Thursday, January 2, 2014

Era (mais) uma vez …um Convento do Espinheiro

Como muitas histórias do nosso imaginário, as histórias que hoje se vivem e constroem e delas se contam em folhas de papel, a história comemorativa de um final de ano pode bem começar por, era uma vez…
Os anos sucedem-se, uns após os outros deixando a perceção de que cada um de nós cumpriu o nosso dever enquanto seres habitantes deste planeta. Fazem-se os balanços do que se fez, do muito que gostaria de se ter feito e fica em perspectiva e a surpresa do que nos espera no futuro. Cada ano que passa representa uma marca na vida de cada um de nós. As experiências que vivemos são avaliadas pela sua duração, numero e intensidade e escrutinadas para delas se extraírem as boas sensações, as recordações e por ventura os skills que nos enriquecem e nos deixam mais bem preparados para os novos dias das nossas vidas. Como data marcante pelo seu simbolismo e forte representatividade na vida de todos os habitantes do planeta, o final de um ano é comemorado por todo o mundo com múltiplas facetas de acordo com a imaginação e as crenças desenvolvidas pela riqueza antropológica 
e cultural dos habitantes da terra. Fazem-se desejos, vestem-se trajes de gala, preparam-se ementas especiais e brinda-se à paz, à saúde, ao amor e à prosperidade. As comemorações são preparadas com requinte, alegria e imaginação. Cada um com o seu contributo constrói cenários, prepara discursos e delicia-se com a presença dos familiares e amigos. Tudo isto é acompanhado com música a gosto, confettis, chapéus, apitos e tudo o que possa contribuir para incrementar a alegria de fazer parte desta noite memorável. Nada disto fica completo sem o memorável, estrondoso, contagiante e colorido fogo-de-artifício. Este desenha nos céus imaginários que constroem figuras e ornamentos para lá do que é possível prever. Por cada projéctil os céus iluminam-se e fazem-se expressões admiráveis de alegria e espanto e pensa-se no valor e na beleza da vida e desejam-se promessas de esperança no 
futuro. Desta forma, o mundo prepara-se para deixar inscrito nos registos da história o ano que finda e recebe com expressões de vivacidade o novo ano que está para chegar. A nossa história, este ano, inscreveu-se ela também em mais uma experiência marcante nas nossas vidas e que permitiu alimentar de forma grandiosa o banco das nossas memórias. Após algum tempo de pesquisa onde se relacionaram factores como a distância, organização, menu e programa de réveillon, a decisão emanou com facilidade pelo Convento do Espinheiro que, felizmente já fazia parte do nosso espólio das boas experiências da vida. E na tarde de dia 31 de dezembro rumámos, debaixo de um forte temporal, ao nosso templo (Convento) do requinte e do glamour que esperávamos para receber o ano de 2014. À chegada esperavam-nos dois 
colaboradores com um sorriso rasgado desejando as boas vindas com o auxílio de chapéus 
de todos os esforços para minimizar as consequências da forte chuva que se fazia sentir. Protegidos do temporal, fomos calorosamente recebidos na receção enquanto os colaboradores cuidavam das bagagens e do estacionamento do nosso carro. Um delicioso licor de poejo e frutos secos faziam as honras de abertura enquanto trocávamos alguns apontamento de conversa e eu reparava no desfibrilhador estrategicamente colocado na parede. Para quem não anda ao corrente destas coisas que fazem parte do meu dia a dia, este é um equipamento de fácil utilização que incrementa a taxa de sobrevivência em mais de 60%, de uma vítima em paragem cardíaca. Apesar de não ter dificuldades na sua utilização é necessária uma 
formação própria para, em caso de necessidade, o reanimador saiba executar os procedimentos de acordo com a leges artis. Na maioria dos países da Europa, estes equipamentos encontram-se em locais públicos, para serem utilizados por leigos treinados em suporte básico de vida. Em Portugal a desfibrilhação deu os primeiros passos em agosto de 2009 com a publicação do decreto-Lei 188/2009. Fiquei feliz por perceber que também o grupo de hoteis da cadeia Starwood Hotels, leva a segurança dos seus clientes muito a sério. Atribuídos os alojamentos, foi tempo de pequenas organizações que se prendiam basicamente com os trajes para o cenário da noite. Como chegámos relativamente tarde houve apenas tempo para uma visita guiada pelo Convento que fez as delicias de todos e principalmente do nosso filho André, que apesar dos seus 11 anos é grande apreciador e conhecedor de história. Enriquecemos os nossos conhecimentos com o magnífico discurso da nossa guia que nos contagiou com a sua simpatia e conhecimento em pormenor de cada detalhe daquele magnífico espaço. Soubemos que segundo a história, a designação do convento foi 
