Thursday, December 29, 2011

REFÚGIO DE NATAL…EM PORTEL

Conhecemos Portel pela primeira vez já lá vai mais de 6 anos. Numa das nossas visitas ao Alentejo, que se têm repetido variadas vezes ao longo da vida, encontrámos em Portel um refúgio que encerrava em si tudo o que era necessário para uma estada tranquila: tradição, conforto, ambiente, os aromas e a simplicidade das gentes deste local. O nosso André tinha 3 anos e ao chegar ao hotel ardia em febre. Hoje, ao entrar na recepção, foi como se o tempo tivesse parado. Recordámo-nos da expressão no seu pequeno rosto de maçãs vermelhas e olhos vidrados provocados pelo aumento da temperatura e registámos o momento numa das muitas fotos que temos do nosso filhote. Recordamos o pequeno-almoço dos deuses que nos proporcionaram, com simplicidade, simpatia e produtos da região. Tudo isto estacionou na nossa memória e foi trazido ao presente logo que voltamos a olhar e a entrar no edifício deste oásis que é o hotel rural Refúgio da Vila. Em trânsito para o Alentejo onde este ano se cumpre mais uma tradição de comemorar o Natal em casa dos meus pais, decidimos, em véspera de aniversário da Maria, trocar o ambiente típico desta altura do ano, por mais uma volta pelo Alentejo. A decisão pesou, mas após intensas semanas de trabalho e muito cansaço e rotina, não foi difícil trocar a Serra da Estrela com neve supostamente pela magnífica paisagem do Alentejo, onde, simplesmente olhar a paisagem e saborear a relíquia que é a gastronomia destes locais, serve de conforto e é terapia para qualquer corpo cansaço de tanta contribuição laboral. Assim, juntaram-se sinergias uma vez que o destino final era o litoral alentejano. A deslocação ao maciço central da Serra da Estrela implicava muitos quilómetros, portagens, combustível e muitas horas de condução e cansaço. Não sei se estas estratégias de pensamento se relacionam com o passar dos anos e a chegada da idade, se são simplesmente decisões em busca de qualidade e conforto. Como se comemora por esta altura o aniversário da Maria, acrescentámos ao nosso passeio, uma deslocação à Amieira, marina entretanto construída em pleno Lago que é a barragem do Alqueva. A ideia é fazer um dos percursos de barco, trocando assim a paisagem granítica pelas águas calmas que engoliram parte do passado alentejano das aldeias ribeirinhas e apreciar a adaptação da natureza àquilo que o Homem construiu com intenção de acrescentar água à terra e produzir energia e riqueza para a região. A deslocação para Portel foi através de Évora, uma das cidades da nossa preferência. Amamos o Alentejo, ou não fossem essas as nossas raízes. Évora é beleza, encanto, património e gastronomia, é gentes, é calma, é aromas é tradição e qualidade, é recordação, modo de vida, bem-estar e simplicidade. Almoçámos num restaurante à beira da estrada nacional 117, é o Barraca de Pau. Conhecemo-lo por acaso acerca de 3 anos quando numa das deslocações para Madrid, decidimos almoçar sem entrar na cidade. Ficámos clientes. É daqueles restaurantes simples onde estacionam os camiões para fazerem o seu repasto. Hoje estava cheio, tivemos que aguardar por mesa. O aroma das comidas sentia-se até à rua. A ementa é vasta, o serviço eficiente e rápido. Não existem doses com preços acima dos 10 euros. Saboreamos uma deliciosa feijoada (meia-dose 4.50 euros) e cabrito assado (1 dose 9,5 euros), ambas estavam deliciosas. Como não consumimos vinho e a sobremesa tinha que ser cumprida com a tradição no café Arcada onde se comem deliciosas queijadas de requeijão, a despesa ficou abaixo dos 20 euros, valores que se adaptam bem a esta época de intensa restrição que agora se vive. Dizia o funcionário que ali não havia Troika, pois estavam cheios todos os dias. Ao que parece ainda existem alguns negócios que sobrevivem a este esmagamento económico e a estes tempos muitos difíceis onde a palavra de ordem de quem governa este país é convidar os portugueses a emigrar. Ao chegar a Portel e após as formalidades do check-in, fizemo-nos ao caminho para aproveitar a luz daquele entardecer