Tuesday, December 21, 2010

Pousar no Douro

No lugar do Laranjal, para os lados de Santa Cruz do Douro no Conselho de Baião, encontra-se um refúgio de silêncio e beleza mesmo pousado à beira do rio Douro. As Casas do Pousadouro nasceram das ruínas para darem lugar a um espaço de encanto e conforto na primeira linha do rio. O espaço é composto por 4 pequenas casas todas respeitando a arquitectura local e tranquilamente enquadradas na paisagem local. Cada casa tem a sua morfologia própria, aquela que o relevo e a genialidade humana permitiram construir. As casas têm diversas tipologias, mas todas a mesma qualidade e conforto. A casa principal é designada de casa amarela, é a maior e é normalmente utilizada pelos proprietários para os seus dias de descanso. É a mais baixa em termos de quota e localiza-se mesmo junto à margem do rio. Tem um deco de madeira onde nos dias de sol se podem fazer as refeições e aproveitar o ar puro desta região para acalmar os dias do intenso stress da vida urbana. As outras 3 casas têm um design muito tradicional tendo sido aproveitado o relevo da encosta para projectar pequenas moradias de pedra e estruturas metálicas que compõem as paredes e por vezes as suspendem. A casa da rocha é o mais parecido com uma gruta sofisticada que nasce a partir de um maciço de granito natural e em bruto que compõe uma das paredes. Tem 2 quartos e uma sala cujo chão mostra através de placas de acrílico um afloramento de vegetação local. Uma salamandra e ar condicionado climatizam este espaço convidativo ao lazer e ao prazer do descanso. A paisagem é arrebatadora com o douro em frente que se deixa ver através da enorme parede de vidro. A casa da ruína fica numa quota acima da casa da rocha. Tem uma suite fabulosa ladeada de espessas paredes de pedra. A sala é longa e suspensa sobre uma cascata de água e mostra o exterior por grandes painéis de vidro. O toque de conforto é-lhe dada pelo chão flutuante e por todos os elementos que caracterizam um espaço moderno perdido numa encosta muitos metros abaixo da estrada que nos liga a Baião. A casa do piloto tem 3 quartos, 2 casas de banho e uma grande sala com salamandra. O Douro de águas calmas serpenteia-se na nossa frente, separando-nos da outra margem onde as encostas da serra albergam a povoação de Caldas de Aregos e outros lugares, muitos deles de moradias isoladas.
Os dias aqui são longos e silenciosos apenas interrompidos pelas visitas da gata Douro, qual floco de neve deambulando apaixonada pelo espaço que a envolve e deliciando-se com os mimos das maõs que lhe aconchegam o pêlo. Passear a pé é uma opção para poder apreciar os recantos que o rio vai fazendo. Falar com as gentes locais é um prazer e um privilégio que vale a pena apreciar. O discurso é calmo e a simpatia e a prestação abundam como forma natural e tónica que não se dispensa em qualquer contacto. Para os mais audazes, conduzir até à estação de Mosteirô pode seu uma má experiência, pois o percurso é elevado e acidentado com curvas apertadas, mas é uma experiência que vale a pena tentar, pela viagem que nos espera no comboio local até à Régua. São cerca de 40 min de contacto estreito com o rio, que vai revelando os seus segredos concretos e escondidos pelas curvas do relevo, magnífico! A Régua uma cidade aberta para o rio. As margens apenas separadas pelo rio, são cúmplices de beleza e de tentações que importam descobrir. Quintas e adegas espalham-se pelos socalcos das encostas das serras. Por aqui e por ali pequenos hotéis trazem o conforto aos que visitam esta bela região. O comércio por estes lados ainda é muito tradicional. É simpático entrar numa loja e ter toda a atenção só para nós, com um cumprimento afável que permite uma transacção comercial ligeira e cheia de encanto. Comer por aqui pode tornar-se numa tarefa difícil tal é a abundância e as escolhas. Nós tornamos esta tarefa mais fácil pois aproveitamos as sugestões do inseparável Lifecooler que nesta cidade nos indica dois locais a não perder. Como só tivemos tempo para uma refeição optámos pelo restaurante CP – Castas e Pratos, nascido de um armazém antigo da CP local. A experiência não poderia ter sido melhor. Por fora a arquitectura do armazém foi mantido e quando se avista o espaço e mesmo quando se entra nele, temos a sensação de que nos estamos a dirigir a um local para ir levantar uma bagagem. Tem rampas de acesso que nos levam à entrada. A partir daí é deixar os sentidos trabalharem e apreciarem o meio que nos envolve. O espaço presenteia-nos logo na entrada com um lindíssimo Wine Shop com uma garrafeira invejável. O centro é preenchido com uma mas longa e alta ladeada de bancos de couro onde se pode simplesmente tomar um copo. O restaurante fica no piso de cima mas não acompanha todo o comprimento do armazém. É como se fosse uma mezanine que divide o pé alto do barracão em res-do-chão e primeiro andar. Lá de cima, suspensos do ar, temos um varandim que nos permite visualizar o espaço inferior. O tecto é todo ele decorado com barrotes de madeira tratada de onde se suspendem grande candeeiros que dão um toque de conforto e luminosidade àquele espaço intimista. As nossas escolhas recaíram sobre espiral de polvo grelhado com batatas e grelos salteados e posta sobre torradinha de azeite também com batatas grelhadas e grelos salteados em azeite e alho. As sobremesas foram escolhidas de uma carta recheada de pequenas delícias. O semi-frio de vinho do porto com gelado e chocolate e os tiramisú com gelado de maracujá e molho de açafrão pareceram-nos as escolhas acertadas. Para acompanhamento solicitámos uma sugestão do funcionário para a escolha de um porto adequado. O Tawni Borges Soalheira 10 anos casou com aqueles doces de uma forma que o estômago agradeceu e a alma guardou para o resto das nossas vidas.