atribuída ao aparecimento de Nossa Senhora que terá surgido a um pastor em cima de um espinheiro em chamas. A partir desta aparição, o local passou a ser de devoção e o então bispo da Diocese de Évora, D.Vasco Perdigão, terá mandado erguer um convento que entregou aos frades Jerónimos. O Convento passou então a ser frequentado pelos reis de então sobretudo os da dinastia de Avis, que tinham muita devoção pela Virgem. A construção data do séc.XV, no reinado de D.Afonso V. D.João II herdou do seu pai a devoção pela Senhora do Espinheiro e mandou construir uma hospedaria para que a corte que estava em Évora lá pudesse pernoitar. Em 1490 D. João II com o auxílio das cortes de Évora preparou o casamento do seu filho D.Afonso com a Princesa D.Isabel, filha de reis católicos. Reza a lenda que nas casas do mosteiro, casa de Nossa Senhora e de 
tanta devoção o príncipe fez ajuntamento com ela, situação que foi muito estranhada para a época. Nessa noite caiu uma grande tempestade e uma ameia da igreja caiu, o que levou o povo a pensar que se tratou de um castigo pelo acto pecaminoso cometido. Hoje esse aposento é conhecido como o quarto da princesa e os actuais noivos são aconselhados a não pernoitar nessa suite para manter viva a tradição. E resumindo a história, sabe-se que o convento esteve em abandono mais de 100 anos levando à deterioração e destruição e saque do seu riquíssimo espólio. Encontra-se aqui sepultado D. Vasco Perdigão bispo da diocese de Évora, fundador dos conventos de Santa Clara e Nossa Senhora do Espinheiro, que não querendo receber neste último o título 
de padroeiro, foi sepultado fora da capela-mor, deixando o padroado a quem oferecesse grandes rendas ao mosteiro. Encontram-se ainda aqui os restos mortais dos condes de Basto, D. Digo de Castro e sua esposa D. Maria de Távora, (na pedra desta última o sobrenome Távora encontra-se picado para permanecer dissimulado por esta família abastada atentar contra o poder do Marquês de Pombal) e ainda D. Lourenço Pires de Castro e D. Violante de Lencastre, entre outras personalidades. Com a extinção das ordens religiosas masculinas (1834), o convento foi desocupado, passando à posse do Estado Português, até ser vendido a particulares por quantia insignificante. Nesse período, o conjunto entrou em decadência, até que foi adquirido por Manuel Gabriel Lopes, que o fez 
restaurar na sua quase totalidade, tornando-o outra vez habitável. A capela de Garcia de Resende também passou a ser suportada por personalidades locais que ali celebravam festas religiosas. Atualmente requalificado como um hotel de cinco estrelas, o conjunto mantém a mesma traça arquitetónica. A antiga adega deu lugar a um restaurante gourmet, a cozinha dos monges foi transformada em piano-bar e a cisterna gótica adaptada a espaço para provas de vinhos e produtos regionais. Após esta viagem na história, restava-nos tempo para nos equiparmos a rigor pois aproximava-se a hora do cocktail. Entre vestidos de gala, maquilhagem e fatos tudo tinha que estar perfeito para os momentos de requinte que nos esperavam. O cocktail servido na antiga cantina dos monges, hoje transformado em piano bar, é um espaço inspirador, de tranquilidade e recantos de conforto. Neste espaço, os monges comiam em bancos voltados para a 
parede para não se distraírem durante as refeições e para dedicarem toda a sua atenção à leitura da bíblia, feito a partir do púlpito que ainda hoje existem magnificamente restaurado. Do cocktail faziam parte diversas iguarias cuidadosamente preparadas e de apresentação exemplar, podendo-se provar pequenas panquecas com queijo de serpa, de sabor único, espetadinhas de borrego em marinada de ras hanut ou alegoria de bacalhau com e ouriços-do-mar, entre outros, tudo acompanhado com espumante Ervideira Rose muito fresco e sumo para as crianças. Este pequeno momento de confraternização serviu para a ambientação dos clientes e para sentir os primeiros momentos do que viria a ser uma grande noite de reveillon. Chegada a hora do jantar, fomos conduzidos, para espanto de todos, ao exterior do hotel, através dos jardins e sobre uma passadeira vermelha, à sala onde iria decorrer a gala de fim de ano. O 