único. Perdemo-nos pelas ruelas da vila com destino ao castelo de muralha bem conservada. Lá dentro reinava o peso do tempo com algumas pedras ainda sobrepostas mostrando o que outrora seriam paredes. As escadas de acesso ao topo da muralha mostram uma paisagem deslumbrante sobre a vila de Portel. Pelos caminhos e escadarias ladeadas por casas brancas, encontrávamos os residentes locais. São gentes de humildade estampada num rosto já gasto pela vida e que agora aproveitam o descanso em silêncio neste cenário bucólico e paradisíaco mas cujos olhos já não apreciam. Esta paz é apreciada por quem vem de fora e por quem não teve a obrigação de viver aqui toda uma vida. As ruas que percorremos estavam pouco povoadas como a vila em geral. Ao procurar o restaurante onde jantámos à 6 anos atrás, o Montado, fomos informados que já havia fechado à anos. Estes encerramentos e abandonos nada tem a ver com a crise de agora, essa já se instalou por estas paragens à muitos anos atrás quando nada foi feito para se fixarem por aqui as gentes novas que tiveram que imigrar para destinos mais urbanos em busca de melhores condições de vida. Por esta altura vivia-se nos grandes centros urbanos de excessos com que a união económica e monetária nos acenava. Hoje esgotaram-se as verbas e os países encontram-se basicamente em falência técnica. Terras como Portel não sentirão a diferença, pois a Troika aqui já instalou de forma crónica, mostrando as dificuldades e as proezas das boas gentes daqui que seguramente teriam uma lição para dar ao país em modos de sobrevivência e de privações.
O hotel rural Refúgio da Vila encontra-se instalado num edifício oitocentista com cerca de 800 m2 de área, tipicamente alentejano e construído no séx XIX para albergar a família Amaral, que eram fidalgos da Casa Real e grandes proprietários de sobro e olival. Possui 30 quartos divididos entre casinhas no jardim e o edifício principal. A decoração é elegante, confortável e típica. A escadaria de acesso ao primeiro andar, a área nobre onde se encontra a suite do Paço, antiga sala de piano mostra um patamar onde os frescos do século XIX evocam as viagens pelo Norte de África e o Brasil. Hoje o edifício já não é pertença da família Amaral e desde 1999, foi convertido em hotel. O quarto era espaçoso e muito confortável. Reinava a limpeza e o silêncio absoluto, ingredientes tão necessários para quem aprecia umas horas de descanso. O pequeno-almoço foi, comparativamente com o da anterior estádia, uma desilusão. Aguardava com expectativa a primeira refeição no magnífico salão do hotel com produtos regionais e acompanhamento pelos colaboradores da unidade. Ao invés disso, fomos colocados numa sala com acesso pelo jardim, de paredes brancas e impessoal. Os produtos disponíveis para o repasto eram convencionais e tão industrializados com os de qualquer outra unidade hoteleira de um qualquer centro urbano. Faltou o queijo da região, os enchidos e a mistura saborosa do café. O logótipo do hotel é um cavalo em homenagem à Coudelaria de Portel, fundada em 1557 e posteriormente transferida para Alter em 1748. Uma das actividades que se pode desenvolver no hotel são cursos de cozinha que decorrem na escola de cozinha a funcionar na antiga cozinha das matanças, onde ainda se podem ver salgadeiras, armários de rede e perceber os sinais de outros tempos. Despedimo-nos deste magnífico espaço fanzendo jus à lenda que diz que quem bebe água da fonte Senhora da Saúde de Portel, situada nas imediações do castelo, “não passa sem cá voltar”. Essa é a nossa esperança. Na manhã do dia 22 de Dezembro aguardava-nos, a cerca de 15 km de distância de Portel, um fabuloso passeio de barco no recente e espectacular lago do Alquêva. O caminho que se percorre até ao local da marina é rural e tranquilo, evoncando o passado a cada curva, com montes e animais domésticos apreciando os pastos orvalhados da manhã. Na aproximação à marina, as pesadas nebelinas matinais teimavam em não se dissipar o que fazia antever o compromisso do nosso passeio. Começámos a ficar desolados, pois havíamos