram lugar a mesas bem postas e a um ambiente gastronómico de qualidade onde pitéus como empada de coelho com arroz de pinhão ou arroz de choco com camarão são opções para uma refeição rica em sabores e em recordações. Não se pode sair daquele lugar com carisma sem se provar o doce da casa que é uma sublime mistura de pinhão, amêndoa, açúcar e claras em castelo, polvilhado com canela. Todos os comensais são prendados com um licor de bolota para assentar a refeição. Por lá ainda se vê o quadro de giz e a carteira tradicional. Poemas em homenagem aos alunos e aos professores perfilam-se pelas paredes juntamente com diplomas de honrosas menções, títulos e distinções. Depois daquele repasto só umas horas de descanso serviriam para cumprir a vontade dos corpos preguiçosos. A praia do Pego, para os lados do Carvalhal foi o local eleito para repousar. Fomos surpreendidos com uma magnífica praia organizada com parque automóvel pago, com sombras, depósitos de resíduos, balneários e restaurante. A areia, de grão mais grosseiro que na costa, continua aqui imaculada e selvagem. Aquela extensão de areia não é mais que a continuação da língua de areia da tradicional e agora luxuosa Tróia e que só termina muitos kms depois lá para os lados de Sines. Ao fim da tarde esperava-nos os Caminhos de Santiago.

Hotel Caminhos de Santiago (a irreverência do passado)

Chegados à velhinha cidade de Santiago do Cacém, outrora vila, encontrar o hotel é tarefa fácil pois desde a entrada que se encontram placas de sinalização que não deixam enganar nem os mais distraídos. O hotel nasceu, ou melhor renasceu de uma antiga construção dos anos 40 que era a antiga Pousada de Santiago do Cacém, que encerrou em finais de 2001. No local encontram-se agora o edifício clássico totalmente recuperado e pintado em cor de vinho e foi acrescentado um bloco irreverente e estranho, de cor cinza. O projecto, da autoria do Arquitecto Francisco Aires Mateus, mostra um edifício com uma geometria aparentemente inesperada e de estranha compreensão, mas rapidamente se percebe que esta austeridade teima em marcar a diferença quando se entra na estranha escuridão deste rectângulo. Depois de se abrir uma pesada porta surpreendemo-nos com o mesmo tom cinza escuro que pinta o edifício no exterior. Lá dentro tudo é escuro, fresco e silencioso. A logística do check-in é rápida e muito eficiente. Ao percorrermos os espaços até ao alojamento, não conseguimos ficar indiferentes à decoração minimalista que transporta o Alentejo para dentro desta estrutura que ladeia o século XXI, com anos de história do século XX. Aqui e ali os pontos de luz permitem vislumbrar, sempre de forma discreta, estruturas, tapetes, quadros ou mobiliários sempre com um toque tradicional daquela região do país. O quarto é interessantíssimo pois com a sua cor branca rompe com a escuridão que ficou para traz e abre-se com uma grande janela de vidro para um jardim que nos presenteia com fantástica vista para a cidade, avistando-se o castelo e o mar. Apontamentos do Alentejo predominam e constituem funcionalidades tão praticas como a cabeceira de cama, as mesas-de-cabeceira ou, o cantil para beber. A zona da secretária contrasta com o resto do espaço trazendo para dento do quarto a organização e o design de um moderno escritório. Na sala de repouso e leitura podemos encontrar estruturas de parede feitas com chocalhos, mesas de vidro cm pés em madeira ou pufs forrados com mantas alentejanas. Estes elementos convivem lado a lado com sofás de designs moderno e são abrilhantados por pontos de luz que saem de candeeiros na nova geração de designer´s. O exterior do hotel está ocupado com espaços verdes, um jardim de cheiro e um piscina. Quem por aqui passa é presenteado com um dos melhores pequenos-almoços que já tive o privilégio de tomar. Tudo é tradicional e “caseiro”. Recordo-me daquele chourição com um sabor que me deixou saudades ou as fatias douradas que eram uma tentação. Os dias de descanso passam aqui à mesma velocidade dos outros, mas diferem nos cheiros, nos sabores e no silêncio imaculado que a fusão da história nos permite desfrutar.