Monday, January 31, 2011

Y The Oitavos (Golf&Dunas&Mar)

O Parque natural de Sintra-Cascais, assim designado desde 1994 é uma área de paisagem protegida quer pela sua riqueza florística e faunística, quer pela sua paisagem única considerada património da humanidade pela UNESCO. Neste lugar idílico, em pleno campo de golf de oitavos, existe desde o passado mês de Setembro uma notável obra da arquitectura contemporânea, que reflete a natureza para lá das suas paredes, projetada pelo arquitecto José Anahory. Trata-se do hotel The Oitavos, o mais recente hotel de luxo do prestigiado Grupo Quinta da Marinha. Com este projeto pretende-se “redefinir o conceito de luxo através da fixação de novos standards de excelência quanto à arquitectura e funcionalidade de todo o conjunto hoteleiro", palavras do próprio promotor. E assim é! O edifício, construído em formato de Y permite que a paisagem de pinhais, os greens do campo de golf e o imenso azul do oceano, sejam observados em qualquer lugar, de qualquer prisma com qualquer ângulo. Para os mais distraídos, ou para aqueles que não se queiram dar ao trabalho de se encantar com este espectáculo natural, dificilmente se conseguirão esquecer do lugar onde estão, pois a reflexão de todos os elementos através das paredes espelhadas do edifício, é perfeita.
A entrada principal encontra-se no local onde os dois braços do Y divergem. A impor-se, no espaço exterior, somos confrontados com uma escultura de grande dimensão que projecta uma mulher de morfotipo tosco e robusto, de pernas afastadas, coxas grossas e peito proeminente. Assim à primeira observação, esta figura aparentemente mítica e sem qualquer correlação volumétrica, fez-me recuar aos tempos ancestrais das civilizações quando a Vénus de Willendorf nos ensinava que aquelas características idealizavam a figura feminina e que mantinha uma forte relação com a fertilidade. Pensamentos à parte, a entrada no meio do Y conduz-nos até à recepção onde o check-in é feito com um magnífico apreço de quem gosta de receber e desejar as boas vindas. No meio dos formalismos que são simples os nossos olhos teimam em percorrer todos o espaço que se nos apresenta até ao final do Y. A percepção com que se fica e que mais tarde é calmamente observada e sentida, é a de que todo o conceito nas zonas sociais do edifício foi projectado em open space e que são os apontamentos decorativos que reservam e separam os espaços e os ambientes. Sem qualquer preocupação com a bagagem ou com o carro, fomos conduzidos ao nosso alojamento. Pelos espaços percorridos conseguimos perceber o minimalismo da decoração que apenas utiliza a cor e as texturas para diferenciar os espaços. Este momento de contacto com o que de mais recente se faz nesta matéria, de projecção e decoração de unidades hoteleiras, tem-se vindo a revelar a nossa especialidade nos últimos anos, enquanto clientes que acompanham a abertura da maioria das unidades de 5 estrelas do país. O momento da abertura da porta é sempre especial pelo desafio que constitui o contacto com o que se vai encontrar. Nesta fase observa-se e sente-se cada pormenor, cada cor, forma ou textura. Aqui encontrámos um alojamento de grande dimensão, uma suite luxuosamente decorada. O espaço de dormir encontra-se separado da zona social onde um confortável sofá oferece acomodação para uma consola multifuncional (onde um magnífico LCD nos dás as boas vindas) que separa todo o espaço da zona de higiene e banho cujo conceito é a presença sem se notar. Os materiais são de design moderno, mantendo a mesma cor do chão e os espaços separados com vidro transparente. Simplesmente arrebatador! A oferecer-nos um exterior devidamente ornamentado pela própria natureza, existe uma varanda de dimensões generosas equipada com mobiliário adequado que convida a relaxar ao sol. O resto do primeiro dia foi ocupado a visitar o hotel, perceber a relação dos elementos, as harmonias e os contrastes. Ainda houve tempo para uma sessão de ginásio, aberto as 24 horas do dia, uma visita ao SPA e a umas braçadas na bela piscina interior, de água salgada. O banho turco e a sauna têm vista directa para as dunas de tons dourados, de oitavos, como se estivéssemos a relaxar no deserto. Após o jantar conseguimos perceber a relação entre os diversos espaços sociais, as diversas salas de restaurantes ( o Ipsylon e o Les Herbes), o espaço do bar, e espaços para leitura ou para ouvir musica (um magnífico piano, instrumento musical que mais aprecio, ocupa um dos espaços, mas as suas teclas não se fizeram ouvir para muita pena minha. Fiquei a imaginar que caminhos a música escolheria por entre tantos espaços, quantos biombos contornaria, a que ouvidos chegaria) apenas separados por biombos. Esta funcionalidade permite que cada espaço assuma identidade própria para um evento especial ou se metamorfose para dar resposta a outra qualquer exigência ou necessidade. Depois de uma confortável noite de sono, o dia seguinte iniciou-se com um pequeno-almoço magnífico onde o pão de fatia que muito apreciamos e os enchidos fizeram as nossas delicias. Por todos os locais percorridos fomos sempre cumprimentados à entrada com uma simpática saudação e na despedida com um muito obrigado. Recordo um pormenor que achei muito simpático. Na manhã do nosso segundo dia, resolvi fazer o meu jogging na bela marginal do Guincho e ao chegar ao hotel, cansado, vermelho e transpirado, fui recebido por um funcionário que me agraciou com uma garrafa de água mesmo ali na entrada do hotel. Pequenos pormenores que marcam e que fazem toda a diferença, quando achamos que já não é possível inovar e ser-se diferente. O resto da manhã foi consumido no SPA onde experienciámos uma bela massagem com canas de bambu, devidamente preparada com essências da Voya onde se identificam diversos aromas provenientes dos seus ingredientes orgânicos como o manjericão, castanha da índia, lima e laranja. À conversa com as colaboradoras que primaram pela excelência, nomeadamente a Sara e a Ana, conseguimos perceber as linhas e as características dos produtos utilizados.
Antes de sairmos e depois de vários encontros com a nossa “Venus de Willendorf” que está sempre presente mesmo dentro do edifício, tentámos saber que simbologia guardaria, mas as respostas estavam longe do consenso. No entanto as colaboradoras Marta e Inês da recepção, na sua infinita vontade de satisfazer todas as exigências dos clientes, prometeram mais uma vez, tentar junto do arquitecto, obter informações sobre a escultura. Eis a resposta:” a escultura da mulher que representa a Quinta da Marinha Original, é como que uma imagem de marca sem nenhum significado especial” Cumpridas as formalidades do check-out deixámos o hotel que simpaticamente batizámos de Y, porque é este o formato do edifício que nos percorre em toda a sua extensão. A equipa e os serviços foram irrepreensíveis, o edifício arrebatador e a decoração e o design interior trouxeram tranquilidade e mais riqueza à nossa alma e no corpo o despertar de novos desejos.