percorrido tantos quilómetros para finalmente conhecer os encantos do maior lago artificial da Europa. Ao chegar à Amieira marina a visibilidade estava reduzida a poucos palmos, tal era a densidade do nevoeiro. Na recepção aguardava-nos uma simpática colaboradora que partilhava da nossa tristeza. Decidimos então aguardar algum tempo na esperança que a dissipação do manto branco seguisse a tradição dos dias anteriores e se esfumasse antes do meio dia. Nesta espera a colaboradora foi extremamente prestável e levou-nos a visitar um dos barcos casa. Explicou-nos que os grupos Gescruzeiros e o Nautialquêva eram os exploradores deste novo conceito de turismo, sendo uma responsável pelos barcos de passeio e outra pelos barcos-casa. Estão disponíveis várias tipologias de barcos que albergam desde 4 a 12 pessoas. Dentro destes hotéis flutuantes, encontram-se todas as condições de conforto para umas férias a bordo de uma casa flutuante: quartos, Wc, duche, cozinha e espaço para refeições. Pode-se pescar, nadar, apanhar sol, e relaxar rodeados por uma paisagem encantadoramente viciante. Sendo composta por água e relevo em planaltos, muda a cada curva, quer seja pela cor da vegetação, quer pelo encontro com pequenas ilhotas onde a copa de algumas árvores submersas aflora constituindo poiso para as aves que escolheram este local para viver. O passeio no barco Alcarrache durou cerca de uma hora e percorreu o caminho marítimo até à Amieira, aldeia ribeirinha que se avista do Lago. O lago do Alquêva tem 98,2 Km de comprimento, é maioritariamente navegável e chega aos concelhos de Moura, Évora e Reguengos. Nas suas proximidades encontram-se várias aldeias ribeirinhas com infra-estruturas para se poder atracar os barcos e visitar a aldeia, a pé ou de bicicleta que também se pode transportar nos barcos. No final do passeio aguardava-nos um almoço no restaurante panorâmico Amieira Marina onde nos aguardavam sabores dos deuses: bacalhau gratinado com espinafres e gambas em folhado e salada trocilor e costeletas borrego grelhadas com alecrim. Para sobremesa escolhemos sericaia com ameixas de Elvas, pudim de ovos e formigos, uma mistura feita com pão ralado, vinho do porto, canela e passas. Simplesmente divinal. Parabéns Micá!

Malta, Gozo e Comino

Malta é a principal ilha do pequeno arquipélago maltês situado entre a Europa e a África, em pleno mar mediterrâneo. Foi desde sempre cobiçado pela sua posição estratégica por vários povos e civilizações que foram deixando a sua marca cultural transformando a principal ilha do arquipélago, Malta, num magnífico agregado de palácios e fortalezas. Valetta, a capital de Malta é ela própria um misto cultural único onde convivem lado a lado cabines telefónicas vermelhas deixadas pelos britânicos com extraordinários monumentos e palácios deixados pelos Cavaleiros de S.João de Jerusalém.
A viagem até Malta requer alguma paciência, pois não existem voos directo para aquela ilha, fazendo-se o transporte, a partir de Lisboa, via uma das capitais da Europa, Frankfurt ou Milão. Este aspecto torna a ilha mais distante e a viagem demorada. O povo maltêz é muito cortêz. Apresentam traços muçulmanos e a pacatez típica dos povos da bacia mediterrânea. A ilha de Malta é toda ela em tons amarelo-ocre fazendo lembrar as influências da vizinha África. A arquitectura dos palácios é soberba e a preocupação com a sua manutenção é um garante. Toda a zona da ilha desde o centro até aos subúrbios é rodeada de marinas intermináveis onde repousam, entram e saem iates, barcos de recreio e de passeio a toda a hora. De diversos locais da ilha partem embarcações turísticas para as outras duas ilhas vizinhas, Comino e Gozo.
O propósito desta viagem foi a Conferência intercalar do Conselho europeu de Ressuscitação que decorreu no magnífico Mediterranean Conference Center, um dos mais imponente edifício da ilha. Encontra-se localizado adjacente ao Forte de S.Elmo, de frente para o grande porto de onde se avista a mais bela das paisagens com o Forte de . S Ângelo a dominar pela grandeza da sua fortaleza.
