Sunday, December 22, 2013

Soube… que nem ginjas (Vila de Óbidos Art Garden Hotel &SPA)

Eis o que acontece quando se unem esforços, vontades, sonhos, cultura e espírito empreendedor de um Professor de História e de uma Engenheira do Ambiente. Deste casamento de virtudes nasceu o Vila de
Óbidos Art Garden Hotel Rural & SPA (http://www.hotelviladobidos.pt/pt/). O domínio na área do turismo diferenciado e de qualidade nasceu muito antes deste projeto, com a aquisição morosa e complexa de uma casa de turismo de habitação na Serra de El’Rey, a Quinta do Juncal (http://www.quintadojuncal.com) A casa data de 1886 (a mesma idade que a ponte D.Luis) e após anos de difíceis negociações iniciou-se o restauro. O trabalho meticuloso para preservar todas as originalidades obrigou a um trabalho diário de serviços de carpintaria, ao longo de 3 anos, comandado por um mestre na área já com 80 anos. Finalizado o projeto, a sua divulgação veio e tem vindo a permitir o contacto com pessoas de todo o mundo que, com as suas genuínas formas de estar apreciam cada pormenor daquele espaço. Como a procura destes espaços de qualidade tem vindo a diminuir a projeção de hoje é para eventos de
grupos como festas, casamentos, batizados, etc. A traça tradicional obriga a um rigoroso trabalho de preservação para que se possa continuar a mostra no século XXI, a arte de construir, decorar e pintar dos outros tempos. Como a quinta se começou a revelar pequena os corajosos proprietários, pessoas cultas, sensíveis, diferenciadas, empreendedora e de muito bom gosto, avançaram com um projeto de maiores dimensões com o objetivo de trazer até à região oeste uma oferta de qualidade com uma identidade própria. Do sonho e da coragem nasceu o projeto do hotel. Mas edificar mais um hotel apenas para preencher um espaço e disponibilizar serviços na região não parecei a ser o indicador major deste projeto. Era necessário associar ao projeto uma ideia forte e original para o tornar diferente e se poder afirmar como uma alternativa aos outros espaços de qualidade com os quais a região oeste já se encontra equipada. Subjacente à ideia estava ainda a
vontade de construir algo que trouxesse modernidade a Óbidos que se afirma no país e no mundo como uma vila medieval que tão bem tem sabido crescer e manter-se à custa de ousados eventos cheios de originalidade (ex: festival do chocolate e Vila Natal). Para a projeção do edifício foi convidada a senhora arquiteta Ana Manuela Morgado que arrojou num projeto de linhas modernas, com bastante luz natural distribuindo alojamentos e serviços por 2 pisos. A conceção do projeto tem como pilares fundamentais a ruralidade e a ecologia, inserindo-se num espaço com cerca de 6 hectares onde se pode desfrutar da gastronomia, contactar com a arte ou simplesmente gozar o prazer de nada fazer. O diretor geral, o sr prof. Vasco Espírito Santo é professor de história e guiado pelo seu conhecimento e sensibilidade ousou disponibilizar os espaços comuns do hotel como galeria de arte onde artistas da área da escultura e da pintura, já com afirmação no mercado mas também jovens promissores, podem expor e vender os seus
trabalhos. Ao entrar no lobby e sobre o balcão da receção somos logo confrontados com uma escultura de uma bailarina esculpida em ferro (petit dancance etoile de Jean Paul), que dança para nós e nos chama com a sua delicadeza apenas resfriada pelo toque frio do material de que é feita. A sua presença faz-nos desligar do check-in e olhá-la para sentir a sua presença e pensar o quão original e heterogénea é a arte. Questões como: - em que estado de espírito estaria o artista da sua criação? Em que pensaria? Que experiência de vida terá? Porque a rodeou com uma saia de ferro como se estivesse a estrangula-la pela cintura? Questiona-mo-nos também sobre as diferentes sensibilidade para apreciar e interpretar estes pormenores que poderão originar diferentes construções de resposta, de acordo com a criação imaginária
de cada um dos que ousa interpretar as suas linhas, expressões e tendências de movimento. Mas a dominar o lobby encontra-se uma outra escultura que revela um imponente toiro esculpido num material prateado que nos toca pela sua grandiosidade e pela sua expressão quase real. Por vários pontos do hotel encontram-se outras obras de arte como um busto, a cleopatra, um violinista (guittarra) ou a enfante fille (estátua de uma grávida). Nas imediações no edifício principal existe outro espaço de grandes dimensões onde se podem realizar eventos de grandes dimensões com mais de 600 pessoas. Um lago artificial enquadra este segundo edifício e embeleza o espaço exterior. Na exploração do espaço exterior pode ainda encontrar-se um espaço multifacetado onde se podem realizar exposições, provas de vinhos e licores, reuniões ou eventos de divulgação.
Outra curiosidade é o Centro de Interpretação da Ginja, local que pretende implementar na região um laboratório para explorar e estudar este fruto, tão característico da região. Voltando ao interior do hotel…a sala comum é um espaço que alia, conforto, qualidade, luz e arte. A decoração permite a criação de vários espaços, que vão desde recantos propícios à leitura ou aos jogos de mesa. Para os mais contemplativos os confortáveis sofás convidam a olhar para as esculturas ou quadros que estão por toda a parte e fazer exercícios de interpretação que constituem autênticas experiências de confrontação de ideias e argumentos.
Nesta sala encontra-se ainda o bar e confortáveis cadeirões que permitem com adequada ergonomia utilizar equipamentos informáticos dos hóspedes. Junto ao balcão do lobby os clientes são anda convidados a experimentar um cálice do delicioso licor de ginja, que é imagem de marca desta região. A sala de restaurante é outro espaço imponente onde podem ser servidas deliciosas iguarias da rica gastronomia regional e não posso deixar de referir a originalidade do nome escolhido para o designar, apesar da frase já tão “feita” que é “...que nem ginjas...” que todos utilizamos quando nos referimos a algo de que gostamos muito, que muito apreciamos ou que nos assentou bem. O restaurante chama-se mesmo “que nem ginjas”. Nesta minha curta estadia tive ainda o privilégio de poder estar à conversa com a proprietária do hotel, a Sra. Eng. do Ambiente que me introduziu um pouco na história do local e do projeto, das dificuldades, dos sonhos e do que ainda anseia para o espaço para que o projeta tenha verdadeiramente a cereja/ginja no topo do bolo.
São estes pequenos momentos de contacto, que por esta altura da vida nos complementam o prazer de visitar e conhecer estes locais que de outra forma seriam apenas mais um hotel, um quarto ou um Spa. É nestes momentos que partilhamos ideias, trocamos opiniões, ouvimos a aprendemos com os exemplos daqueles que nestes país ainda ousam apostar, acreditar, investir e manter aceso o espírito empreendedor.