espaço era magnífico e decorado com requinte, com mesas redondas adornadas com candelabros de velas douradas. Desde a receção que sabíamos o numero da nossa mesa, pois a informação era disponibilizada num LCD. Tivemos como companhia na nossa mesa a família Santos que se revelaram excelentes companheiros de festa. A bebé Gabriela, filha e neta da família Santos, fez as honras e as graças da noite com os seus 3 anos e vivacidade própria destas idades. A abertura da sala foi presidida por um agradável cumprimento de boas vindas do Diretor do Hotel, sr, Dinis Pires, que desejou a todos as boas vindas e deixou votos de felicidades para o ano de 2014. Seguiu-se o jantar que decorreu de uma forma extraordinariamente organizada e a abertura do menu iniciou-se com creme de champignon e vieiras braseadas num souflé de roquefort. Sobre a mesa e para acompanhar os diversos tipos de 
pão podia-se degustar manteiga de ervas finas e sapateira e abacate numa fragrância de caviar. O prato que se seguiu,amado por uns e detestado por outros, foi texturas de foie-gras e não só, com um cacau de São Tomé a finalizar. O Late Harvest da Herdade dos Grous constituiu uma experiência de degustação única e complementou de forma sublime o sabor forte e macio do foie-gras. Num autêntico ritual que se assemelhava a uma dança previamente coreografada, os colaboradores fortemente dedicados, retiravam pratos, preenchiam os copos e faziam chegar a cada mesa os diversos componentes da ementa. Percebeu-se que tudo foi preparado de forma meticulosa e organizada para que não se sentisse qualquer tipo de falha. O robalo abafado em água do mar, com ravioli e redução de hortelã da ribeira foi o prato seguinte no alinhamento do menu ricamente elaborado para a festa. O vinho esporão Reserva Branco 2012 que 
o acompanhou este prato, é um dos melhores vinhos brancos produzidos na Herdade do Esporão. Com o seu aroma rico e intenso com notas frutadas, de tangerina e pêssego, envoltas na subtileza da tosta das barricas, é cremoso na boca, com o paladar complexo, equilibrado, preenchido pela fruta, alguma mineralidade e um final longo e fresco, revelou-se uma experiência com intensidade para recordar e voltar a provar. Como corta sabores foi servido um sorbet de limão e espuma de tangerina que veio trazer uma nota fresca e equilibrada para dar seguimento ao clássico Bife Wellington aos aromas de presunto beloteiro que finalizada os pratos principais. O menu finalizou-se já muito perto das 23 horas com um tesouro de bolo financier num jus abaunilhado e pérolas dum caramelo conventual, simplesmente delicioso. Finda a requintada refeição, o DJ elevou o som e a pista encheu-se de animação com todos a dançar numa alegria contagiante. Quando faltavam 30 segundos para a meia-noite foi iniciado o countdown que finalizou 
numas zero horas com timing diferentes em cada uma das mesas com os confettis em explosões sequenciais e os brindes de alegria a fazerem tilintar os copos numa sinfonia heterogénea de satisfação plena. Seguiram-se 15 minutos de fogos de artifício nos jardins do hotel a fazerem deslocar todos para o exterior para assistir ao ritual de luzes, sons e cor. A partir deste momento a festa continuou com muita animação ao som de música dos anos 70, 80 e 90 habilmente colocada pelo DJ convidado. Cerca das 02 horas da manhã era tempo da ceia que foi servida no andar acima do piso onde decorria a gala. Um rico buffet onde não faltavam os queijos, mariscos, pregos e o tão nacional caldo verde que fez as delicias dos que haviam dançado horas até esgotarem as energias e as pernas começarem a ceder. Uma noite de sono retemperador num 
 quarto luxuoso e magnificamente decorado fez-nos acordar para o novo ano renovados e cheio de sensações de bem-estar. Na sala que outrora foi a adega, esperava-nos um conjunto de colaboradores com um sorriso e de uma prestabilidade contagiantes a desejarem felicidades e bom ano novo a todos. De uma forma descontraída e sem preocupações com o tempo iniciámos a primeira refeição do novo ano com um magnífico brunch, completo e diversificado que nos satisfez em pleno. Recordo o pormenor do aroma e do sabor da açorda, dos ovos mexidos e dos doces de Natal que complementaram o repasto requintado que foi brindado com champanhe para dar as boas vinda ao novo ano e à nova vida que todos vivemos em cada dia da nossa existência. E foi assim a história de (…) era uma vez, que passou a ser (…) foi desta vez, um dos magnífico reveillons da nossa vida.





L'and Vineyard Hotel