Os dias da conferência foram passados a assistir ao que de mais recente se vai fazendo em matéria de ressuscitação cardiopulmonar. A viagem desde a paragem do autocarro até ao centro de conferência fazia-se a pé, pois os autocarros não entram no centro histórico. O percurso é muito bonito e permite o contacto próximo com as rua comerciais, os cafés e tabernas. Todo o percurso é feito por ruas com casas apalaçadas com características típicas que se diferenciam pelas belas varandas trabalhadas, muitas em madeira e de corres garridas no meio do tom predominante que é o amarelo-ocre. Após o fim do congresso instalou-se mau tempo mas, como a estádia estava prevista com mais um dia e o tempo aliviou ainda houve tempo para dar um salto a Gozo a 20min de barco de Malta. Gozo é a segunda maior ilha do arquipélago. Na viagem avista-se muito de perto a irmã mais pequena, Comino, pelo seu aroma a cominhos e transformada em atracção mundial pela mágica lagoa azul. No centro de Gozo fica a Cidadela, trata-se de uma capital miniatura desta ilha. A ilha Goza de inúmeras atracções que vão desde os monumentos e templos, alguns completamente isolados no meio da paisagem, até às deslumbrantes vistas para o mediterrâneo. A costa da ilha é de cortar a respiração e merece uma visita demorada e a pé. Como não tinha muito tempo contratei um daqueles serviços de bus turístico que fazia o percurso à volta de toda a ilha mostrando os pontos mais importantes, podendo descer-se em qualquer lado e depois retornar a viagem. Acabou por ser a escolha acertada, deixando no entanto por ver alguns pontos interessantes e que mereceriam mais tempo e detalhe. Um local de paragem e visita obrigatória era em Dwejra. Trata-se de poderoso promontório no ponto mais ocident da costa dramática de Gozo. É uma zona rochosa perfurada pelanatureza que forma um arco com quase 100 metros de altura,desginado de janela azul. É talvez um dos fenómenos naturais mais espectaculares das ilhas maltesas. Do outro lado do rochedo enconra-se o mar interior. É uma lagoa pouco profunda, muito popular para nadar. Este mar interior encontra-se ligado ao mar aberto por uma única abertura na rocha, que forma um túnel que se pode atravessar de barco e que serve de negócio para os pescadores locais, que vendem passeios de barco a razar as paredes d túvel para nos deslumbrar no outro lado com um imenso oceano azul com penhascos recortados por fantásticas grutas cuja escuridão e arquitectura natual contrasta com o rebordo vermelho na linha de água, formado por fungos vermelhos. Outro local de visita obrigatória em Gozo é Victoria, a sua capital. Esta é coroada pela cidade antiga designada de Cidadela, que coros o topo de uma colina toda muralhada e e servia de protecção para os habitantes locais nos tempos dos corsários e sarracenos que levavam as pessoas para a escravatura. Era obrigatório por lei as pessoas passar a noite na protecção das muralhas. O dia passou depressa e logo chegou a hora de voltar. De regresso a Malta, as poucas horas que me restavam deitaram por terra quaisquer planos para visitar outros locais da ilha que é recheada de história e lugares encantadores. Fiquei com muita pena de não ter conseguido chegar a Mdina eRabat. Trata-se da zona de Malta com mais beleza sentimental. Antigamente estas duas povoações faziam parte da mesma povoação, mas o árabes muralharam Mdina e tornaram-na uma cidade-fortaleza. O pouco tempo que me restva foi passado a tentar observar e absorver pormenores da vida local e curiosodades gastronómicas. Descobri o famoso petisco dos malteses. Tratam-se de pasteis, uns em forma de empadas e outros em losangulos, confeccionados em massa folhada e recheados com queijo ricotta e outros com um preparado de ervilhas. Localmente estas delicias gastronómicas designam-se de qassatat. Muito locais da ilha ficaram por visitar, nomeadamente a zona norte da ilha onde existem praias de areia dourada e atracções para criaças, nomeadamente a aldia do Popeye, figura que preencheu o imaginário da minha infância. Chegada a hora de regresso apanhei o autocarro que demorou cerca de 1 hora a chegar ao aeroporto. Este é pequeno mas muito organizado. A julgar pelas filas de alguns balcões de check-in percebe-se quem são os visitantes e turistas favoritos da ilha, são o escocêses e ingleses que têm direito a balcões de check-in próprios e voos directos para os seus locais de destino. Aproveitei o tempo que me restava para deliciar de novo com um qassatat e aproveitar a net do aeroporto para terminar alguns trabalhos pendentes. O regresso deste belo local deixou vontade de voltar pois muitos foram os locais por explorar e que merecem uma outra visita.